Transtorno Afetivo Bipolar, um conflito interno que precisa ser entendido

Primeira Pauta
3 min readOct 18, 2016

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Alterações de humor podem acontecer com qualquer pessoa e em todas as idades, entretanto mudanças muito abruptas de comportamento podem indicar o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). Segundo o médico psiquiatra, Bruno Trevisan, a doença caracteriza-se por ter duas fases muito distintas e recorrentes: os episódios depressivos e os maníacos (de euforia).

Tristeza profunda, falta de prazer, cansaço, culpa excessiva, diminuição do apetite e até mesmo alterações nas funções mentais como o raciocínio e a memória, estão presentes nas ocorrências de depressão.

“É importante deixar claro que não é qualquer tristeza que configura a depressão. A depressão ocorre quando a pessoa tem sintomas durante a maior parte do dia, por pelo menos duas semanas”, informa o psiquiatra.

Na fase de euforia há um estado de exaltação, exatamente o oposto dos sintomas depressivos. O paciente apresenta humor elevado, acima do normal, sensação de muita energia, diminuição da necessidade de sono, fala excessiva e impulsividade, além de outros comportamentos que podem colocar a pessoa em risco.

Há 12 anos, o jornalista Antônio Trigo foi diagnosticado como bipolar. Hoje tem a doença sob controle, mas nem sempre foi assim. “Demorei muito tempo para incorporar o tratamento a minha vida, a gente nega muito.” Antes disso, o jornalista chegou a receber o diagnóstico de depressão e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Para Trigo, estar informado sobre o assunto pode ajudar pessoas em situações parecidas. “Já passei por médicos bons e ruins, e também já tomei remédios errados em excesso. Hoje tenho muita consciência da doença. Mas, se todo mundo falasse abertamente sobre o tema, sofreria menos”, completa.

O TAB não é somente psicológico, é uma doença psiquiátrica decorrente de uma disfunção cerebral. Também pode ser hereditário, ou seja, ocorrer em várias pessoas da mesma família. De acordo com o psiquiatra Bruno Trevisan, existem dois tipos de TAB. O tipo 1, no qual a pessoa precisa ter apresentado pelo menos um episódio de euforia; e o tipo 2, caracterizado por um episódio depressivo e um episódio hipomaníaco, em que os sintomas são parecidos aos da mania, mas em grau mais leve. É comum que os sintomas sejam confundidos com depressão ou transtornos de personalidade.

O Transtorno Afetivo Bipolar não tem cura, mas possui tratamento e exige o uso de remédios, os “estabilizadores do humor”. Esses medicamentos deixam o paciente estável e controlam as crises de depressão e de mania. Aliado aos medicamentos, a orientação de um psicólogo também ajuda. Segundo o psicólogo Martinus Christen Koepsel, a terapia pode ajudar o paciente a reconhecer e entender a doença.

“O indivíduo precisa aprender a lidar com o problema, além de saber quais fatores em sua vida o predispõem a desencadear uma nova crise”, comenta Koepsel.

Outra opção de tratamento é a eletroconvulsoterapia, que é a passagem de uma corrente elétrica de alta voltagem sobre a região temporal do cérebro, indicada somente para casos mais graves. O apoio de familiares e pessoas próximas de alguém com TAB têm grande valia na ajuda com as oscilações de humor, e também para que o tratamento não seja abandonado.

Repórter: Alexander Lucio San | Fotógrafa: Camila de Melo Freitas

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