Uma Visão ofuscada pela Nevasca

Vamos indo, mesmo sem enxergar o destino

Rafael Nepô
26 min readApr 10, 2016

Até mesmo as maiores tempestades de neve começam tão pequenas quanto uma pequena brisa sutil e alguns flocos de neve, e conforme a brisa vai crescendo e ganhando força, vai ficando cada vez mais densa, até chegar no ponto que mal conseguimos ver a ponta do nosso nariz.

Não vou englobar todos os problemas que eu passei nessa parte do texto, só os que eu acho que são os mais importantes. Os próximos vão entrar na quarta parte, junto com a minha ideia para resolver os problemas.

A Blizzard foi fundada em 1991. Naquele tempo ela não passava dessa pequena brisa com alguns flocos de neve, e com o tempo, foi se tornando essa nevasca densa que atinge o mundo inteiro.

Por ser uma empresa com mais de 25 anos, acredito que alguns dos pilares de valores da Blizzard acabaram ficando debaixo da neve com o tempo.

Inclusive, a ideia para escrever essa carta aberta veio de um desses pilares que faz parte da Blizzard.

Cada Opinião Importa

Grandes ideias vêm de todos os lugares.
A Blizzard Entertainment chegou onde está atualmente graças às opiniões de seus jogadores e de cada membro da empresa. Cada funcionário é encorajado a se manifestar, ouvir, ter respeito pelas opiniões alheias e aceitar a crítica como mais uma avenida na concepção de grandes ideias.
— Fonte: http://us.blizzard.com/pt-br/company/about/mission.html

É através desse pilar que venho contar a minha experiência, e com ele eu espero que juntos podemos continuar reforçando cada vez mais um outro pilar de valores da Blizzard. Continuar aprendendo e crescendo.

Aprender e Crescer

A indústria de jogos está em constante transformação.
A tecnologia é aprimorada, as técnicas mudam e as filosofias de projeto se tornam ultrapassadas. Desde a fundação da Blizzard Entertainment, temos trabalhado para nos aprimorar através da experiência, ensinando uns aos outros e cultivando o desejo de sermos os melhores naquilo que fazemos.
Vemos isso como uma responsabilidade individual, bem como da empresa como um todo. Os funcionários podem contar com o apoio de seus companheiros, gerentes e com a própria empresa para que eles conquistem o conhecimento e treinamento que necessitam.
— Fonte: http://us.blizzard.com/pt-br/company/about/mission.html

Juntando esses dois pilares, temos uma base para formar uma opinião e tentar explicar como as coisas aconteceram, por quê elas aconteceram, e como elas podem melhorar para todos os lados.

Eu quero que esse texto torne mais aberta e transparente a conversa entre produtores de conteúdo, marcas e empresas. Seja você um Blogger, YouTuber, Streamer, Pro-Player, Narrador etc.

Acredito que dessa forma a comunidade estará mais preparada do que eu, e não cometerá os mesmos erros.

A idéia não é sair apontando dedos e xingando, dizendo que eles estão errados e eu que estou certo. Longe disso. Acredito que a própria Blizzard não saiba da realidade que muitos de nós vivemos, e simplesmente está operando da mesma forma que ela vem operando ao longo dos anos.

Ela acabou ficando ofuscada pela própria nevasca.

Os 8 Principais Valores da Blizzard.

2 Valores embaixo da Neve

Respeito e Jogo Limpo + Liderar com Responsabilidade

Acima podemos ver todos os valores que guiam tudo que a Blizzard faz.

Os 4 primeiros estão verdes, pois acredito que estão fazendo um bom trabalho em cima deles. A jogabilidade dos jogos é ótima, a qualidade é incrível e eles estão no mundo inteiro. Tudo isso feito por Geeks.

Em amarelo temos os 2 pilares que mencionei acima. Eles são importantes e não acho que eles devem ficar verdes nunca, pois estão sendo constantemente testados todos os dias.

Por último, temos os 2 pilares que estão em vermelho. Esses são os pilares que me impactaram diretamente e que acredito que precisa melhorar. Precisamos transforma-los em pilares verdes.

Liderar com Responsabilidade

Nossos produtos e práticas podem influenciar não apenas nossos funcionários e jogadores, mas também a indústria em geral.
Como uma das empresas líderes em jogos do mundo, estamos comprometidos em tomar decisões éticas, sempre levando em consideração os nossos jogadores e estabelecendo um sólido exemplo de profissionalismo e excelência em todos os momentos. Fonte: http://us.blizzard.com/pt-br/company/about/mission.html

Respeito e Jogo Limpo

Em nosso ramo, as primeiras impressões são importantes, mas as impressões duradouras são as que contam de verdade. Nos esforçamos para manter um alto nível de respeito e integridade em todas as interações com nossos jogadores, colegas e parceiros comerciais. A conduta de cada funcionário da Blizzard Entertainment, seja online ou offline, pode refletir em toda a empresa.
Fonte: http://us.blizzard.com/pt-br/company/about/mission.html

É exatamente por ser uma das empresas líderes em jogos no mundo, que tudo que eles fazem afetam e influenciam cada pessoa que faz parte desse universo. Os Jogadores, YouTubers, Bloggers, Streamers, Casters etc.

Somente cultivando respeito e jogo limpo que teremos uma comunidade onde as pessoas podem continuar se divertindo nos universos imersivos que são criados, gerando novas experiências e amizades duradouras.

Não acredito que esses dois valores tenham ficado debaixo da neve de propósito ou por uma má índole da Blizzard. Acredito que eles só estavam focados em realmente entregar o que eles sempre prometeram.

"Dedicada a criar as experiências de entretenimento mais épicas de todos os tempos." — Blizzard Ent.

A Blizzard é uma produtora de jogos. É isso que eles fazem.
Criam e desenvolvem jogos. É o que eles sempre fizeram.

Mas… é exatamente como eles disseram:
"A indústria de jogos está em constante transformação."
Por isso acredito que algumas questões precisam ser revisitadas e atualizadas para a realidade que muitos de nós vivemos hoje em dia.

Tenho certeza que não existia YouTube, Twitch, eSports, Narradores e torneios de video game em estádios gigantescos quando esses valores foram cravados em metal e colocados no pátio de entrada da Blizzard.

Nem a própria BlizzCon existia nessa época!

Nossas Ferramentas de Trabalho

Estamos na junção entre Tecnologia & Entretenimento

Podemos então começar falando dessas novas plataformas, ferramentas e cargos que foram criados nos últimos anos. Como todos eles são novidades, ainda não sabemos a melhor forma de encaixar tudo isso.

A partir do momento que a sua diversão ganha prazos, metas, salário e horários, mesmo sendo algo divertido, no fim do dia é um trabalho.

Acredito que maioria das pessoas que entraram nesse universo de conteúdo de jogos começaram sem preocupações. Simplesmente compartilhando algo que eles gostam. E foi assim com o YouTube como vocês viram.

Embora tenha sido lançado em 2005, acho que só no início de 2011 que começamos a utilizar a plataforma pra compartilhar gameplays da forma que é hoje em dia. Até então era mais pra videos de comédia e de gatos.

A presença do YouTube no Brasil com o YouTube Spaces só teve início no dia 27 de Outubro de 2014. Eu comecei a produzir videos no dia 21 de Agosto de 2013. Só tive onde buscar informações oficiais 1 ano depois.

Esse é um espaço oficial do YouTube que oferece cursos gratuitos para quem tiver um canal com mais de 2.500 inscritos. Eles também disponibilizam equipamentos e ambientes para gravação de videos.

Isso é muito importante. Quem está iniciando agora tem muito mais oportunidades de começar com uma boa qualidade.

Tirar dúvidas sobre quais equipamentos são necessários, a importância das meta tags, um título bem escrito e muitas outras coisas voltadas para a otimização do canal.

Quando comecei, não sabia nada sobre o painel de controle, para que serviam as networks, ou se eu deveria monetizar o canal ou não.

Acabei não monetizando nenhum video no canal.

Não monetizei por algumas questões:
1. Queria dar uma experiência melhor quando fossem assistir meus videos.
2. A conversão simplesmente não era justa. 1000 views = 1 dólar.
3. Não gosto da publicidade do YouTube com banners e comerciais.

O jogo era novo e a comunidade estava começando a crescer. Não tinha nenhuma justificativa para monetizar os videos. Precisava ter muitos números para que isso se tornasse algo que pagasse alguma conta.

Se eventualmente virasse um BRKS EDU ou um Leon da vida, com milhões e milhões de vizualizações por mês, a perspectiva muda, pois a quantidade de grana gerada por mês pode trazer mais beneficios para a comunidade do que se você não estiver monetizando.

Até cheguei a conversar com o BRKS EDU pelo Skype pra tirar dúvidas sobre as Networks e como funcionava isso tudo. Cheguei na conclusão que, para a minha situação, realmente não valia a pena fazer parte de uma network.

Para monetizar, eu teria que produzir, editar e lançar mais de um video por dia, para que no final do mês eu conseguisse chegar em uma quantia razoável para conseguir pagar as contas.

O problema era novamente o tamanho da comunidade. Acho que mesmo produzindo vários videos por dia (e ficar sem ter uma vida social) ainda assim, não teria como chegar em números que justificassem tudo aquilo.

Outro problema é o idioma. No Brasil as coisas demoram um pouco mais para ganhar ritmo, e todos os brasileiros, muitos mesmo sem entenderem o inglês, acabam assistindo videos americanos.

Mas os americanos não estão assistindos nossos videos.

Eu posso ter assistindo vários videos do Kripparian, Trump e do Trolden. Mas tenho certeza que eles nunca ouviram falar sobre mim, tenham assistido meus videos no YouTube, minhas Lives ou minhas Narrações.

Alguns de nós acabamos tratando os americanos como super celebridades, e com isso, não dando tanto valor para o que produzimos aqui no Brasil.

Isso não acontece só no Brasil. Me diga quantos videos ou lives vocês já assistiram em Espanhol, Japonês ou Russo? Eles passam pelos mesmos problemas quando produzem conteúdo na língua nativa.

Inglês é a língua mundial, e eu tenho certeza que olhando pra trás, se eu tivesse feito tudo em inglês para um público mais amplo, eu provavalmente estaria vivendo disso, como muitos lá fora já vivem.

Acontece que no fim do dia, eu ainda sou Brasileiro. :)

Não sou super patriota nem nada, mas eu queria fazer um conteúdo em Português. Queria ajudar a desenvolver a comunidade no Brasil, mostrar que também fazemos coisas com qualidade e que temos ótimos jogadores.

Inclusive, cheguei a fazer uma entrevista com o Paulo Vitor Damo da Rosa (PVDDR), que não só é Brasileiro, mas também é um dos melhores jogadores de Magic the Gathering do mundo.

O PVDDR também escreve artigos incríveis sobre várias coisas relacionadas a Card Games para o site “Channel Fireball”, mas pouquissimos de nós sabemos disso, visto que só quem entende inglês pode usufruir dessa fonte de conhecimento brasileira. Afinal, todos seus textos estão em inglês…

Então parece que se você não construir sua marca pessoal em inglês, tudo será mais difícil de alcançar.

Isso tem um efeito Bola de Neve, fazendo conteúdo em inglês gera mais visualizações, que trazem mais inscritos e gera mais renda no fim do mês.

É isso que acaba acontecendo com os jogadores americanos. Eles acabam contratando um editor de vídeo com a grana não só da quantidade de visualizações monetizadas no YouTube, mas também das Lives.

É assim que eles conseguem tempo livre para fazer Lives todos os dias, e ao mesmo tempo, publicar videos no YouTube. :)

O Twitch é uma outra plataforma que podemos utilizar para compartilhar nossos gameplays, ou até mesmo organizar torneios com narrações.

Ele lançou em Junho de 2011, mas só cresceu e tomou as proporções que tem hoje depois da aquisição pela Amazon em Agosto de 2014.

Se a Amazon não tivesse comprado, os servidores não dariam conta do crescimento explosivo dos últimos anos.

Algumas pessoas que começaram a fazer Lives com frequência, acabaram diminuindo a quantidade de videos lançados no YouTube. No Twitch não precisa editar nada, você pode interagir com a comunidade e isso torna um ambiente muito mais divertido para todos.

Já no YouTube não, vc produz seu video, publica e fica lá pra todo mundo assistir depois. É um conteúdo mais duradouro. Você pode interagir com os outros através dos comentários, mas não é a mesma coisa que ao vivo.

Nessa época ainda não tinha lançado o YouTube Gaming. A plataforma de livestream do YouTube, que não chegou nem perto do tamanho do Twitch.

Fiz minha conta no Twitch e fui pesquisar como configurar tudo pra conseguir fazer uma Livestream. Esbarrei pelo primeiro problema.

O único programa que tinha pra Mac custava U$ 500

Não tinha nenhum como o Open Broadcast Software, nem o pago do XSplit. Então fiquei usando a versão trial desse programa pago até que um belo dia saiu a versão Alpha do OBS para Mac. :)

Fiz meu Overlay, me programei pra fazer algumas Lives durante a semana e pra testar. Aqui eu também pesquisei sobre monetização e como se tornar parceiro do Twitch, mas logo esbarrei em outro problema.

Não existe a cultura de dar gorjetas no Brasil. :(

Eu morei 6 anos em Los Angeles. E lá é comum essa atitude. Deixou seu carro no estacionamento? Gorjeta para o manobrista. Saiu pra jantar fora? Gorjeta para o garçom. Pediu uma Pizza? Gorjeta para o entregador.

Aqui no Brasil isso simplesmente não acontece. É por isso que logo no início eu percebi que o Twitch nunca seria uma ferramenta viável de renda.

Nós pagamos R$ 20.00 pelo Netflix todo mês, mas lá tem seriados infinitos de qualidade, e quantos filmes a gente quiser assistir. Mas dar uma gorjeta pra ver alguém jogando online…? Prefiro comprar pacotinhos #kappa

Isso não iria acontecer por aqui tão cedo. Se acontecer…

Sem contar as diferenças dos preços em reais e em dólar. Na California o salário mínimo é de U$ 10.00 por hora. Se calcular uma média, arredondando para baixo… 8 horas por dia, 5 dias por semana, chegamos em U$ 1.600 dólares com 40 pacotinhos custando U$ 49.99.

Já no Brasil, o salário mínimo é de R$ 880. Quase metade do salário americano, mas se eu for comprar 40 pacotinhos por R$ 110 aqui, o equivalente é basicamente o dobro, se a gente não converter em dólar.

Eu entendo que o valor dos pacotinhos nunca passou por uma alteração, mesmo com o dólar ficando quase R$ 4.00, os preços continuaram o mesmo.

Mesmo assim, o Twitch é a melhor plataforma para todas as transmissões dos torneios de eSports!

O Anime Friends foi um dos primeiros, depois veio palestra sobre Heroes of the Storm e World of Warcraft na XMA para a nVidia, participação do AGE Campinas e até organização de um evento de lançamento "meio que oficial" de Montanha Rocha Negra aqui em São Paulo.

Mas tinha um tipo de evento que eu que organizava da minha forma, eles eram os Firesides Gatherings, é claro. :)

Fireside Gathering em Recife, Teresópolis, na PUC em São Paulo e na Laboriosa 89.

Sempre foi divertido organizar os Fireside Gatherings, e sinto falta deles. Mas eles começaram simplesmente por diversão para reunir e encontrar com outras pessoas que estivessem curtindo o HearthStone.

Os encontros estavam acontecendo em um lugar perfeito, a Laboriosa 89. Tinha tudo que era necessário para organizar os encontros, muitas mesas com cadeiras, uma internet rápida, um espaço amplo e aberto, uma TV grande e várias tomadas. Até hoje não achei um lugar parecido.

Tudo estava indo bem, quando recebo um email da Blizzard perguntando se eu teria interesse em organizar um encontro para o lançamento de Montanha Rocha Negra em São Paulo.

Mas é claro! Aceitei sem pensar duas vezes!

Esse foi o início de várias dores de cabeça por questões de falta de transparência, organização, despesas e responsabilidades por parte da Blizzard. Foi na organização desse evento que eu comecei a questionar a implicação de tudo que eu estava fazendo.

Tudo começou com a assinatura de um termo chamado "NDA", que era basicamente um termo dizendo que eu não iria falar nada sobre a expansão até que eles fizessem o lançamento oficial em suas próprias redes.

Fiquei sabendo que eu teria autonomia para organizar o evento da forma que eu quiser. Montar a estrutura, definir o local, criar o conteúdo, convidar palestrantes, agendar passagens, hotel e muitas responsabilidades que não deveriam ter ficado na minha mão. O evento não teria um orçamento.

Sem contar que as despesas que eu teria para viabilizar nunca foram contempladas em nenhum momento.

Organizar eventos e encontros geralmente é um trabalho que envolve resolver diversas questões, e eu tive sorte de ter a Tita me ajudando em todo o caminho. Infelizmente foi um trabalho muito estressante para nós.

Mesmo sendo convidado diretamente pela Blizzard, eu não poderia dizer que eles estavam envolvidos em nada do evento. Nem mesmo dizer que eles estavam apoiando.

Ficamos vários dias entrando em contato com lugares que teriam a estrutura necessária. Muitos deles tinham um custo de locação que não poderiamos arcar, decidimos então procurar faculdades com cursos de Games.

Conseguimos uma reunião com a PUC. Eles estavam dispostos a receber o evento, afinal, era um evento de games para uma faculdade que tem curso de produção de games. Fazia sentido para os dois lados.

Com o local escolhido, fui procurar os palestrantes.

» Matheus "Nuba" Revoredo, falaria sobre como as cartas mudariam o Meta.
» Leo "Leomane" Almeida sobre como treinar para ser um Pro Player.
» Harlei “HMarcelino” Liguori sobre o impacto das cartas na Arena.
» José Leonardo sobre a localização do HearthStone para Português.
» Eikani e Gabi sobre a História de Montanha Rocha Negra.

Dessas pessoas, alguns não são de São Paulo. O Nuba é de Natal, o Leo e o José são do Rio e a Flávia, que mora em Palmas mas estaria por aqui no dia.

Como a Blizzard disse que iria arcar com as despesas dos palestrantes, incluindo passagem de avião, taxi, hotel e alimentação, eu estava tranquilo.

Avisei os convidados como funcionaria, e eles aceitaram.

Todo mundo estava ciente de que não teria nenhum tipo de pagamento além das despesas para fazer o evento acontecer. E todos estavam OK com isso.

A Blizzard queria que eu cuidasse de pesquisar passagens e reservasse os hoteis, mas não fazia sentido eu cuidar disso, visto que eles que teriam que comprar e fazer as reservas, então com as informações das pessoas, do local e dos dias em mãos, passei tudo para a Blizzard resolver essas questões.

A confirmação da participação do José Leonardo chegou tarde demais para que a Blizzard conseguisse pagar o Hotel, então acabei hospedando ele na minha casa.

Quando o Leomane e o Nuba chegaram em São Paulo, foram pegos de surpresa assim que chegaram no Hotel. O quarto estava reservado, mas não estava pago, e que também precisavam de um cartão de crédito para qualquer tipo de despesa que tivesse dentro do Hotel.

Leomane com 16 anos, não tinha um cartão de crédito.

Só paypal para receber as premiações, mas eles não aceitavam. :(

Entrei em contato com a Blizzard pra resolver a questão, e depois de algumas horas, fui encontrar com os meninos pra almoçar, visitar a faculdade e ensaiar o conteúdo das apresentações.

Durante o dia acabamos descobrindo que a Blizzard só pagaria pela viagem e pelo hotel. Todas as despesas de taxi, alimentação etc seriam por conta de cada um deles. Todos ficaram bem chateados com essa informação.

Mesmo assim, não era uma preocupação imediata, e então aproveitamos o evento, que acabou dando super certo, apesar de todas as dificuldades.

Depois de muitos e muitos meses de troca de emails, envio de recibos, dores de cabeça e frustrações…

As despesas de algumas das pessoas acabaram sendo acertadas. Algo que deveria ser super simples, visto que são gastos muito pequenos, acabaram se tornando uma série de problemas recorrentes.

Torneios de Games existem há muito tempo. Pode-se dizer que o cenário competitivo de jogos começou junto com o Pong. Apostando um almoço, algumas moedas, ou até mesmo o título de campeão entre os amigos.

Mas só começamos a falar sobre e-Sports de verdade nos últimos 4 anos. E só nos últimos 2 que a coisa realmente começou a explodir de verdade.

Ainda existe muita dúvida do público geral e das mídias tradicionais para tentar descobrir O que é eSports? Como funciona eSports?

No Youtube, a maioria dos videos começam a surgir 4 anos atrás, sendo que muitos deles são mais recentes.

Esse é um universo novo onde todo mundo é novato. Todos nós estamos aprendendo e descobrindo com o tempo qual o melhor formato de fazer os torneios, como narrar eSports, quanto vale o trabalho de cada um etc.

Agora imagina poder viajar para a capital do eSports em Seoul — Coréia.

Lá é outro universo. Já existe uma cultura de eSports desde 1999, e tem até um Ministro do eSports! Na TV tem o canal da OGN que transmite partidas, torneios, entrevistas e documentários sobre jogos o dia inteiro.

O lugar é um sonho para quem quer trabalhar nesse universo, e eu estava indo para lá narrar um Torneio.

Essa viagem poderia culminar em uma carreira no mundo de eSports. Apesar de não ser um jogador competitivo, eu adorava narrar as partidas dos jogadores e movimentar a comunidade de HearthStone no Brasil.

Quando recebi a confirmação de que iria para a Coréia junto com o Marduk narrar as partidas do Leomane na Korea Masters, sabia que seria uma experiência inesquecível para todos nós.

Trocamos alguns emails para acertar a passagem, sobre como seria a transmissão, quem receberia a gente no aeroporto e todas as questões de logística da viagem. Tudo começava com a assinatura de um contrato de serviços.

Como sempre, quando recebi o contrato, li todos os parágrafos com fonte minúscula com muito cuidado, visto que a linguagem é muito técnica e burocrática. Afinal, eu não estava acostumado com aquilo.

Tinha o básico dizendo que eles iriam cobrir todas as despesas da passagem do avião, hotel e alimentação durante os dias do evento.

Quando acabei de ler, não acreditei o que mais estava lá.

Dizia que absolutamente tudo que eu falasse no evento seria de posse da própria Blizzard, e que eles poderiam utilizar da forma que eles quisessem, em qualquer material promocional e que eu não poderia argumentar em absolutamente nada disso.

Outro parágrafo dizia que a profissão narrador não constava como parte da união das artes de performance, e que a minha participação no evento não seria considerada "performance" e que eu não estaria entitulado a nenhuma compensação monetária por oferecer meus serviços para esse evento.

Eu sabia que seria difícil essa jornada… mas comecei a pensar que eu estava sendo explorado… Não era justo.

E no final do contrato dizia que eu teria 15 dias para constatar qualquer coisa que eu não estivesse de acordo nos termos. Isso se eu enviar impresso e pelo correio para que eles analizassem, e que tudo isso seria baseado nas leis, regras e instituições do estado da California…

Me senti absolutamente sem poder, assinei o contrato.

Quando falei pro Marduk sobre as coisas que estavam escritas, ele também ficou chocado. "Não vamos receber nada por isso? Como assim?"

Ele tinha assinado o contrato sem ler, e pelo visto estava esperando informações sobre isso por email, ou em alguma reunião online.

A gente ainda não tinha recebido nenhuma confirmação das passagens até então, e faltavam poucos dias para o evento.

Fui no cinema com a minha namorada, e na volta, quase meia noite, chega o email confirmando as passagens. A gente tinha que estar no aeroporto por volta das 8 horas da manhã do dia seguinte. Ou seja, daqui a pouco.

Cheguei em casa e arrumei as malas correndo.

De manhã, encontrei com o Leomane e o Swap, que já tinham começado suas jornadas, no Aeroporto de Guarulhos em São Paulo, junto com o Marduk, para depois embarcar para a Coréia.

Na hora de retirar nossas passagens, tivemos problemas com os tickets e perdemos o nosso voo. Ninguém podia nos ajudar por questão da diferença no horário. Ainda era de madrugada nos estados unidos.

Quando finalmente conseguimos falar com alguém e explicamos o que tinha acontecido, demorou mais algumas horas até que a gente conseguisse embarcar em outro voo para a Coréia.

Acabamos indo em voos separados. Eu fui em um Voo com o Marduk, e o Leo foi em outro Voo com o Swap.

A nossa viagem era pela Europa, com parada em Londres. Chegando no aeroporto famintos, fomos tomar café da manhã em um dos lugares.

Com a cotação do Euro, mais a taxa do câmbio, nosso café da manhã saiu por mais ou menos R$ 150.00. Guardamos os recibos e torcemos para ver aquele dinheiro de volta.

Chegando lá, encontramos com o Xixo, o Orange e a coordenadora que cuidaria da gente na Coréia. Também descobrimos que haviam trocado o Hotel pela terceira vez. Ninguém sabia pra onde a gente estava indo.

No Hotel, mesmo problema com confirmação dos quartos e os pedidos de cartões de crédito. Tivemos que ficar novamente esperando no Lobby até que alguém conseguisse resolver as questões…

Durante o evento, tudo fluiu direitinho. Conhecemos vários narradores mais conhecidos, que inclusive levaram a gente pra passear e conhecer a cidade. :)

Quando eles ficaram sabendo que a gente estava lá trabalhando e não ia receber absolutamente nada por isso, eles ficaram igualmente abismados.

O único que estava mais tranquilo, era o Leomane, que tinha ganhado o torneio que garantiu sua parte de U$ 2.000. Um outro problema futuro…

Mesmo enviando todos os recibos das despesas com taxi, alimentação e trocando diversos emails, nunca recebi aquele dinheiro de volta. Eu estava pagando para trabalhar, de novo.

Todos os Pó de Casts que nós faziamos, era sempre falando sobre um futuro cenário de eSports no Brasil com o HearthStone, e felizmente, não demorou para acontecer. Iriamos ter a Copa América de HearthStone. :)

Aqui entra o VIU Studio. Eu tinha sido contratado para fazer todas as transmissões oficiais de 2015. A Copa América e o Campeonato Mundial.

Tudo isso começou no dia 30 de Março de 2015.

Eu não fui contratado diretamente pela Blizzard para fazer as narrações, e sim pelo VIU Studio. Eles que foram contratados pela Blizzard para cuidar de todas as transmissões de todos os torneios de 2015.

Nunca assinamos nenhum contrato. Nada mesmo.

Eu tinha várias dúvidas e preocupações no início. Como vai funcionar o formato? Quanto vamos receber pelo trabalho? Precisa "realmente" usar terno e gravata? Quantos dias vamos narrar? Não sabiamos de nada.

A gente só sentou na frente da câmera e pronto.

[ >< ] Gravatinha for the Win

Não existe "Curso de Narrador de eSports". Procurei guias, tutoriais, e boas prátias na internet. A única fonte de informação que a gente tinha, era de quem já estava trabalhando com isso, e não conheciamos muitos deles.

A gente simplesmente foi narrando e aprendendo.

Isso não quer dizer que não existiam formas de estudar e melhorar nisso. Afinal, narração de eSports nada mais é do que entretenimento com conhecimento técnico do jogo. Mas algo diferente dos esportes comuns.

Existem diversos cursos tradicionais que poderiamos ter feitos para nos aprimorar. Cursos básicos de Teatro, Atuação, Comédia, Improviso são alguns que ensinam técnicas que podem ser aplicadas na narração.

O mais importante, são as histórias dos jogadores que estão disputando a colocação do melhor do mundo.

Acho que é crucial saber técnicas de contação de histórias para que a gente consiga fazer uma boa transmissão, com conteúdo de qualidade e que ajude a transformar esses jogadores nas lendas que eles querem se tornar.

Todos os jogadores tem uma trajetória, parte do nosso trabalho é saber contar essa história. Isso alinhado com o conhecimento técnico do jogo cria uma experiência de entretimento muito mais rica para o público.

Semanas foram virando meses, e a gente foi aprendendo as técnicas da narração enquanto otimizamos como a Copa América funcionava. Era um trabalho bem intensivo e cansativo. Com longas e longas horas.

Mas ainda tinha algumas questões me incomodando muito. Eu estava tendo diversos gastos de transporte e alimentação todos os dias que eu precisava ir para o estúdio, e ainda não estava recebendo um centavo pelo trabalho realizado.

Só depois de bastante tempo que ficamos sabendo realmente quanto que a gente receberia pela narração durante a temporada de 2015 da Copa América de HearthStone.

Uma bagatela totalizando…

1.000 dólares. Por 8 meses de trabalho.

Eu não estava acreditando. Todo aquele tempo investido, toda a dedicação e sacrificios não estavam virando nada. Larguei mão de tudo pra viver de algo que não pagava nem a comida da minha geladeira.

Além de não receber pelas despesas diárias, descobri que só receberiamos nosso pagamento em Janeiro de 2016. :(

Durante todos os meses de transmissão da Copa América e Campeonato Mundial, eu investi todo o meu esforço, dedicação e dinheiro para fazer isso acontecer. Eu estava tirando dinheiro do meu bolso para trabalhar.

Final da Copa América 2015

A comunidade simplesmente não sabia disso, e eu sabia que não podia desistir no meio da transmissão, mesmo sem ter assinado nenhum contrato, eu não podia deixar a comunidade na mão.

Eu iria finalizar a temporada. Custe o que custar.

Todas as vezes que eu recebia mensagens depois da transmissão dizendo que estavam adorando a Copa América, isso me deixava empolgado, pensando que realmente estava fazendo a coisa certa.

O difícil mesmo era tentar ignorar os comentários negativos e as críticas de quem não estava curtindo. Mas como eu disse, estavamos aprendendo a fazer as narrações da melhor forma possível, não foi fácil.

Todas as vezes que eu conversava com o VIU Studio sobre essas questões, era sempre as mesmas questões. "A Blizzard não quer pagar mais para os narradores" ou "A Blizzard não libera nossa grana pra pagar vocês."

Chegou um ponto em que não estava dando mais para segurar, e toda minha grana já tinha ido embora. Por sorte, depois que falei sobre as dificuldades para o VIU Studio, eles conseguiram me adiantar 1/3 do valor do pagamento. Isso foi o suficiente até chegar meu próximo freela.

As dificuldades de ser um Pro Player

Como eles conseguem sobreviver nesse mundo?

Não é fácil começar nessa carreira de jogador profissional…

Primeiro você precisa dedicar uma quantidade absurda de tempo para treinar, ficar bom e participar da maior quantidade possível de torneios.

Como a maioria deles são nos Estados Unidos ou na Europa, precisamos nos adaptar aos fusos horários desses lugares, muitas vezes virando a noite jogando torneios. Dormindo pouco e ainda trabalhando ou estudando durante o dia. É bem complicado.

Se isso não bastasse, a única certeza que você tem sendo um Pro Player, sem time, é que você precisa ganhar os torneios para receber a premiação. Caso contrário, fica com a conta do banco vazia.

Agora imagine só, você foi e ganhou uma premiação de U$ 2.000 em um torneio na Coréia, mas só receberia o pagamento 6 meses depois…

Isso que aconteceu com o Leomane, e todos os outros jogadores que participaram do torneio. E essa é uma prática muito comum.

LegolaS, 1º Colocado em 2016 na primeira temporada.

Basta uma simples pesquisa no Reddit ou no Google que você encontrará diversos relatos de jogadores que nunca receberam o valor da premiação, ou demoraram meses e meses até conseguir receber o pagamento.

O próprio Legolas, que ganhou a primeira temporada de 2016, não faz ideia de quando ele vai receber o dinheiro da vitória.

Não existe transparência em relação ao pagamento dos jogadores.

Com todas essas mal-práticas do mercado acontecendo, como que nós jogadores, narradores e empresas de transmissão, conseguimos sobreviver nesse universo? Todo mundo está gastando dinheiro do bolso, e não obtendo um retorno que justifique isso tudo.

É por isso que eu fico muito confuso quando vejo artigos falando que eSports está crescendo e movimentando milhões e milhões de dólares.

Fonte: ESPN Brasil

Sério gente… Pra onde que todo esse dinheiro está indo?

Pagando contas durante 2 anos.

Se eSports não estava pagando minhas contas…

Como que eu fazia para sobreviver durante esse tempo todo que estava trabalhando no cenário de eSports sem receber nada? Bom, meu título no Cinese é "Projetista Polivalente" por causa do meu interesse em aprender milhões de coisas diferentes. :)

Eu sempre fui curioso. Sempre gostei de pesquisar sobre diversas coisas, e isso fez com que eu tivesse um leque de habilidades amadoras que era o suficiente para conseguir vários mini trabalhos aqui e ali.

Um desses trabalhos, e o mais importante, foi com uma produtora de eventos americana. Meu primeiro trabalho com eles foi quando eu ainda estava trabalhando na agência de Branding.

Eles precisavam de alguém que soubesse usar o Keynote, um programa de apresentação da Apple, tipo o PowerPoint. Além disso, precisava saber Design, falar inglês e ter experiência em eventos. Eu fui escolhido.

Nesse primeiro trabalho, não ganhei nada. Eu era funcionário da agência, então era mais um Job da agência. Nada de mais. Eu tinha meu salário.

Eu iria trabalhar nos eventos do Gartner. A maior empresa de pesquisas de tendências do mercado de TI. O público alvo eram os CEOs e CIOs de empresas de Tecnologia. O ingresso custava 3 vezes o valor que eu recebi pela Copa América. Eu estava trabalhando com presidentes de multinacionais.

Como minha infância e adolescência inteira foi baseada no universo de TI…

A experiência e expertise que eu fui adquirindo nesses eventos culminou em uma amizade que vem durando a mais de 5 anos com a produtora.

Cada ano eu participo de mais eventos, e através deles já viajei a trabalho para Orlando, Africa e para a India.

Todas as vezes que eu trabalho com eles, sou tratado de forma digna e transparente em todas as questões. Eles reservam minha agenda com mais de 6 meses de antecedência e nunca tive problemas com passagens e reservas de hotéis, não importa o lugar do mundo que eu ia com eles.

Tudo sempre estava confirmado, reservado e avisado.

O trabalho era realizado, e antes de voltar pro Brasil, eu recebia meu pagamento. Como eu ganhava por diárias, uma semana de evento era equivalente a quase 5 vezes o valor da narração do ano inteiro.

Esse foi um dos trabalhos que pagava as minhas contas.

Ambas são empresas americanas, ambas empresas grandes nos seus setores. A diferença era que uma é empresa de eventos, que sabem lidar com todas as dificuldades de produção, organização e logística.

A Blizzard é uma produtora de jogos, e isso ela faz muito bem.

Mas agora que ela está esticando os braços para fazer parte do universo de eventos de eSports, narração e produção de torneios no mundo inteiro, ela tem muito que aprender ainda. Ela é bem novata nesse universo.

Para tapar esse buraco que eles acabaram comprando a MLG. Uma organização profissional de organização de eventos de eSports.

Talvez com a MLG todas essas questões serão resolvidas.

Acontece que muitos de nós estamos saindo prejudicados no início, e isso acontece por falta de transparência na comunicação entre as empresas e as pessoas que estão fazendo isso tudo acontecer. Os produtores de conteúdo, narradores, empresas de transmissão, jogadores profissionais etc.

Eu sei que com o tempo a situação vai melhorar, mas precisamos ter boas práticas no início para que possamos crescer implementando essas boas práticas. Só assim conseguimos com que as pessoas envolvidas nesse universo possam crescer, se desenvolver e ter uma carreira justa.

Nessa questão não pode ser o "Em breve™" da Blizzard.

Fechamento

E agora, José?

De pouco em pouco, todos esses problemas foram me afetando e fazendo eu perder interesse. Sempre me questionava se isso tudo valia a pena mesmo.

Eu sinto que fechei um ciclo tendo parado onde parei. Consegui tudo que eu coloquei esforço para conseguir. Visitei a Blizzard, participei da BlizzCon, ajudei a dar início a um cenário de e-Sports no Brasil para a Blizzard.

Eu desejando um Feliz Ano Novo para a comunidade de HearthStone. :)

Fui um dos primeiros narradores oficiais do Brasil de HearthStone e passei por várias experiências incríveis ao longo desses 2 anos.

Mas sinto que essa história ainda não acabou. Tem várias outras questões que eu vou abordar na última parte do texto. Precisamos falar abertamente sobre os problemas, e então, juntos, descobrir formas de resolvê-los.

Se tem uma coisa que toda essa aventura me provou, é que nada é impossível.

Eu teria feito tudo de novo por vocês. De verdade.❤

Parte 1 — Nevacas são feitas de Flocos de Neve

A primeira parte do texto é sobre minha infância. O que me trouxe até aqui, e porquê eu escolhi fazer parte desse universo. Todas as sementes foram plantadas nessa época. (Online!)

Parte 2 — O sonho de ver neve pela 1ª vez.

A 2ª parte do texto é sobre o início do conteúdo no YouTube, a realização de alguns sonhos de infância, e todas as coisas boas que o HearthStone colocou na minha vida. (Online!)

Parte 4 — A calmaria após a Tempestade.

Na última parte falo sobre minha visão sobre Criadores de Conteúdo e o relacionamento com Marcas e Empresas. A minha vida como “nômade digital”, meu projeto engavetado e a minha paixão por conhecimento.
(em breve)

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