Lei de Notícias Online entra em vigor no Canadá e agrava embate com as big techs
Indústria de mídia ainda não entendeu que virada passa por minar modelo clickbait e devolver poder aos usuários
Desde 2008, 474 veículos de comunicação fecharam em 335 comunidades canadenses. Um terço dos empregos desta indústria desapareceu em todo o país entre 2010 a 2016, e a receita geral para transmissão de televisão, rádio, jornais e revistas caiu quase US$ 6 bilhões no período de 2008–2020.
Este é apenas um dos dados expostos pelas autoridades do Canadá para respaldar a Lei C-18, que torno-se vigente na última semana, agravando uma crise sem precedentes com a Meta e o Google.
Conhecida como Lei de Notícias Online, ela determina que as big techs paguem aos editores locais por trechos de notícias compartilhados ou reaproveitados em suas plataformas.
Tendo a crise global de financiamento do jornalismo como pano de fundo, o embate polariza as discussões: a garantia de uma imprensa independente e que é remunerada pelo conteúdo reproduzido nas redes sociais X o monopólio das gigantes do Vale Silício.
Em meio a troca de farpas entre os apoiadores dos legisladores canadenses e as gigantes de tecnologia, Michael Geist, presidente de pesquisa em lei de comércio eletrônico e internet na Universidade de Ottawa, coloca-se em uma posição neutra, trazendo outros argumentos que ampliam o contexto da análise para além da crise da mídia. Seguem os pontos levantados:
- As notícias não são uma parte significativa dos feeds do Facebook (a empresa diz que cerca de 3%) e são altamente substituíveis
- O Facebook corresponde entre 17% a 30% do tráfego das empresas de mídia no Canadá
- Os veículos pequenos dependem mais da mídia social para atrair leitores e estabelecer uma comunidade
- Os editores sabem o valor do Facebook, pois são eles que publicam a maioria dos links para seus próprios artigos
- A perda desses links gratuitos leva à redução do tráfego e diminuição da receita de anúncios e de assinantes
A Lei de Notícias Online não é só um afronta às big techs, mas também expõe o modelo saturado de alcance e cliques e a cultura do clickbait.
No mês passado, em mais um ataque ao Online News Act, a Meta, através de Nick Clegg, presidente de assuntos globais, disse que “o mundo está mudando constantemente e os editores precisam se adaptar.”
Realmente, as tecnologias emergentes estão provocando transformações profundas, incluindo o formato de negócio destas plataformas: no papel de intermediárias, alavancaram-se por meio dos conteúdos proprietários dos seus usuários.
Então, quem também necessita compreender a proposta da descentralização que devolve o poder aos criadores é a Meta, o Twitter…
Tenho trazido com recorrência novos fatos relacionados a este tema para alertar sobre a necessidade de uma correção de rota no momento em que a indústria de mídia está falida.
Assim como o streaming é colocado em xeque e há um movimento intenso de grandes players para uma reformulação, é imprescindível para os veículos de comunicação encontrarem seu ponto de virada. E, inevitavelmente, ele será guiado pelas premissas por trás do terceiro momento da internet.
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