Eu odeio a minha geração
Tentei ser uma boa pessoa
Meditei
Refleti
Fiz análise
Tomei psicotrópicos
Desbundei
Fumei maconha
Viajei
Mas continuo um merda.
***
Eu odeio minha geração
Toda bundamolice, egoísmo, choradeira e egolatria
Eu canto minha geração e vomito na minha geração
Porque cada átomo que pertence a vocês
Pertence a mim
E isso me dá náusea.
Hoje arranquei os olhos da televisão
Queimei os campos de futebol
Flanei pelas farmácias espaciais que vendem alegria artificial
Ri das revistas que prometem corpos perfeitos para o verão
E das universidades que preparam moleques para vender seus sonhos no mercado de mentiras
Eu peguei todos meus sonhos, embrulhei num pacotinho reciclado
e troquei por uma plaqueta escrita “empreendedor”
um amigo que era DJ fez a trilha sonora ideal para que inscrevêssemos tudo isso num edital do governo
Perdemos o prazo porque um pequeno grupo de caraspintadas fez um protesto relâmpago que parou a rua
Protestavam contra a erupção do Vulcão
Protestavam contra o passar veloz do tempo
Protestavam contra as árvores que fazem striptease no outono violento Protestavam contra os rios que se despedem sem dizer adeus
***
O mundo entorta os certos
e premia os cuzões
O mundo alimenta seu ego
E te faz crer que você é especial
Não acredite
Você é bosta
Adubo de plantas
Poeira cósmica
Carbono
água
acaso
O poema mais bonito que Deus jamais escreveu
—
Este poema faz parte do livro “Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI” que a Editora Patuá lança dia 31/08/2016. Reserve o seu aqui! .
Fred Di Giacomo é poeta e artista multimídia; autor do livro “Canções para ninar adultos” (Ed. Patuá, 2012), do game “Science Kombat”, do Glück Project e de diversas letras da banda Bedibê — entre outros projetos que envolvem educação, jornalismo e literatura :-)
Seus poemas estão espalhados aqui.
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Originally published at www.punkbrega.com.br.