Quem é o feminismo?

A história do feminismo

Rafaella Câmara
4 min readMar 30, 2016
Liberty Leading the People by Eugene Delacroix

Os estudos sobre o feminismo, segundo Liane Schneider em seu artigo “Contando estórias feministas” e a reconstrução do feminismo recente, apontam que as discussões acerca deste assunto iniciaram-se apenas depois dos anos 1980. Outras fontes, como a Universidade Livre Feminista, acreditam que as primeiras discussões acontecem desde as primeiras manifestações femininas pela igualdade de gênero, há mais de 200 anos. Seja considerando o feminismo um movimento social articulado com produções teóricas a respeito, seja considerando-o manifestações femininas em prol da igualdade de gênero, deve-se de convir: há muito está sendo discutido e em grandes proporções; crescentes ano a ano. Então a questão paira no ar: quando, onde e como começou tudo isso?

A origem exata do feminismo moderno é algo ainda muito nebuloso para a história. Como tantos outros assuntos, é possível que diversos fatos paralelamente contribuíram para o estopim da luta organizada das mulheres. Há fontes, como Francisca Araújo, psicopedagoga e pesquisadora da área, que afirma ter começado em 1848, na convenção dos direitos da mulher em Nova Iorque. Já o jornalista Renato Cancian diz que pelas suas pesquisas o ano é 1789, Revolução Francesa. De fato, há quem discorde dessa posição, mas os teóricos creditam a um dos maiores fatos da história da França, e concordam com Cancian: França, 1789.

O conceito, ou rótulo, feminista aparece na literatura pela primeira vez durante a Revolução Francesa. O tema liberdade, igualdade e fraternidade foi bastante significativo para as mulheres que lutam pela igualdade de direitos e deveres. “Em meio a esse contexto iluminista, em 1790, a britânica Mary Wollstonecraft escreveu, ‘Uma Defesa dos Direitos da Mulher’. Entre outras questões, essa autora defendia a libertação da mulher através da educação” — disse Iba Mendes. Outra iluminista foi a francesa Olympe do Gouges que lançou, em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e Cidadã — inspirada na Carta dos Direitos do Homem e do Cidadão — onde declarava que a mulher possuía os mesmos direitos naturais concedidos ao homem, continuou Mendes. E assim sucederam-se inúmeros fatos que fizeram o feminismo caminhar para outras fases, ou ondas.

A primeira onda do feminismo aconteceu no fim do século do XIX e início do século XX, predominantemente nos Estados Unidos e Reino Unido. As mulheres, por um longo período, reivindicaram o sufrágio e o fim dos casamentos arranjados. Nesta epóca, Margaret Sanger já discutia alguns temas como direitos econômicos, sexuais e reprodutivos das mulheres.

Na década de 1970, a segunda onda foi marcada, para muitos estudiosos, como uma época de muita homogeneidade em que o feminismo se preocupou muito com questões políticas. A professora de teorias feministas, Clare Hemmings, fala em seu artigo, “Contando estórias feministas”, que não se deve partir do pressuposto que a segunda onda não teve efeitos produtivos e ainda deve-se continuar a ler críticas e artigos desenvolvidos na época. Além disso, outra estudiosa, Liane Schneider, acrescenta à fala de Hemmings, “se nos debruçarmos sobre algumas das produções teóricas feministas dos anos 70, percebemos de imediato que não havia nada de estável e homogêneo nas discussões de então, mesmo que houvesse um conceito amplo e geral de “mulher” em uso”.

Além disso, é na década de 70 que as mulheres começam a ocupar ainda mais outros espaços, como as universidades. Assim, como eram entendidas como gênero inferior ao do homem, muito sofreram para conseguir ocupar estes espaços. Alda Motta, que se dedica ao estudo de gênero e geração, conta em entrevista ao Instituto de Gênero da UFSC como sofreu violência doméstica para fazer seu mestrado. "Pra eu fazer a dissertação eu tive que fugir de casa, porque às vezes sentava pra escrever, como aconteceu uma vez, meu marido sentou do outro lado da mesa e ficava me interrompendo: 'Não dá importância aos filhos, fica nesse negócio da dissertação'. Até que ele olhou pra mim, já perto do tempo de entregar a dissertação, e disse: “Eu lhe mostro que você não entrega essa dissertação", conta.

De 1980 em diante o feminismo começou a se articular continuamente, se tornando esse grande movimento que está em plena atividade. Hoje, o movimento se divide em vertentes como a radical, liberal, interseccional, feminismo negro e feminismo trans. O número de mulheres praticantes só cresce e com o boom das redes sociais, a tendência ainda é aumentar.

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