O PT criou Bolsonaro, parte 3

A dominação econômica

Ariel Paiva
A Dissidência
8 min readOct 20, 2018

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>>> O PT criou Bolsonaro, parte 1: A ESTRELA VERMELHA

>>> O PT criou Bolsonaro, parte 2: A DOMINAÇÃO POLÍTICA

A DOMINAÇÃO ECONÔMICA

“Há uma emenda […] que possibilita um acordo: concede alguma coisa aos trabalhadores e não tudo ao capital. Este é o nosso objetivo.” — José Genoíno na constituinte, 1988.

O crédito fácil transformou diversos governantes e políticos em “mitos”. Aqueles que vieram posteriormente foram demonizados. O primeiro faz as compras e o segundo é obrigado a pagar. O Brasil vive esse processo desde 1950: Juscelino Kubitschek comprou, Jânio/Jango não quiseram pagar e quem acabou levando a conta foi a democracia — somente após 1964 o ajuste começou. Em 70, Médici e Geisel compraram para Figueiredo pagar, junto com o fim da ditadura, uma cobrança que só seria completamente quitada em 1994. De 2002 até 2014, o PT se esbaldou nas compras e deixou no colo de Michel Temer e do futuro presidente essas contas a serem pagas.

Contar essa história em termos de política é simples, deslocando a história econômica do Brasil do seu ator principal: as pessoas. O brasileiro se divertiu nas compras e sofreu para pagar, ficando à mercê da boa vontade dos estaditas para colocarem as contas do governo nos eixos. Protestou em 1964, prostestou em 1985 e em 2013. O país não quer pagar pelos desmandos do Estado e no mandato do Partido dos Trabalhadores a história se repetiu. A diferença? A desonestidade praticada pelo partido.

A história de como Lula e Dilma destruíram as contas públicas está contada abaixo.

Fome Zero e Bolsa Família

A miséria no Brasil é um problema grave. O governo sempre amassou o mercado e a livre iniciativa, os únicos capazes de gerar riqueza, reprimindo-os com regulações, expropriações, favorecimentos e carga tributária. Evidente que com o cenário construído dessa forma, a desiguldade, saudável a qualquer território capitalista, torna-se centro das discussões, afinal não é oriunda do valor, mérito ou esforço, dependendo do nome que se dá a isso, mas de Quem Indica, networking ou outros favores ainda menos honrosos.

Desde a redemocratização os governos foram, em suma, esquerdistas. E para honrar minimamente com seus discursos de campanha, deram aos miseráveis uma miséria, já de olho no ganho eleitoral que isso teria — ou, como diz Lula, dominar essa população necessitada.

“[…] e lamentavelmente você tem uma parte da sociedade que pelo alto grau de empobrecimento ela é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica, é por isso que se distribui tanto ticket de leite. Porque isso, na verdade, é uma moeda de troca em época de eleição. […] Você trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou o índio quando chegou no Brasil. […] Você tem como lógica manter a política de dominação que é secular no Brasil.” — Lula em campanha contra o governo FHC, 2000.

O governo de Fernando Henrique Cardoso, ao vencer a inflação espacial que estava montada no Brasil desde a ditadura, pôde, finalmente, fazer aquilo que os govenos sociais-democratas ou esquerdistas se orgulham: distribuição de renda. Você pode acreditar que é por bom coração, boas intenções ou espírito messiânico, mas precisa manter a mesma lógica quando o tópico sobre o BNDES chegar. O fato é: FHC criou o Bolsa Gás, Bolsa Escola e Bolsa Alimentação, todos membros da Rede de Proteção Social, braço redistributivo do governo tucano. Alguns anos depois, estes seriam aglutinados em um único programa: o Bolsa Família.

O BF é uma política de transferência de renda com contrapartidas, sendo elas a presença das crianças na escola, o acompanhamento médico de gestantes e a vacinação em dia. O teto pago às famílias é de duzentos e cinco reais e o programa custa cerca de meio por cento do PIB (trinta bilhões de reais), atendendo perto de quarenta e sete milhões de pessoas.

O programa petista para o tema sempre foi o “Fome Zero”. A ideia era fazer parcerias com o setor alimentício e distribuir comida, além de reunir outros diversos programas do governo federal para o combate à fome e à miséria na nação. Deu errado, e a saída foi fazer exatamente o que o Lula criticou na citação acima: reformular os programas que ele criticou, da era FHC, e transformá-lo numa política pública viável. O Fome Zero virou discurso político.

O sucesso midiático foi retumbante: o Brasil virou exemplo mundial de combate à extrema pobreza e muito se atribuiu às políticas petistas. Em verdade todo o planeta tem, constantemente e há duzentos anos, a miséria reduzida.

Ainda mais fascinante é o desempenho eleitoral. Mesmo em 2018 em eleições com o antipetismo na sua alta histórica, os redutos mais beneficiados pelo BF são fiéis ao PT e com razão. Resta a pergunta: é ético tomar posse da mente humana, ameaçando a população com a falta de comida e se colocando como o único salvadore? A Marina Silva dirá que é criminoso.

Programa de Aceleração de Crescimento

Além de conquistar o setor mais vulnerável da população, era necessário agradar o setor de infraestrutura e o exército, duas partes importantíssimas a quem almeja governar o Brasil. Por isso, incumbida da tarefa, a “tecnocrata” Dilma Rousseff.

Além de realizar diversas obras pelo país e diminuir a poupança governamental, o PAC foi uma das vitrines que a futura presidenta precisava para subir ao mais alto cargo do executivo. Acomodou empreiteras, generais e militares e serviu para o marketing político.

Obviamente o plano deu errado. O Custo Brasil continua imenso porque o Estado-empresário não tem capacidade de gestão. O dinheiro foi pouco e mal investido, as obras não começaram ou não terminaram e ainda deu espaço para o famigerado caixa 2. A propaganda ficou linda, a realidade, pelo menos para a maioria da população, nem tanto.

Imposto sobre o Produto Industrializado

Enfrentando a crise de 2008, o presidente Lula já assessorado pelo fiel escudeiro e copiloto da decorrada econômica brasileira, Guido Mantega, escolheu a saída keynesiana para o Brasil: estimular a economia. É a época da marolinha, lembra?

Em momento complicado para as economias desenvolvidas e, por consequência, para toda o planeta, o Brasil se beneficiou de uma tsunami: a China. Os preços das commodities, principais produtos da exportação brasileira, foram alavancados ao infinito e a nação surfou nessa onda.

Com medo de uma retração da economia, da desconfiança do consumidor e, principalmente, com uma eleição à vista, Lula fez o impensável: baixou impostos, principalmente sobre os carros, grandes lobbystas no Brasil e sobre os eletrodomésticos — a famosa linha branca. Tudo isso para incentivar o consumo das famílias, uma das variáveis do Produto Interno Bruto.

Lula e sua marolinha (Charge: O Estado S. Paulo)

Deu certo? Depende. O filho da empregada comprou uma moto, o Brasil vendeu carro como nunca, todo mundo reformou a cozinha e a lavanderia, o PIB explodiu em 2010 e Dilma foi eleita de forma razoavelmente tranquila naquele ano.

Até hoje tem quem se lembre da época com nostalgia. Tem também quem não conseguiu pagar as contas até hoje, assim como o governo. Além de todo o desarranjo criado pelo Estado na economia, gerando mais uma crise. Valeu a pena?

Minha Casa, Minha Vida

A casa própria é o sonho de todo brasileiro, assim como o é em diversos países. E o governo não quer parar de “realizar sonhos”. O crédito fácil para a compra de imóveis e o incentivo ao setor imobiliário ganhou nome em 2009: Minha Casa, Minha Vida, ou simplesmente MCMV.

O programa é simples: quer construir casas, prédios ou barracos? Dinheiro em dobro. Quer comprar casa, apartamento ou barraco? Dinheiro em dobro. Isso, obviamente, gerou mais um desarranjo na economia, mas o governo fez propaganda dos ganhos através da ilusão da casa própria. O importante era “girar a economia”.

Construtoras laranjas, bolha imobiliária — Rio de Janeiro viu seu m² chegar a dez mil reais — , conjuntos habitacionais sem sentido algum e inadimplência. O povo teve casa, sim, mas de péssima qualidade, em lugares distantes e muitas vezes não conseguiu pagar essa moradia.

Resultado? O aluguel caríssimo, problemas judiciais a ver navios e crise no setor. Porém o PT criou mais uma cláusula pétra no imaginário brasileiro: Além do Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida é mais um programa “imparável” para um presidente.

Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, Programa Universidade para Todos e o Ciência Sem Fronteiras

Se o povo tem casa, comida e roupa lavada, pode ir para a universidade. E lá estão os petistas novamente, mostrando-se como o pai que paga a faculdade do filho.

O FIES e o ProUni estão juntos em uma tarefa difícil para qualquer país: transformar seus cidadãos em capital humano avançado. Para isso, segundo o senso comum, é necessário ir à faculdade e fazer o hat-trick, graduação, mestrado e doutorado. Se necessário, pode fazer um semestre ou dois fora do país com tudo pago.

O FIES é um programa de empréstimo estudantil. O interessado pode requisitar aos bancos públicos que realizem esse investimento na sua educação, possibilitando a entrada em uma faculdade particular. A contrapartida é o pagamento dessa quantia no futuro, depois do diploma entregue, com juros quase zero. No Prouni, o governo banca do início ao fim, parcial ou integralmente, o estudo do interessado. O CsF é um programa de bolsas para estudantes que desejam realizar períodos de seus cursos fora do país.

Há muito o governo federal, até por conta do pacto federativo, que divide as responsabilidade do ensino entre município, Estado e União, abandonou a educação básica. As crianças vão aos trancos e barrancos nas escolas públicas até a faculdade, onde muitas vezes precisam aprender matemática e português antes das matérias do curso escolhido.

Ignorando esse fato e pensando a curto prazo, devido ao déficit de mão de obra qualificada que existe no Brasil, transformou o ensino superior uma realidade para qualquer um. Aqueles que queriam, quem estava inclinado a fazê-lo, quem já tem uma faculdade e quem nunca pensou em entrar em uma.

Apesar de não parecer, os programas também são transferências de renda, mas para as pessoas de classe média/alta. Ainda há muita gente que não sonha com o diploma — cerca de 15% dos brasileiros têm curso superior — e, querendo ou não, gostando ou não, está pagando pela faculdade dos outros.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Por fim, o golpe final, o aclamado BNDES. Principal linha de crédito do governo federal para os amigos do rei, o Banco nasceu com Getúlio e tinha o mesmo objetivo que tem hoje: promover a indústria nacional e as empresas brasileiras.

O Bolsa-Empresário, como ficou conhecido o BNDES, desandou de vez quando Luciano Coutinho lançou o programa “Campeões Nacionais”. Foi nesse momento que a JBS, a Odebrecht e o Eike Batista viram no banco federal uma maneira de enriquecerem de forma fácil. Além do lobby já realizado pelo governo brasileiro, o BNDES abriu linhas de crédito subsidiado para essas empresas selecionadas. Como não existe almoço grátis, quem pagou esses empréstimos foram os brasileiros.

Além do desvio de recursos, das escolhas polêmicas para os tais campões nacionais e do desrespeito ao indíviduo que foi obrigado a pagar pelos calotes, o dinheiro não vai voltar. Diversos países já anunciaram o calote bilionário aos cofres públicos, inclusive aqueles alinhados ideologicamente com o Partido dos Trabalhadores.

O brasileiro pagou mais de um trilhão pela política de cartel do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. A eleição atual deveria ser um velório, mas o assunto é completamente ignorado, afinal economia não dá voto, o que chama atenção mesmo é a cultura.

>> Capítulo 4: A DOMINAÇÃO CULTURAL

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Ariel Paiva
A Dissidência

Senior administrative on VC-X Solutions. Addicted to podcasts and strategy games.