Os Melhores de 2021 — Colaboradores

Os melhores álbuns lançados em 2021 de acordo com nosso time de colaboradores

André Salles
You! Me! Dancing!
8 min readDec 23, 2021

--

10 Juçara Marçal — Delta Estácio Blues

Em seu novo disco solo de estúdio, Juçara Marçal passeia por uma miríade de estilos e influências, exibindo uma avalanche criativa que toma de assalto o ouvinte e não larga até o fim de seus quase 39 minutos de reprodução. Seja com os violões teatrais e grandiosos e o bumbo compassado da épica, quase apocalíptica, “Vi De Relance A Coroa”, com baixo envolvente e os metais que serpenteiam entre os sintetizadores de “Sem Cais”, ou com o arranjo de percussão e saxofone que mescla música étnica e jazz de “Iyalode Mbé Mbé”, o que Juçara apresenta nunca cessa de surpreender, perturbar, subverter e desafiar, conduzindo cada faixa com a força de uma performance vocal que exige a atenção total do ouvinte. Nenhum ano está completo sem ter passado por esse disco [texto escrito por Guilherme Vasconcellos].

OUÇA: “Vi De Relance A Coroa”, “Sem Cais” e “Iyalode Mbé Mbé”

09 Black Country, New Road — For the first time

Você pode puxar influências em várias partes de For the first time, do Black Country, New Road, mas não dá pra dizer que nada parece com o que o septeto faz. É uma mistura que pega do post punk, no wave, post rock e até de música tradicional judaica (klezmer), que se transforma em algo novo pela intensidade das performances e pela grandiosidade que a banda consegue passar em seus arranjos. As canções, quase todas com mais de cinco minutos de duração, são retratos de uma juventude ansiosa e insatisfeita com a “vida pós-moderna”, e não se acanham no quesito de imprevisibilidade, com vocais catárticos e uma tensão única, que só o Black Country, New Road consegue fazer [texto escrito por Victor Silveira].

OUÇA: “Athens, France”, “Sunglasses” e “Opus”

08 WILLOW — lately I feel EVERYTHING

Nostálgico e um banho na alma. WILLOW é uma artista em constante transformação, não existem incertezas ou riscos em seus trabalhos. Sua metamorfose aos olhos de todo o mundo é algo incrível de se acompanhar. Musicalmente isso é nítido dado aos dois últimos álbuns quando colocados em vis-à-vis. lately I feel EVERYTHING é um trabalho incrível, com participações mais que bem acertadas. Agressivo e sentimental na medida certa. Com sua roupagem punk-rock ou com um pouquinho de synthpop, aqui e ali. E um álbum perfeito para um sábado de faxina ou uma viagem. lately I feel EVERYTHING é o carimbo de que WILLOW está só começando e ainda tem muito para mostrar, muito a se desenvolver e impressionar. Voz e talento é o que não falta no seu metiê. E aqui ficamos ansiosos para saber o que mais ela vai aprontar [texto escrito por Gustavo Menezes].

OUÇA: “t r a n s p a r e n t s o u l”, “Lipstick”, “G R O W” e “XTRA”

07 Lingua Ignota — SINNER GET READY

Conhecida por um catálogo musical que poderia ser descrito como um hinário de vocais e arranjos abrasivos que lidavam com os traumas de relacionamentos abusivos, a cantautora estadunidense Kristin Hayter continuou demonstrando em 2021 a força e a capacidade de renovação do seu trabalho. Lançado em agosto, SINNER GET READY é um de seus trabalhos mais acessíveis até o momento, ao apresentar uma interpretação um tanto mais contida que trabalhos como CALIGULA (2019) e ALL BITCHES DIE (2017). Mas nem por isso o caráter impactante some — ao contrário. Diante da barbárie no âmbito pessoal (os abusos perpetrados por Alexis Marshall, do grupo de noise rock Daughters, denunciados com muita coragem pela própria Kristin nos últimos meses) e da hecatombe causada pela pandemia, a artista mergulhou na religiosidade dos montes Apalaches para canalizar um discurso entre o contemplativo e o desolador. O resultado são nove lúgubres canções com uma instrumentação orgânica de banjos, dulcimers e outras cordas, pano de fundo para o habitual peso nos temas: sacrifício, negacionismos e a linha tênue entre danação e redenção. Um disco denso, como o coração humano — unbearable to hold — mas totalmente recompensador [texto escrito por Giovanni Vellozo].

OUÇA: “I WHO BEND THE TALL GRASSES”, “PENNSYLVANIA FURNACE”, “MAN IS LIKE A SPRING FLOWER” e “THE SOLITARY BRETHREN OF EPHRATA”

06 Kanye West — Donda

Todo álbum do Kanye West tem algo muito particular, que o distingue não só dos outros de sua discografia, como de todos os outros do hip hop em geral. Nos últimos anos, essa distinção pode até não ter vindo de forma muito positiva, mas é inegável que quando você escuta um projeto dele, alguma coisa de diferente do que está sendo feito no gênero vai acontecer. E nesse sentido, a tendência dos últimos álbuns tem sido de que tudo fica cada vez mais caótico, seja no rollout desses projetos ou na sonoridade em si, e Donda é a epítome disso (…) Leia nossa resenha completa escrita por Victor Silveira clicando aqui.

OUÇA: “Jesus Lord”, “Pure Souls” e “Off The Grid”

05 Arlo Parks — Collapsed In Sunbeams

Poesia do início ao fim: este é o Collapsed In Sunbeams, disco de estreia de Arlo Parks. Tanto que a primeira faixa traz um poema, homônimo, declamado pela cantora-compositora, que desenha o imaginário do disco. A poética de suas letras vem de um lugar de vulnerabilidade e retrata sentimentos e dores de uma forma muito bonita e particular — o que torna fácil de se identificar. As canções pop com gostinho de indie e R&B grudam no ouvido feito chiclete, especialmente “Hurt”, “Hope” e o single “Eugene”. E se eu tivesse de resumir tudo isso numa frase, acredito que seria ‘making rainbows out of something painful’, de “Portra 400”, que encerra o álbum e já deixa com vontade de ouvir tudo outra vez. E se tu ainda não conhece Arlo Parks — que acabou sendo uma das artistas mais importantes de 2021 — , abre um espacinho no teu coração e dê uma chance para ela te conquistar [texto escrito por Jennifer Baptista].

OUÇA: “Hurt”, “Hope” e “Black Dog”

04 Caetano Veloso — Meu Coco

Em um ano em que grandes nomes da MPB lançaram discos inéditos, Caetano Veloso se destacou com seu incrível novo trabalho. Meu Coco é um disco de homenagens e de críticas extremamente alinhado com o período que atravessamos. Neste trabalho, digno de figurar entre os melhores de sua discografia, Caetano mira sua metralhadora de críticas sociopolíticas e acerta com maestria diversos alvos, estejam eles no peito do nosso comportamento ou no peito de quem usa faixa presidencial e sua corja. Mas nem só de críticas vive Meu Coco. Misturando vários ritmos brasileiros, com destaque para o samba e a percussão marcada do axé, o toque único de seu violão e alguma orquestração, Caetano saúda sua família e reverencia nossa música. Apesar de tantas homenagens, Meu Coco é mesmo um disco do agora, ácido e direto como o momento pede. Não há outro artista que conheça tanto do Brasil, escreva com tanta riqueza, delicadeza e sagacidade e trate tão bem a língua portuguesa e nosso povo [texto escrito por Angelo Fadini].

OUÇA: “Meu Coco”, “Anjos Tronchos” e “Autoacalanto”

03 Pabllo Vittar — Batidão Tropical

Com certeza um dos nomes mais comentados de 2021 foi o de Pabllo Vittar. A artista lançou seu quarto disco, Batidão Tropical, recheado de versões do forró e do tecnobrega, como “Bang Bang” e “Zap Zum” (um hino nas Olimpíadas 2020, representado pela figura de Douglas Souza). Além desses clássicos, Vittar hitou com “Ama Sofre Chora” e representou o sentimento de quase todo jovem brasileiro nesses dois anos de pandemia: “Triste Com T”. Com Batidão Tropical, Pabllo Vittar se mostrou uma cantora e performer afiada e um dos maiores nomes pop do Brasil. Desde já, estamos muito ansiosos pra ver o show na posse do Lula! [texto escrito por Bárbarah Alves].

OUÇA: “Triste Com T”, “Zap Zum” e “Bang Bang”

02 DUDA BEAT — Te Amo Lá Fora

O segundo álbum de estúdio da artista pernambucana foi o disco nacional mais citado por nossos colaboradores, garantindo assim a medalha de prata no podium do YMD. Trabalho mais maduro e plural, o sucessor de Sinto Muito (2018) soa mais pop e tornou DUDA BEAT uma das mulheres de maior destaque em 2021, seja estampando capas de revistas, campanhas publicitárias ou figurando em premiações. Enquanto a sonoridade de Te Amo Lá Fora transita por uma miscelânea de ritmos (electropop, soft-rock, nova MPB, reggae, etc), a temática versa sobre o [des]amor (ah, vá?!) de forma poética e irônica, com um viés de aprendizado e recomeço. Hits (e videoclipes) como “Meu Pisêro” e “Nem Um Pouquinho” (parceria com o músico baiano Trevo) celebram a ótima fase da cantora que já anunciou a turnê do álbum. Os “bixinhos” agradecem [texto escrito por Larissa Mendes].

OUÇA: “Meu Pisêro”, “Tu E Eu” e “Game”

01 black midi — Cavalcade

Se em Schlagenheim, debut dos britânicos do black midi, eles mostraram o quão imprevisível a banda poderia ser, Cavalcade eleva essa característica à máxima potência. É uma jornada cinematográfica e progressiva, em que você nunca sabe qual é o próximo “plot twist”, em viradas de tempo, melodias e instrumentos que podem parecer um caos, mas são milimetricamente pensados e executados. E apesar de ser extremamente agressivo em partes, mostra a versatilidade da banda, que alterna entre momentos que podem causar uma crise de ansiedade aos desavisados, e outros tão tranquilos que você não diria que é black midi se não te avisassem. E nesse sentido, não existe nenhum outro álbum em 2021 que te leve para uma montanha russa tão surrealista e caleidoscópica quanto Cavalcade [texto escrito por Victor Silveira].

OUÇA: “Slow”, “John L” e “Chondromalacia Patella”

--

--