Guia de Redação UX: Parte 1

Luna Cesero
5 min readJun 30, 2022

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Microcopy, linguagem da marca e heurísticas de conteúdo

Por que eu devo escrever para UX?

Existem profissionais especializados em UX Writing (os UX Writters), responsáveis por criar estratégias para conteúdos dos produtos: eles trabalham analisando minuciosamente todo o conteúdo, a voz da marca, para, só assim, sugerir conteúdos ainda mais estratégicos para o produto.

Como Product Designers, não vamos ter essa atuação tão completa em conteúdo, porém, constantemente, precisaremos criar textos para compor as experiências dos produtos nos quais estamos atuando e, por isso, esse guia te mostrará boas práticas para criação de conteúdos, tanto de diversos elementos que compõem a jornada de um produto (emails, títulos, notificações, empty states), quanto dicas e heurísticas que o UX Writing se baseia para garantir boas práticas de escrita de textos.

UX Writing: o que é e para que serve?

O UX Writing une as funções de User Experience e de redator, com o objetivo de construir a experiência do usuário a partir da narrativa e do texto, encontrados durante a interação das pessoas com os produtos.

Sua função é facilitar as tarefas do usuário dentro da interface, oferecendo as informações mais importantes no momento em que se precisa delas.

Em UX Writing, o modelo de texto mais utilizado é o Microcopy (e é dele que vamos falar aqui). Ele é o estilo de conteúdo mais flexível em UX, pois pode ser usado para diversas finalidades, na construção da narrativa de um site ou aplicativo e se integra à voz da marca.

As funções do Microcopy são: promover ações, remover barreiras, orientar os próximos passos do usuário, tirar dúvidas, remover inseguranças e aliviar tensões.

Nossas palavras não estão lá para serem lidas, saboreadas e apreciadas, mas para passarem despercebidas enquanto ajudam a conduzir o usuário para onde deseja— T. Podmajersky

Como identifico o tom de voz da marca:

1. Verifique se a empresa dispõe de um manual de marca já estabelecido. Ele te informará o tom de voz utilizado nos produtos e te guiará quanto:

  • aos conceitos que refletem os princípios do produto e da marca,
  • ao vocabulário ou lista de palavras escolhidas para apoiar a voz da marca,
  • à verbosidade que ditará o ritmo e usabilidade da leitura,
  • às estruturas gramaticais que devem apoiar os princípios do produto, sem pecar na usabilidade,
  • à pontuação e à capitalização escolhidas para reforçar a identidade e o grau de formalidadeda marca.

2. Caso a empresa não tenha um manual de marca, o próprio produto que já estiver “rodando” pode trazer exemplos de tom de voz e termos utilizados no nicho daquele cliente.

Como identifico a linguagem do usuário:

Além da voz da marca, é importante refletir a linguagem do usuário do produto e a melhor forma de conhecer seu público é prestar atenção nas palavras que os participantes de entrevistas usam para descrever ações e nomear partes da experiência. Estas palavras devem ser, também, utilizadas no seu conteúdo, pois serão facilmente reconhecidas e escaneadas durante a navegação, sem que os usuários percebam que estão lendo.

Os métodos de pesquisa/entrevistas mais usados para apoiar a criação do conteúdo UX são:

  • Análise de avaliações, perguntas e comentários (verifica ideias, funções e palavras encontradas: no feedback dado por usuários, nas avaliações da app store, nas perguntas à equipe de suporte, nas menções no próprio aplicativo, nos comentários das redes sociais e nas citações na imprensa);
  • Entrevistas individuais e com pequenos grupos (conversa com usuários para os quais a experiência foi criada. Para encontrá-los, você pode publicar anúncios online, pregar cartazes ou iniciar conversas no comércio local. Estabeleça uma conexão harmoniosa, se aproximando do usuário, e defina o contexto informando o que a empresa está buscando — se necessário, formalize um NDA. Durante a conversa, você poderá identificar o tom de voz utilizado e os termos mais comuns, assim você deve aplicar essa linguagem no conteúdo do seu produto. Nessa conversa, você também poderá conhecer palavras que tem conotação ofensiva ou possíveis restrições legais/regulatórias que limitem o conteúdo);
  • Codesign, exercícios como card sorting (consiste em convidar as pessoas para auxiliar, através de dinâmicas lúdicas, na criação do conteúdo) e
  • Enquetes (permite ter mais respostas sobre uma questão, sem ser necessário despender o tempo e os recursos que seriam usados em uma entrevista).

O que são heurísticas?

Heurísticas são um conjunto de regras e métodos que diminuem o tempo de tomada de decisão e permitem que as pessoas solucionem problemas de forma prática, funcionando como atalhos mentais quando precisamos de uma solução rápida. Elas existem para diferentes áreas de atuação. No caso do conteúdo UX, as heurísticas dão suporte para a criação de bons textos quando não se tem um UX Writer responsável pela análise estratégica do conteúdo.

Quais são as heurísticas de conteúdo?

Aplicando as heurísticas de conteúdo aos seus textos, você garantirá maior assertividade na sua escrita. De acordo com as heurísticas de conteúdo, o seu texto deve ser:

  • Acessível: primeiramente, o nível de leitura e termos utilizados devem garantir que o seu texto seja fácil de ser entendido por uma criança abaixo do 7˚ ano (geral) ou 9˚ ano (profissional). Além disso, para garantir a leitura do seu produto por deficientes visuais, todos os elementos da interface devem disponibilizar texto para leitores de tela.
  • Significativo: deve estar claro o que o usuário deve ou pode fazer para alcançar seus objetivos.
  • Conciso: os botões devem ter três palavras ou menos. Seus textos devem entre 70 e 90 caracteres de largura e até 4 linhas de comprimento. Para ser conciso, a informação apresentada também deve ser relevante para aquele momento da experiência.
  • Dialógico: as palavras, as frases e as ideias utilizadas são familiares aos usuários. As instruções devem ser apresentadas em etapas úteis e em uma ordem lógica.
  • Claro: As ações apresentam resultados inequívocos. Há facilidade em encontrar ajuda e informações sobre políticas. Existem mensagens de erro que ajudam o usuário a seguir adiante ou deixam claro quando isso não é possível. Toda vez que um termo é usado, ele representa o mesmo conceito.

Revisando seu texto, lembre-se de torná-lo: significativo — para isso, aborde nele o maior número de objetivos possível; conciso — filtre as frases para reduzir a seu significado principal; dialógico — interaja com o usuário, utilize frases para ações/botões como se fosse o usuário respondendo às informações fornecidas (ex: “Pagar tarifa”) e claro — use palavras simples e comuns, de fácil reconhecimento.

Quais as referências utilizadas nesse guia?

DE CIA, Patricia. UX Writing — O texto como forma de melhorar a experiência do Usuário. Ebook. Descola.

NAKAHARA, Lory. 8 Maneiras de testar seus textos. Medium, Maio, 2021. Disponível em: https://brasil.uxdesign.cc/7-testes-para-textos-4e9302e76285 Acesso: 18/02/2022.

PODMAJERSKY, Torrey. Redação Estratégica para UX. Primeira Edição. Editora Novatec, São Paulo, 2019.

RODRIGUES, Bruno. Em busca de boas práticas de UX Writing. Edição do Kindle.

[Guia de Redação UX ] Acesse Aqui:

Parte 2: Elementos textuais, de contextualização e suporte, Emails, FAQ/Ajuda

Parte 3: Dicas Gerais, Validação de Conteúdo, Formulários, Preocupações

Parte 4: Conteúdo para Sites e Testes de Conteúdo

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Luna Cesero

Formada em Arquitetura e Urbanismo, atuo como Designer de Produto desde 2018. Criei este perfil para trocar conhecimentos e ajudar outros Designers