Quais as diferenças entre modelo e proposta de jogo?

Caio Gondo
6 min readMay 10, 2016

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Além dos aspectos táticos de determinadas fases do jogo com a bola rolando, há aspectos dos quais englobam mais de uma fase de jogo, como a intensidade que foi vista em um dos textos anteriores (perdeu? Veja ele aqui). Além da intensidade, há um termo do tatiquês o qual envolve mais de uma fase de jogo, que tem sido falado cada vez mais ultimamente, que é o modelo de jogo. Afinal, o que seria esse modelo jogo de uma equipe? Ele é diferente de proposta de jogo?

Como representar o modelo de jogo em setas e botões em uma prancheta como essa? Seria o modelo de jogo algo representável tão facilmente assim?

Antes de mostrar o que é um modelo de jogo, uma rápida passagem pelas quatro fases de jogo com a bola rolando é necessária para ter uma maior compreensão do que seria realmente um modelo de jogo.

As quatro fases de jogo com a bola rolando

Para quem me acompanha há algum tempo, já notou de que no jogo de futebol há quatro fases de jogo com a bola rolando e de que elas se conectam formando um ciclo. Sim, elas formam um ciclo, pois quando uma termina, a outra começa. Assim sendo, o fim de uma fase de jogo está diretamente relacionado com o começo da fase seguinte, pois as quatro fases formam um ciclo!

Eis as quatro fases de jogo. Ao formar um ciclo, uma fase influencia diretamente na fase seguinte.

Por termos a consciência de que as quatro fases de jogo formam um ciclo, haver um conjunto de ideias como fonte de absorção de ações conjuntas e tomadas de decisões de cada jogador, se faz necessária no futebol atual. E o modelo de jogo é justamente isso: a unidade de ideias que gera o ciclo que a equipe faz nas quatro fases de jogo com a bola rolando.

No modelo de jogo está embutido o que o jogador e a equipe faz nas quatro fases de jogo com a bola rolando e a ideia que guia essas fases.

Modelo de jogo

Por ser um conjunto de ideias, não tem como transformar o modelo de jogo em uma só prancheta tática (respondendo a pergunta da primeira imagem do texto). Já que o modelo de jogo está no campo abstrato das ideias. Assim sendo, o modelo de jogo é a ideia que sobressaía do time no ciclo das quatro fases de jogo com a bola rolando. É o que é predominante.

O Barcelona, principalmente a equipe de Guardiola (que é a do frame acima), se destaca pela busca da posse da bola. Desse modo, o modelo de jogo do Barcelona é a posse da bola.

Entretanto o modelo de jogo não é só a ideia que sobressaia, mas, também, o como, as maneiras e os meios como a ideia predominante é buscada e realizada. Para facilitar a compreensão, voltarei a utilizar do Barcelona como exemplo.

O Barcelona tem em sua essência do clube a posse da bola (eis a ideia predominante). Para conseguir essa posse da bola, o time rapidamente pressiona o adversário logo após da perda dela e, para mantê-la, o time realiza triângulos de passes para o portador da bola, movimentações no espaço vazio, ultrapassagens, opção (ões) de retorno, amplitude, profundidade, jogo na(s) entrelinha(s) adversária (eis as maneiras para que o modelo de jogo seja atingido!) e entre outros. Viu como a ideia do ciclo das fases de jogo guia a maneira como a equipe e cada jogador reagem nelas? Isso é modelo de jogo.

Umas das situações táticas que é utilizada com grande maestria até hoje no Barcelona é a exploração da entrelinha adversária. Veja onde está Messi em relação às linhas do meio-de-campo e defensiva do Real Madrid. Esse é um dos aspectos para a manutenção do seu modelo de jogo.

Mas como fazer com que os jogadores realizem os aspectos de jogo que formam o modelo de jogo da equipe? Através do treinamento.

A maneira para se alcançar o modelo de jogo

Assim como foi no caso da publicação sobre a intensidade (se você perdeu ela, clique aqui!), o modelo de jogo também é buscado mais através do treinamento, já que um time deveria passar mais tempo treinando do que jogando (não é mesmo calendário brasileiro?). Mas não pode ser um treinamento driblando cone ou finalizando ao gol após receber a bola após partir de uma fila, mas, sim, através de um treinamento com oposição, intensidade e com objetivos que busquem algum aspecto que faça parte do modelo de jogo da equipe, ou seja, um treinamento induzido.

Treinamento induzido? Humm, acho que sei o que é.

Não foi só você que pensou o que estava escrito na legenda da foto acima. Muitas pessoas leigas ou até profissionais do futebol também pensam assim. Mas será que sabem mesmo?

No treinamento induzido, há oposição, intensidade e um objetivo que formará o modelo de jogo da equipe. Desse modo, temos que deve estar claro na cabeça do técnico qual vai ser o modelo de jogo da equipe para que, então, forme os seus treinos e busque cada aspecto tático que formará o tal modelo. Além disso, oposição e a intensidade devem estar presentes também. Ou seja, uma atividade na qual seja o mais próximo possível da realidade do jogo onde tenha adversário, intensidade e a busca da aplicação do seu modelo de jogo.

Por buscar situações mais próximas possíveis da realidade do jogo, atualmente, cada vez mais profissionais do futebol aplicam menos treinos driblando cones (há cones no jogo?), com filas enormes (há filas no jogo?) e “rachões” (com o ambiente amistoso e sem ou pouca intensidade), pois eles fogem do que é o jogo em si e, assim, fugindo da busca do modelo de jogo da equipe.

Para facilitar novamente o que seria uma atividade em um treino de futebol atualmente, coloco abaixo um vídeo do sub-11 do São José Esporte Clube de 2013, clube o qual busca o mesmo modelo de jogo do Barcelona: a posse da bola. Veja como é uma atividade do treino desse clube:

Por ter o objetivo da formação de triângulo, nenhum jogador pode ocupar o mesmo espaço tendo a posse da bola. Isso não cria a intenção de movimentação e projeção no espaço vazio? Situações que formam o modelo de jogo (fonte: canal jogos condicionantes).

Agora que o modelo de jogo está bem claro, quais são as suas diferenças em relação a proposta de jogo de uma equipe?

Modelo de jogo x proposta de jogo

Assim como foi visto, o modelo de jogo é a ideia que sobressaía do ciclo das quatro fases de jogo e que é formado por aspectos táticos que convergem para a unidade do modelo de jogo. Já a proposta de jogo é o que o time se propõe a fazer em campo (jura que a proposta é o que o time propõe?). Devido a isso, na proposta de jogo não está embutido o como ela é buscada, mas, sim, somente o que a equipe procurou fazer na partida.

Como a proposta de jogo é somente uma indicação do que é buscada, ela pode ser propositiva (quando o time propõe o jogo e dita o ritmo da partida), reativa (quando a equipe se encolhe para jogar no contra-ataque) ou equilibrada (que é forma mais buscada atualmente).

Como um dos exemplos recente de proposta de jogo propositva é o PSG no Campeonato Francês: o time propõe o jogo e dita o ritmo da partida.
Um dos exemplos recentes de jogo reativo é o Leisceter em suas partidas: a equipe se encolhe para jogar no contra-ataque.
E um dos exemplos recentes de jogo equilibrado foi o Real Madrid de Carlo Ancelotti: propõe o jogo quando dá e encolhe quando necessário.

Como a proposta de jogo está vinculada com o que o time fez no jogo, não necessariamente ela está ligada ao modelo de jogo da equipe. Já que em uma partida, um time pode ter um modelo de jogo, mas devido às circunstâncias do jogo (jogo fora, jogador a menos, vantagem no placar, desvantagem no placar, clima e etc), teve que aplicar uma proposta de jogo a qual não está habituado a fazer.

Como leitura complementar a essa publicação, sugiro este artigo (o link está na palavra “artigo”. É só clicar nela!) de Rodrigo Bellão sobre o modelo de jogo, pois nele há pontos de vista desse profissional do esporte que, também, influenciam na composição do modelo de jogo. Vale a leitura!

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo