1984: A Resenha

1984: Uma Resenha
7 min readOct 7, 2020

--

“O Partido lhe dizia para rejeitar as provas materiais que seus olhos e ouvidos lhe oferecessem. Essa era sua instrução final, a mais essencial de todas. O coração de Winston ficou pesado quando lhe veio ao espírito o imenso poderio reunido contra ele, a facilidade com que qualquer intelectual do Partido o derrotaria num debate, os argumentos sutis que não teria a capacidade de entender, quanto mais de contestar. E, ainda assim, a razão estava com ele. Os outros estavam errados e ele certo. O óbvio, o tolo e o verdadeiro tinham de ser defendidos. Os truísmos são verdadeiros, não se esqueça disso. O mundo sólido existe, suas leis não mudam. As pedras são duras, a água é úmida e os objetos, sem base de apoio, caem na direção do centro da Terra. Com a sensação de estar falando com O’Brien e também de expor um axioma importante, escreveu:

Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro. Se isso for admitido, tudo o mais é decorrência.

Com um pouco razoável do que George Orwell acredita ser ficção, o trecho de sua clássica obra, 1984, dá início à mídia resenha: é um texto elaborado de tal forma em que a postura crítica está presente desde a primeira a linha, resultando numa produção em que o resumo e a voz crítica das resenhistas se interpenetram. Além disso, há o uso das mídias que não o texto escrito para ser produzida e divulgada.

Para saber mais sobre George Orwell basta clicar aqui para ter acesso a sua biografia.

Introdução

A obra resenhada é um romance distópico que abrange temáticas de aventura, científica social, e, principalmente, política. Atento às injustiças sociais, Orwell dá vida ao personagem Winston, um funcionário do Ministério da Verdade que vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, e, como em uma atitude rebelde contra o Sistema, em determinados momentos ele pensa em como poderia se desvincular de sua realidade.

Publicado em 1949, o livro se trata de uma história que se passa num futuro pessimista, principalmente considerando o contexto histórico em que estava inserido quando foi escrito, a Guerra Fria. É pensando em um futuro sistema totalitarista que George Orwell busca, por meio de Winston, denunciar as mazelas de tal governo.

Sinopse de 1984

Winston, herói de “1984”, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do partido dominante em Oceania não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que ‘só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade — só o poder pelo poder, poder puro.’

Livro 1984, edição da Companhia das Letras (Foto: Divulgação/Companhia das Letras)

“As patrulhas, contudo, não eram um problema. O único problema era a Polícia das Ideias”

O Sistema em questão é o Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel. Ninguém escapava à vigilância do Grande Irmão. A teletela, a polícia, o vocabulário, as crianças e até mesmo uma vermelhidão em seu rosto seria o suficiente para fazer com que uma pessoa “evaporasse” (lê-se aprisionada pelo governo), e nunca mais fosse vista. A Polícia das Ideias era a responsável por manter esse controle e, junto com o Ministério da Verdade, moldar o pensamento de forma que a população estivesse sempre favorável ao governo, ainda que nada ali fosse digno de seu apoio.

O Grande Irmão era tão manipulador que as crianças eram educadas e facilmente convencidas a serem também um dos instrumentos de fiscalização quando denunciavam os próprios pais, de forma até mesmo violenta, à Polícia das Ideias. Isso quando as pessoas não eram flagradas, ainda que dentro de suas casas, pela teletela: “Todo som produzido por Winston que ultrapassasse o nível de um sussurro muito discreto, seria captado por ela; mais: enquanto Winston permanecesse no campo de visão enquadrado pela placa de metal, além de ouvido, poderia também ser visto. (…) Fosse como fosse, uma coisa era certa: tinha meios de conectar-se a seu aparelho sempre que quisesse. Você era obrigado a viver — e vivia, em decorrência do hábito transformado em instinto — acreditando que todo som que fizesse seria ouvido, e se a escuridão não fosse completa, todo movimento examinado meticulosamente.

Winston em frente a teletela (Foto: Retirada do filme 1984)

Para que o pensamento do povo fosse conveniente ao governo, o Grande Irmão era capaz de apagar acontecimentos do passado ou até criá-los. A população muitas vezes acreditava em algo que sequer havia acontecido. Isso era feito em fração de segundos pelos operários do Ministério da Verdade, que poderiam controlar a história alterando registros nos livros, jornais, revistas e em todo e qualquer pensamento. O curioso é que nem mesmo essas pessoas, tão inseridas nesse sistema, percebiam tamanha manipulação. Fomentavam-na, inclusive: eram instruídas para depositar nos buracos da memória — buracos nas paredes que provavelmente incineravam o que fosse ali jogado — toda e qualquer evidência de que algo no governo não era ideal como parecia.

Toda essa fiscalização, a manipulação de pessoas, que mesmo que fossem lesadas pela governo seguiam a apoiá-lo, a instauração do medo das repreensões e a perpétua sensação de se estar sendo observado propõe ao leitor uma reflexão: a obra de George Orwell é uma ficção ou uma possível realidade?

Entre em nosso TikTok e veja os vídeos postados sobre 1984 clicando aqui.

1984 e os Paralelos com a Atualidade

Da mesma forma em que nós vemos o extremismo presente dentro do livro “1984”, também podemos enxergá-lo atualmente, principalmente quando se torna cada vez mais comum as pessoas serem colocadas em um posto antagonista ao seu a partir do momento em que não se concorda com o posicionamento político do outro.

Nós podemos perceber em 1984, uma figura chamada Goldstein, que era colocado diante da sociedade como um antagonista do Grande Irmão. Este era sempre colocado como o inimigo do povo e o motivo pelo qual todos deveriam permanecer unidos, a fim de lutar contra esse sujeito subversivo que a qualquer momento poderia tomar o poder. Ou seja, foi criada uma ameaça inexistente para que fosse direcionada a raiva da população para tudo o que não dava certo na Oceania.

Soa familiar toda essa situação? Pois então vamos mostrar como tudo consegue ficar ainda mais assustador. Na época em que o livro foi escrito não havia uma forma de monitoramento da população como a “teletela”, porém hoje já é possível que os nossos dados sejam monitorados através de algoritmos e que empresas saibam exatamente que tipo de informação você consome. Portanto, caso haja um governo autoritário atualmente, é possível que ele manipule a população como bem entender, já que ele pode vir a ter acesso a que tipo de conteúdo a população consome.

Você pode até pensar que estará imune a isso, porém não se esqueça de que existem mecanismos de manipulação de massa que podem te levar a acreditar em algo para o qual você já tem uma predisposição. Na maioria das vezes as pessoas interpretam os fatos da maneira que mais lhes convém. A verdade realmente importa? Para você 2 + 2 é igual a 4? Ou pode ser 5 se isso for mais interessante para você?

E o que nós vemos acontecer com cada vez mais frequência é a imprensa ser colocada como a inimiga do povo e um símbolo de tudo o que há de ruim. Isso é extremamente perigoso por si só, já que é a imprensa quem permite que a democracia sobreviva. A partir do momento em que o jornalismo perde a sua credibilidade diante dos acontecimentos que são noticiados para a sociedade, então ele perde tudo. Em “1984” nós podemos ver claramente que o fato da imprensa ser um órgão submetido ao partido é o fator determinante que permite que o governo prossiga com os seus planos e corrupção clara sem nenhum tipo de revolta popular.

A Importância de 1984 Enquanto Literatura

“1984” se trata de uma leitura extremamente importante para a formação das pessoas como cidadãos. A democracia é jovem, está aprendendo a caminhar e cabe a nós cuidar e zelar por ela. Sempre haverá grupos extremistas tentando se levantar e chegar ao poder e o mínimo que nós podemos fazer é nos conscientizar e aprender a não ter medo de se posicionar. Não podemos achar que uma revolução acontece de uma hora para a outra, que grupos extremistas chegam ao poder do nada. É nos detalhes que eles vão se levantando e conseguindo pouco a pouco cada vez mais poder. Se você permite que uma atitude extremista aconteça e não se revolta, então você abre espaço para que isso se torne algo cada vez mais comum.

Se você se cala diante de uma situação de injustiça, se você permite que uma minoria seja humilhada e rebaixada, então você faz parte do grupo opressor e permite que a nossa realidade, a cada dia que passa, se torne mais próxima da de “1984”.

Foto: Reprodução.

Para saber curiosidades sobre 1984 basta clicar aqui.

REFERÊNCIAS:

ORWELL, George. 1984. 29° ed. São Paulo: Ed. Companhia Editora Nacional, 2005.

--

--

1984: Uma Resenha
0 Followers

Autoras: Beatriz Cintra e Juliana Kopp | Disciplina: TCCE | Universidade: UFU | Faculdade: FACED | Curso: Jornalismo | 10/2020