A homenagem simbólica a Maria Firmina dos Reis no dia do falecimento (11/11/1917)

Sérgio Barcellos Ximenes
4 min readAug 9, 2020

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Resumo

Tema: a primeira menção conhecida à obra de Maria Firmina dos Reis em contexto acadêmico, feita exatamente no dia de seu falecimento, sem que os participantes tivessem essa informação.

Contexto da menção: o estudo Celso de Magalhães, lido pelo escritor Fran Pacheco em sessão pública na Academia Maranhense, em 11 de novembro de 1917.

Menção breve a Maria Firmina: “[…] Maria Firmina dos Reis, ainda viva, soterrada nas paragens vimaranenses [isto é, de Guimarães], vergando ao peso de 92 janeiros […]”.

Publicação do estudo: na Revista da Academia Maranhense de Letras, número 1 (1916–1918), e no livro Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz (Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957).

Local da referência à autora: na página 237 do livro supracitado.

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Apresentação

Em 11 de novembro de 1917 falecia a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, nascida a 11 de março de 1822. Ninguém mais do que ela deve ter sentido tanta surpresa pela existência longeva: desde adolescente, Maria Firmina definia-se como “melancólica”, e em textos de prosa e poesia reconheceu ter desejado, muitas vezes, a paz associada ao suicídio.

Aos 95 anos de idade, Maria Firmina morreu pobre e cega. Não se conhecem obituários em jornais do Maranhão ou qualquer outra forma de reconhecimento de suas contribuições à cultura maranhense, após a morte.

A carreira literária também teve longa duração: quase 48 anos, da publicação de Úrsula em agosto de 1860 à divulgação de seu último poema no jornal Pacotilha, de São Luís (MA), em 20 de fevereiro de 1908.

Como se deu com tantos escritores brasileiros daquela época, a autora maranhense morreu sem nenhuma expectativa de que no futuro seria lembrada com carinho e admiração, e sua obra divulgada entre o público e estudada no meio acadêmico.

Também esse tempo, no caso de Maria Firmina, demorou bastante. Somente onze anos após o lançamento da segunda edição de Úrsula, em 1975, o romance, até então inacessível, assim como sua obra, viriam a merecer o primeiro trabalho acadêmico: Um autorretrato de mulher: a pioneira maranhense Maria Firmina dos Reis, da escritora e pesquisadora Luiza Lobo.

Se o ano de 1986 marcou a entrada efetiva de Maria Firmina dos Reis na Academia, o de 1917, o próprio ano do falecimento, marcou a sua entrada simbólica. Isso porque em 11 de novembro daquele ano o escritor Fran Pacheco leu um estudo intitulado Celso de Magalhães em sessão pública na Academia Maranhense.

A Academia Maranhense havia sido fundada em 10 de agosto de 1908, tendo como um dos fundadores justamente o orador Fran Pacheco.

Nesse estudo, pela primeira vez a autora maranhense era mencionada de maneira elogiosa, sem que nenhum dos acadêmicos ou dos participantes da sessão soubessem do falecimento da autora, no mesmo dia.

O estudo saiu no ano seguinte na Revista da Academia Maranhense de Letras (número 1, 1916–1918), conforme se lê no recorte abaixo.

Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, página 224, Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957.

Reproduzido depois em Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, vai da página 224 à 255 do livro.

Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, página 224, Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957.

Na página 237 se dá a breve menção a Maria Firmina:

“[…] Maria Firmina dos Reis, ainda viva, soterrada nas paragens vimaranenses [isto é, de Guimarães], vergando ao peso de 92 janeiros […]”.

Na verdade, a autora faleceu aos 95 anos de idade, naquele dia. “Soterrada” soa quase como uma premonição.

Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, página 237, Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957.

O contexto da menção era o registro dos nomes dos colaboradores do periódico Seminário Maranhense.

Simbolicamente, nesse dia Maria Firmina dos Reis saía da vida para entrar na Academia, meio que a acolheu e no qual, 100 anos depois, é homenageada com mais de 70 estudos que abordam diversos aspectos da vida e da obra da primeira romancista brasileira.

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Sérgio Barcellos Ximenes

Escritor. Pesquisador independente. Focos: história da literatura brasileira e do futebol, escravidão e técnica literária.