Days with my Stepsister, Vol.1

Patotilhas do Vini
8 min readJan 9, 2024

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(Yen Press, volume 1 de 9 [em andamento], publicado em 2021, traduzido em 2023 por Eriko Sugita)

Hmm. É.

Introdução: outra LN do Ghost Mikawa, mesmo autor de ImoUza (“My Friend’s Little Sister Has it in for me”). E eu gosto bastante de ImoUza. Levando isso em conta, e também o fato de que Days with my Stepsister (“Gimai Seikatsu” em japa) é provavelmente o livro mais famoso e reconhecido do autor… Eu estava animado.

E quando eu digo que é o livro mais conhecido do autor, eu digo pelo menos na pequena esfera anglófona que eu tenho acesso. Sempre que falavam do autor, Days with my Stepsister era citado. Quando a Yen Press licenciou uma terceira novel do autor, que eu honestamente não me lembro o nome de cabeça, todos comentaram “poxa, escolheram essa novel que é mais recente do que ‘Gimai’, que é super popular?”. Então, quando finalmente anunciaram, fizeram uma puta festa.

Conclusão: Nunca mais confiar em opiniões de rebanho na internet.

As ilustrações são lindas, nessa parte o povo não mentiu.

Talvez seja a expectativa alta. Eu tenho que parar de ter expectativas altas com coisas, viu? Mas olha… Fiquei bastante decepcionado com o que eu li. De todos os onze volumes escritos pelo autor que eu li (10 de ImoUza + esse), o volume um de Days with my Stepsister foi facilmente o pior deles. E nem chega perto. ImoUza em seu pior (provavelmente o vol.4) ainda é ordens de grandeza melhor do que a melhor parte de ‘Gimai’.

O começo da história já me deixou um pouco puto. O protagonista masculino, Yuuta Asamura, é um cara que me irritou bastante nas primeiras 20 e poucas páginas. Chega a ser engraçado o jeito tão escancarado que o autor tenta te convencer que o Yuuta não é um incel. A novel é narrada em primeira pessoa, do ponto de vista do Yuuta (parece ser o estilo de escrita do Mikawa, pois ImoUza também é), e em diversos momentos ele faz comentários absurdamente incels, só pra seguir com um “bem, não que eu…” ou similar. É o meme do “Minha camisa que diz ‘eu não sou incel’ está fazendo com que pessoas me façam perguntas já respondidas pela minha camisa”.

Por que será né?

Talvez eu esteja exagerando um pouco, já que essa impressão diminui conforme o livro avança, mas nossa… É. Essa questão é amplificada pelo uso já corriqueiro de piadas bem “lightnovelescas”, por exemplo, o uso do termo “virgem” como ofensa, ou a insistência em falar sobre roupas de baixo. Isso tudo somado cria aquela famosa frase que eu já cansei de falar, “é uma LN extremamente Light Novel”.

E isso me dá uma boa passagem pro próximo assunto. Literalmente a página de abertura da novel é um pequeno solilóquio do Yuuta, falando sobre como “a vida real é diferente da ficção que você encontra em animês e light novels”, e sobre a “experiência trivial e nada espetacular de ter uma meia-irmã”. Essa abertura, junto com a sinopse, te dá uma expectativa da obra: A ideia de que isso vai ser um conto realista da experiência de ter uma meia-irmã da mesma idade; que vai tratar do relacionamento lentamente, e que as coisas vão tentar soar o mais naturais possíveis.

Com um parágrafo de abertura desses, certamente a coisa vai ser calma, né?

LOL. LMAO.

Olha. Assim. Mesmo se você ignorar totalmente a expectativa que ele te dá e encarar a história pelo que ela é. E mesmo se você ativar todos os neurônios do seu cérebro na suspenção de descrença… Ainda assim… Nossa, cara.

Esse livro cobre a primeira semana desde que eles passaram a viver juntos. Não, você leu certo: Não o primeiro ano, não o primeiro mês… A primeira SEMANA. São sete capítulos, cada um contando os acontecimentos de um dia. A história começa no dia 7 de junho, e o volume se encerra no dia 13 de junho. Sete dias consecutivos e sem cortes. Sete. S.e.t.e.

Mostrando pra vocês o índice pra vocês acreditarem em mim.

O primeiro encontro entre os dois começa com um acordo mutual entre eles: Não criar expectativas e não esperar nada um do outro. O relacionamento deles começa em um nível nulo: Eles não querem se envolver mais do que o necessário. Cada um pro seu canto.

Claro, em contexto, a discussão é um pouco mais amigável, e não há nenhum tipo de “ódio” ou “repugnância” envolvida. Então, podemos dizer que eles estão em um relacionamento positivo. Ainda assim, eles concordam em se manter cada um na sua. Faz sentido.

Daí, no espaço de uma semana (de novo, UMA SEMANA, sete dias), eles passam por aproximadamente três temporadas inteiras de desenvolvimento e esteriótipos de um anime shoujo e de uma romcom, somadas. Não vou entrar em detalhes, tanto por ser spoiler, como por ser meio inconveniente de comentar, mas vocês já devem imaginar.

O que me deixou extremamente confuso durante a leitura foi a velocidade com que tudo acontecia. Para dois adolescentes que combinaram de antemão que não iriam se envolver mais que o necessário… Eles estavam se envolvendo muito mais do que o necessário.

Para tentar manter qualquer tipo de coesão narrativa, esses acontecimentos deveriam ter sido espalhados ao longo de, no mínimo, um mês. E olhe lá. Ainda acho um mês pouco tempo. Depois de terminar a leitura e deitar pra dormir e refletir sobre o que eu li, como costumo fazer, eu me peguei pensando diversas vezes: “Uma semana, bicho”. E pois é. Uma semana, bicho. Uma semana.

Não é uma LN se não tiver várias páginas sobre culinária.

Mas até o último capítulo, o livro estava apenas “razoável”. A história estava fazendo cosplay do Sonic de tão rápido que corria; o Yuuta é meio incelzinho mas dá pra relevar boa parte do que ele fala como “humor”; e a Ayase Saki (a protagonista garota) estava sendo construída como uma personagen bastante plana, mas com algum espaço para crescimento. Até aqui, tudo ok, parecia uma novel fraca, mas não ruim. Talvez um 5/10 que eu pudesse dar a chance pro segundo volume, dada a popularidade e o meu interesse por uma das personagens secundárias (já falo disso).

Tivemos até umas conversas interessantes sobre expectativas sociais, capitalismo, papéis de gênero na sociedade e auto-reflexões sobre esteriótipos e hierarquias. Claro, todas regadas ao extremo por uma lente “lightnovelesca” que usa a grande maioria dos temas como mote para humor. Esse livro aborda os temas e não os ridiculariza, mas não é nenhum “Reign of the Seven Spellblades”, que os leva bastante a sério. Diria que a abordagem é tão “razoável” e “5/10” quanto o resto do livro.

E eu gostei bastante das personagens de apoio: O obrigatório “amigo do protagonista”, o Maru, é uma pegada diferente do tropo, mas que funciona bem; A obrigatória “amiga da protagonista”, a Maaya, é exatamente o que você esperaria, mas esse tipo de personagem normalmente é um raiozinho de sol então é difícil não gostar; por fim, achei interessante a adição da Shiori Yomiuri, que é uma versão do tropo “pessoa mais velha que observa a situação de fora mas não tão de longe”. Achei ela divertida e facilmente a melhor personagem do volume. Ela parece ser a única que trata a situação absurda e história extremamente apressada com o devido respeito que merece: nenhum.

Yomiuri facilmente melhor coisa do livro. E olha que eu costumo preferir loiras.

E olhando para tudo que foi construído, esse livro é meio que… ImoUza só que pior. As personagens se encaixam mais ou menos nos mesmos “esteriótipos”, a história é parecida o suficiente… A cena onde a Maaya visita a casa dos irmãos é quase que uma reprodução 1:1 da interação que você encontra em ImoUza… Só que pior.

E eu pensei bastante a respeito, e acredito que esse caso não é uma questão de “o que você consumiu primeiro vai ser melhor”. Uma analise objetiva das duas obras mostra que a linha do tempo ABSURDA de “Days with my Stepsister” destrói completamente qualquer credibilidade. Uma semana, bicho.

Por fim, o que realmente me fez ficar indignado e desistir completamente da obra foi o capítulo final. O que aconteceu foi tão absurdo e tão fora de personagem para a Ayase, que eu estava completamente convencido de que aquela passagem inteira era apenas um sonho. Não tinha como não ser. Era necessário que aquilo fosse uma alucinação para todo o resto do livro não ser uma enorme hipocrisia. Mas eu continuava lendo, e continuava lendo, e o Yuuta simplesmente não acordava… Daí o capítulo acabou, e eu percebi que aquilo aconteceu de verdade.

Eu fiquei indignado. “Hipocrisia” é literalmente a única palavra que eu posso usar para descrever. Foi tudo na contra-mão do que o livro se vendeu como. E a conclusão foi mais razoável do que eu esperava, dada a situação, mas ainda assim, o negócio como um todo me deixou tão revoltado que eu quase fechei o livro ali mesmo. Mas faltavam apenas 15 páginas pra terminar, então eu terminei. Mas nossa…
E pra piorar: Uma semana, bicho.

Única parte sensata do volume.

Enfim. As ilustrações são lindas. Hiten um excelente artista. Fiquei confuso com as ilustrações coloridas estarem fora de ordem e algumas serem de acontecimentos que nem acontecem no volume… Mas bem, parece que é coisa do canal do youtube deles.

Sinceramente decepcionado com o que li. Já estaria decepcionado se tivesse tido um final normal, mas o final foi tão absurdo e hipócrita que eu criei um novo nível de decepção abaixo do que eu tinha para colocar essa decepção lá.

Eu diria que seria o drop mais fácil da minha vida, mas… Eles mostraram uma prévia do volume 2, e parece que vai acontecer uma coisa interessante no volume 2 envolvendo a Yomiuri, minha personagem favorita… Então taaaaaaaalvez eu leia o volume 2. Vai que melhora?

Mas puta vida, viu. Não foi um bom começo de ano pras minhas leituras.

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Patotilhas do Vini

Blogueirinho de buteco. Escrevo seriamente pra Torre de Vigilância, sobre animês e cultura japonesa no geral. Aqui, são as coisas que o RH não liberou pra lá.