Contra legislação digital europeia, Meta estuda plano de assinaturas para Facebook e Instagram, destoando do seu super modelo de monetização

Eduardo Mendes
4 min readSep 11, 2023

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Uma cópia impressa do New York Times equivale a US$ 7. Na área metropolitana de Nova York , a assinatura completa de entrega em domicílio sete dias por semana demanda US$ 845 por ano. Este é o tipo de inflação nos custos de impressão que impulsionou a bolha pontocom e o boom digital, e fez os leitores acreditarem que estavam obtendo valor na web, aparentemente gratuita. Afinal, quem pode gastar basicamente mil dólares anualmente em jornais?

A pergunta colocada por Nick Hilton no ensaio em que o empreendedor de mídia decreta o fim da era das assinaturas pode ser readaptada pelo questionamento do Chartr diante do fato de a Meta estar considerando introduzir versões pagas do Facebook e Instagram para usuários europeus: eles estariam dispostos a gastar cerca de US$ 6 por mês para ver memes, fotos de férias e manchetes de notícias?

O valor é apenas uma sugestão vislumbrada pela publicação ao repercutir a informação trazida com exclusividade pelo NY Times na última semana sobre um possível novo modelo de negócio da big tech para a Europa motivado pela Lei dos Mercados Digitais.

Contra o cerco dos legisladores europeus à publicidade direcionada e a exigência de maior transparência sobre os algoritmos, Mark Zuckerberg articula uma ofensiva, considerando o modelo de assinatura por uma experiência sem anúncios.

O formato à la Netflix revelado por três fontes conhecedoras dos planos da Meta não apresenta possíveis valores que seriam cobrados.

Atualmente, a Meta já oferece um serviço de verificação pago que permite um monitoramento mais proativo da conta por US$ 12 na web (US$ 15 no iOS).

Um serviço de assinatura significaria para a empresa afastar-se do “super eficiente e monólito de publicidade de mais de US$ 110 bilhões que está à frente de seus rivais na extração de valor dos usuários”, conforme destacou o Chartr.

Apesar de ser gratuito, o Facebook arrecada quase US$ 18 todos os meses para cada um de seus usuários nos EUA e no Canadá. Valor substancialmente maior do que os US$ 10–15 mensais pagos para acessar Netflix , Spotify ou Amazon Prime, destacou a publicação.

Na visão do Chartr, a Europa seria o lugar seguro para um eventual teste da Meta sobre o provável novo modelo de negócio: com pouco mais de 400 milhões de utilizadores ativos mensais, a região tem uma base menor de utilizadores do Facebook comparada à Ásia-Pacífico (1,35 mil milhões) e ao resto do mundo (1 mil milhões).

“Além disso, os utilizadores europeus são muito menos lucrativos do que os seus homólogos americanos, contribuindo em média com menos de um terço do que um utilizador americano típico acrescenta às receitas do Facebook”, comentou a publicação.

Nos próximos dias, trarei mais conteúdos sobre os negócios sustentados ( ou não) por assinaturas, com um recorte para mídia, streaming e creator economy. O objetivo é intensificar o debate sobre a indagação feita por Nick Hilton: como os consumidores se sentem em relação a esta dependência crescente de uma constelação atomizada de assinaturas?

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Eduardo Mendes

Advisor for Culture and Innovation | Co-Founder na The Block Point | Web3 & New Technologies | Strategy, Research & Content | Sports | Entertainment | Media