A inteligência artificial e o novo papel do designer na sociedade em rede. (Parte 4 de 4)

Bruno Lorenz
3 min readJan 3, 2019

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por Bruno Lorenz e Carlo Franzato

Essa é a quarta e última parte de um artigo que busca refletir sobre o impacto da Inteligência Artificial no processo de design. Você pode ler a introdução sobre o assunto clicando aqui, e a parte anterior do ensaio, clicando aqui.

Tomar o transitório como norma é uma atitude que faz todo sentido dentro das dinâmicas que se apresentam no paradigma da sociedade em rede. Ao considerar os exemplos discutidos nos textos anteriores, podemos retomar a definição da atividade de design discutida na parte dois e sugerir que a máquina protagoniza um papel que não se resume mais ao simples apoio ao indivíduo que projeta, mas que se manifesta agora nas etapas de geração de alternativas, a partir da enorme base de dados acumulada pelo algoritmo. Mesmo considerando que tais códigos foram modelados por programadores de carne e osso, abrem-se aí caminhos para uma mudança radical na forma como designers devem encarar a atividade projetual, olvidando, assim, a premissa de que essa é uma dinâmica sob domínio exclusivo do ser humano.

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A inteligência artificial sinaliza, a cada novo avanço, seu potencial para competir com o designer em etapas generativas, a partir do momento que aprimora sua capacidade de armazenar e sintetizar dados em velocidade e quantidades inimagináveis para qualquer indivíduo. Ao considerar a proposta de Artificium, nada impede que o algoritmo utilizado em The Next Rembrandt armazene não apenas as obras de Rembrandt, mas de outros gênios da arte como Leonardo da Vinci e Picasso (ou de Stefan Sagmeister, Jessica Walsh e Paula Scher, para ficar no âmbito do design), e crie uma nova obra a partir da análise e síntese de todas os metadados contidos nos trabalhos desses artistas, revelando um sugestivo — e assombroso — exercício de simulação de subjetividade humana. Ora: nada pode ser mais característico da sociedade em rede quanto interfaces que se retroalimentam constantemente de todos conhecimento disponível para gerar ainda mais conhecimento.

Esse movimento, no entanto, é limitado a tarefas e problemas muito bem definidos. Algoritmos não são capazes de responder sozinhos a toda complexidade inerente dos problemas capciosos, característicos da sociedade contemporânea — resolvendo o problema da fome, por exemplo. É nesse sentido que o co-design e a democratização de inovações se apresentam como iniciativas importantes, visto que o enfrentamento dos problemas sociais, políticos e ambientais pode ocorrer somente por meio de propostas reflexivas, ambíguas e contingentes — qualidades, por hora, ausentes no silício, mas abundantes no espírito humano.

É função do designer, portanto, aproveitar-se dos interstícios que florescem nas interações incessantes entre interfaces e os indivíduos presentes na rede, dando sentido e ressignificando a massa de informações captadas e armazenadas a todo momento. Desse modo, o designer não será expurgado do processo de projeto. O que se altera é o seu papel nesse contexto: passa não mais a ser um executor, mas sim um agente facilitador de processos para que os indivíduos se libertem e possam projetar e criar sua própria realidade, facilitando, assim, a emergência inspiradora da inteligência coletiva.

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Bruno Lorenz

Designer, Mestre em Design Estratégico e entusiasta de futuros possíveis.