A Ascensão do Barcelona
Apesar de figurar na ultima Final de Champions League, a equipe catalã não venceu a liga domestica mais uma vez e teve sim momentos de oscilação em 18/19. O choque de realidade na final da própria UWCL, onde foi atropelada pelo Lyon, foi outro aspecto que marcou a temporada passada. Já em 2019/20, o projeto do FC Barcelona no feminino amadurece e podemos ver os frutos, os dois jogos seguros contra a forte Juventus na maior competição europeia e a goleada sobre as rivais do Atlético de Madrid na Liga são um bom termômetro disso. Preparamos uma análise das principais peças da atual temporada e como O Todo vem funcionando.
Sabe-se, que quando o assunto é “Barcelona”, a influencia de Cruyff, a tradição do clube com atletas holandeses e da filosofia do “jogo bonito” que circunda o clube precisam sempre ser citadas, e aqui, na equipe feminina, temos todas estas questões em evidencia. Estamos em Dezembro de 2019 e já se percebe uma mudança de patamar no Barcelona 19/20 comparado ao da temporada passada. Mas quais foram os principais acertos dentro de campo?
Contratações de acordo com a filosofia do clube
Para 2019/20, o Barça foi as compras e trouxe como principais destaques Jenni Hermoso e Andrea Falcon do rival Atlético de Madri e Graham Hansen, norueguesa do poderoso Wolfsburg da Alemanha.
Jenni, que já havia passado pelo clube, saindo em 2017 para o PSG, voltou, no inicio da temporada atual, ainda melhor, e oferecendo diversas possibilidades como descrevemos no texto As diversas faces de Jenni Hermoso. Falcón veio como uma Ponta(Extrema) canhota de muita velocidade e fôlego. Mas ainda faltava algo, uma Atleta de Classe Mundial, que pudesse elevar o nível da equipe sem ocupar o espaço de alguma das peças principais ja estabelecidas, e a escolha foi por Caroline Graham Hansen, a Peça que faltava, a norueguesa que chegou para substituir a brasileira Andressa Alves, de saída para a Roma.
O Modelo de Jogo acima de tudo
O técnico Lluis Cortes segue a risca os preceitos de posse de bola e jogo propositivo que a escola barcelonense tanto preza e, com as contratações e a forte base espanhola, conseguiu encaixar a equipe de maneira muito competente e equilibrada.
Na fase ofensiva, Tudo se inicia pela goleira titular da seleção espanhola, Sandra Panos que, por mais que não esteja entre as melhores do mundo na posição, passa segurança e trabalha minimamente com os pés, sempre atenta também a linha alta das defensoras.
Lluis Cortes atua com as laterais em amplitude, e aqui temos Marta Torrejon, titular absoluta pela direita. já na esquerda, Leila Ouiahabi, que é uma atleta equilibrada, mais técnica, revesa na posição com Andrea Falcon, Ponta que se adaptou muito bem ao novo posicionamento e permite que o time seja ainda mais agressivo.
Defensoras com bola tem preferencia, e a holandesa Stefanie van der Gragt, atualmente lesionada, é o melhor exemplo disto, mas também podemos destacar Mapi Leon, uma antiga lateral esquerda que tem boa velocidade para jogar adiantada e boa relação com a bola para uma saída limpa. Andrea Pereira é a outra opção que pode compor o miolo de zaga.
A saída é feita de trás e geralmente em Lavolpiana (Saída de 3), algo que exige a participação da volante mais recuada na ocasião, podendo ser a francesa Kheira Hamraoui, um pouco mais física ou da espanhola Patri Guijarro, mais dinâmica, e que pode aparecer cumprindo este papel, mas com mais frequência, é vista numa linha mais avançada, ao lado de Alexia Putellas (atleta da qual já falamos recentemente aqui no texto A Transformação de Alexia Putellas). O meio campo coordena todas as ações e a ideia aqui a manutenção da Bola, mas sem perder a Agressividade no ataque, a equipe procura ocupar o campo adversário oferecendo apoios e trocas de passes rapidas o bastante para desajustar a marcação adversária. Alexia e Guijarro protagonizam neste setor controlando o ritmo das ações com bola. Hermoso também pode ser vista compondo o trio de meio campo em algumas oportunidades.
Chegamos ao ataque e suas possíveis combinações (imagem acima). O último terço do Barcelona é marcado pelas infiltrações das Pontas e das Meias mais avançadas, e aqui, Hermoso talvez seja a peça que abre um maior leque de possibilidades — como explicamos no texto já citado acima — atuando de Falsa 9, ela é quem abre os espaços para as infiltrações das companheiras, mas também é uma boa finalizadora dentro da grande área, além de “pensar como Meia Armadora”. Temos também a Centroavante nigeriana Oshoala, que faz grande temporada e comparada à Jenni Hermoso, é mais aguda, física e objetiva, pode tanto atacar espaços com velocidade, quanto ser um pivô mais físico, oferecendo profundidade e apoios mais próximos ao gol. Porém, provavelmente será uma 12º jogadora nas noites europeias. Pela ponta direita, Hansen, trás algo valioso, velocidade e drible com condução, algo que obriga uma marcação adversária sempre com dobra pelo seu setor. Na Ponta Esquerda temos atualmente Mariona Caldentey, atacante que gosta de receber a bola no espaço para finalizar em poucos toques, a espanhola segue bem, mas apenas ocupa a vaga que será de Lieke Martens. A holandesa já voltou de lesão e tem tudo para formar um trio de ataque de poderoso com Hansen, pela direita e Hermoso, centralizada.
A marcação é baseada em pressão pós perda com uma linha de 4 defensiva, mais estruturada, com o restante da equipe buscando encaixes individuais e geralmente, tudo isso em um Bloco Alto, principalmente contra equipes inferiores. Contra adversárias de maior expressão, utiliza-se a marcação em Bloco Médio com Zona Pressionante, mas com Guijarro e Putellas coordenando as subidas de Pressão.
Fechamos assim a primeira série do #BuildUP sobre o Barcelona. Até aqui, a temporada vai muito bem, bom aproveitamento das jovens espanholas, contratações elevando o nível do time e uma equipe mais competitiva e consistente em relação a do ano passado. Hoje, o FC Barcelona se mostra com mais lastro para enfrentar as grandes potencias europeias, fator importante, rumo ao tão sonhado título inédito da Champions League.
