SAN JOSÉ FOTO
5 min readMar 6, 2016
Superwalés

Entrevista com Patrick Wilocq

Entrevistamos Patrick Willocq, fotógrafo francês, que apresentará o trabalho “Superwales” durante a segunda edição do SAN JOSÉ FOTO. Patrick falou entre outras coisas sobre como a fotografia mudou sua vida profissional e o reconectou com a DR do Congo, sua relação com a tribo de pigmeus Ekonda e o ritual das mães Walés que inspirou a série Superwales.

Como e quando você se tornou fotógrafo ?

Fui fotógrafo auto-didata durante os últimos vinte e cinco anos. Eu naveguei entre a minha carreira profissional e meu hobby pela fotografia por muitos anos . Trabalhava para multinacionais , ajudando a construir seus negócios na região Asiática do Pacífico. Quando eu tinha tempo livre gastava de pegar minha câmera e clicar . Eu cresci cada vez mais frustrado por não ter mais tempo para me dedicar a fotografia . Em 2009, eu voltei para o Congo pela primeira vez em 27 anos e totalmente reconectado comigo . No meu caminho de volta para Hong Kong eu disse a mim mesmo no avião que eu desistiria da minha minha vida na Ásia e me tornaria um fotógrafo . Levei 2 anos para me desligar e me reinventar.

Superwalés

Qual é a sua relação com a República Democrática do Congo ?

Eu cresci lá quando eu era criança ( naquela época chamava Zaire). Eu amo esse país. Eu me sinto totalmente em casa quando estou nas aldeias remotas , trabalhando com as comunidades locais. Eu também estava cansado de imagens que estigmatizavam a nação , então eu comecei a documentar a cultura e os costumes indígenas através de imagens performáticas cuidadosamente compostas, para levá-las para longe da habitual e estereotipa representação da Rep. Democrática do Congo e trazer uma nova interpretação da África.

Superwalés

Como você se conheceu os pigmeus Ekonda e o ritual da mães Walés?

I tropecei neles por sorte . Um dia eu peguei uma trilha e terminei cara a cara com uma mulher vermelha . Eu não tinha ideia de quem era ela . Então eu aprendi que o s Ekondas acreditam que o momento mais importante na vida de uma mulher é o nascimento de seu primeiro filho.

A jovem mãe , é chamada Walé (algo traduzido como mãe de primeira viagem). Ela retorna a seus pais onde permanece isolada por um período de 2 a 5 anos . Por respeitar rigorosamente vários tabus durante todo este período , incluindo um tabu sobre sexo , lhe é dado um status semelhante ao de um Patriarca . O final de seu isolamento é marcado por um ritual de canto e dança. A coreografia e as músicas têm uma estrutura muito codificada mas são criações únicas específicas para cada Walé.

Superwalés

Sempre fui fascinado por tribos nativas porque tenho a sensação de que eles têm uma riqueza que de alguma forma perdemos . Para documentar esta linda homenagem à maternidade , a fertilidade e a feminilidade , propus a algumas Walés , quem já conhecia por mais de um ano , a participar de um ensaio fotográfico que testemunhasse uma parte de sua história pessoal . Cada set fotográfico funcionou como uma representação visual de um dos temas que a Walé canta sobre o dia da sua libertação da reclusão . Assim quando você olha uma imagem , você está em essência a vendo uma música .

Sobre o trabalho “ Superwalés “ como você teve esta ideia?

Através deste projeto que eu queria para transformar a realidade atual para ajudar a compreender a beleza e a dificuldade das mães-pigmeu de primeira viagem na República Democrática do Congo. É uma projeção visual do que o ritual de maternidade Walé Ekonda poderia se tornar se continuasse a resistir e abraçar a pressão da vida moderna.

Existem vários ritos na África que desapareceram devido à colonização , a religião , desenvolvimento , a globalização e assim por diante . Eu espero que este ritual não desapareça mas desejo que ele se adapte mantendo a sua autenticidade . Por exemplo , a mala entregue ao final da festa de reclusão é um peso enormes em termos financeiros sobre o marido da Walé, e este aspecto deve ser reformulado.

Superwalés

O que você acha que a fotografia pode contribuir para discussões sobre gênero , que é o tema do festival deste ano ?

Penso como sempre a fotografia pode desempenhar um papel fundamental na criação da visão do mundo que todos queremos ver . Penso que a fotografia pode ajudar as pessoas a compreender a complexidade da discussão de gênero e também acredito que a fotografia pode engajar as pessoas a vir juntas e criar a mudança .

Na América Latina a discussão de gênero está ficando mais forte atualmente , a partir de sua experiência de ter vivido em diferentes realidades ( Europa , Ásia , África ) você pôde ver esta discussão presente , ou você acha que ainda é fraca na maior parte destas sociedades ?

Superwalés

Penso que as discussões estão sempre presente mas diferem um pouco devido as diferenças culturais . Não tenho certeza de que ter uma discussão global é o caminho a seguir . Cada sociedade deve abordar este debate de forma e ritmo diferente .

Você está trabalhando em projetos futuros ?

Sim , terminando o projeto Superwalés . Também tenho outros nas mangas mas é muito cedo para dizer já que ainda estão em processo de maturação na minha mente.

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