#ILA19MED - dia 01: o propósito do Design hoje

Jeancarlo Cerasoli
4 min readNov 1, 2019

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Qual ainda pode ser a contribuição do bom e velho Design de Interação no contexto atual de contínua especialização, profissionalização, amadurecimento e valorização deste mercado?

Palco principal do ILA 19 Medellín

Numa leitura bastante pessoal (e "à quente!"), este foi o principal questionamento proposto no dia 01 do ILA – Interaction Latin America – a principal conferência de Experiência do Usuário da região, realizada há 10 anos pela IxDA, desta vez em Medellín, Colômbia (primeira edição acima da linha do Equador). Veja também meus relatos sobre os dias 02 e 03 do evento.

Aliás, incrível pensar que nos dias de hoje, cada vez mais impessoais e menos altruístas, ainda seja possível acontecer um evento como este, "da comunidade e para a comunidade", totalmente baseado no voluntariado de profissionais do Design que doam parte de seus esforços e tempo apenas para a troca de experiências, estreitamento de amizades e evolução da disciplina/comunidade.

Não deixa de ser sintomático que, num momento histórico de divergências que se aprofundam, o grande tema do ILA 2019 seja justamente "a Convergência como ponto no qual as geografias, pessoas, culturas, tecnologias e ideologias se encontram e, combinadas, evoluem".

Importância de Estruturar

E a grande convergência neste primeiro dia do evento foi lembrar que o Design ainda pode contribuir com o que ele tem de mais básico: definir o propósito das interações humanas e auxiliar para estruturá-las para atingir este norte.

Parece óbvio, mas até mesmo os profissionais do Design vem se afastando e se esquecendo de seu propósito inicial, mergulhados no dia a dia de discussões, pesquisas e entregas cada vez mais abrangentes e complexas, que acabam reduzindo ou mesmo eliminando o tempo necessário para a reflexão, avaliação de rumos, definição (ou redefinição) de prioridades…

Os diversos keynotes e talks que assisti neste primeiro dia do ILA 2019 tinham em comum este chamado para a reflexão e reavaliação de rumos, trazendo propostas de estruturas para se lidar com este contexto de complexidade constante sem abrir mão do cerne do Design.

Propósito do Design hoje

Esta reavaliação de rumos também pode servir como oportunidade para reconectar os designers de interação com sua missão original de tornar mais fácil a vida das pessoas, seja no âmbito de suas próprias atividades, seja no que se refere ao seu time, seja em relação à sua empresa como um todo, ou até mesmo as vidas daqueles que direta ou indiretamente eles buscam atender.

Assim sendo, por que os designers não podem contribuir para realinhar os interesses de suas empresas com os interesses de porções maiores da humanidade? Quem sabe até favorecer que empresas sejam recompensadas por efetivamente contribuir para a solução dos complexos desafios da humanidade hoje, os tais “wicked problems” que, desatendidos, estão favorecendo mais nossa extinção do que nossa evolução?

Breve resumo

Angela Guzmán ressaltou que mudar a sua forma de pensar muda a sua forma de ver o mundo. Por isso a importância de posicionar-se com confiança e convicção: "Sou designer e ponto. Nada mais precisa me qualificar." (Medium da Angela)

Donna Spencer apresentou um keynote bastante pragmático focado em como os designers deveriam apresentar seus trabalhos, enaltecendo a importância do foco em narrativa e storytelling: "People loves stories!"

Veronica Blugermann reforçou o valor estratégico de se aplicar a abordagem do Design para enfrentar os desafios contemporâneos da humanidade, como a destruição do meio ambiente, a superpopulação, o envelhecimento da população adulta, a obesidade, etc. São os tais "problemas perversos" ou "wicked problems" mencionados acima.

Jason Mesut trouxe uma provocativa apresentação sobre o uso de ferramentas de Design para aperfeiçoar a formação do próprio designer, seu time e inclusive sua liderança através da combinação e desenvolvimento de novos skills.

Entre os talks da comunidade que acompanhei, destaque para as apresentações de Alberto Zamarion sobre uma abordagem estruturada para o Design Estratégico, Murillo Bispo sobre um panorama ético da prática do Design e Seamus Byrne sobre o Design como estratégia de desenvolvimento de produto.

Sim, esta estratégia de combinar os objetivos de negócios com os interesses da humanidade parece bobo, parece grande… Mas, de repente, uma pequena comunidade de voluntários, compartilhando conhecimentos, fortalecendo gradualmente trocas e amizades, estabelecendo novas conexões e estruturas, saindo da zona de conforto em busca de convergências cada vez maiores…

Parece muito improvável?

Bom, o ILA 2019 ainda tem mais dois dias (leia os relatos dos dias 02 e 03). E pretendo dividir minhas impressões por aqui. Mas ficaria muito legal se isso se tornasse uma conversa. Que tal trazer suas contribuições?

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