O mercado do audiovisual no RS

Vanessa Hauser
Arquivo 11
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5 min readJun 14, 2018

Por Guilbert Trendt, Fernanda Frühauf, Liliane Franco, Alexandre Briczinski e Camila Santos.

O homem que copiava (2003), dirigido por Jorge Furtado. Um dos longas mais conhecidos do país. Foto: Alex Sernambi/Casa de Cinema de Porto Alegre.

O Rio Grande do Sul é considerado o terceiro polo audiovisual do Brasil, atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo. Em um mercado com tantas produções, o perfil dos realizadores se mostra heterogêneo, com a velha geração atuando e trocando experiências com os jovens, na maioria formados nas escolas de cinema.

O mercado de trabalho cinematográfico possui uma relação de proximidade com os cursos de cinema presentes no estado. Diversos filmes premiados foram produzidos por alunos recém-formados, o que confirma o potencial das universidades gaúchas na área. Atualmente, os alunos graduados no estado, como por exemplo da PUCRS, têm desde as primeiras aulas contato com diversas áreas, como produção, roteiro e direção de fotografia, etc.

Em 2010, de acordo com o Programa das Nações Unidas Para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), “as indústrias criativas estão entre os setores mais dinâmicos da economia mundial e oferecem grandes e novas oportunidades de crescimento para os países em desenvolvimento”. É nesse nicho que o cinema está inserido, tendo participação e sendo responsável por empregar boa parte dos envolvidos na área.

Infográfico: Guilbert Trendt

Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) identificou 1.951 empresas envolvidas nas produções audiovisuais do estado, o que gera em torno de 5 mil empregos, sendo eles formais, sem contar os temporários, em maior número, que estão envolvidos nas produções.

Mas o potencial de crescimento ainda é pequeno devido ao pouco investimento por parte de empresas privadas e, principalmente, do Governo Federal junto às leis de incentivo à cultura. Entre 1995 e 2012 foram destinados 1,3 bilhão de reais para produções cinematográficas no Brasil. Estima-se que mais de 90% dos recursos disponíveis foram direcionados ao eixo Rio-São Paulo. Mesmo sendo o terceiro polo produtor cinematográfico, o Rio Grande do Sul tem acesso somente a menos de 3% dos recursos disponíveis, segundo carta de conjuntura da Fundação de Economia e Estatística do estado (FEE) assinada por Tarson Núñez.

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Os dados do Arranjo Produtivo Local do Audiovisual (APL) indicam que a região metropolitana e a capital gaúcha são as principais áreas onde estão as produtoras de filmes e séries. Esses municípios abrangem 1.348 estabelecimentos (69,1% do total) relacionados à atividade audiovisual e 80,1% dos trabalhadores. A maioria dessas empresas foi criada a partir dos anos 2000 e cerca de 26,92% tiveram fundação nas décadas de 1970, 1980 e 1990, data anterior à abertura de novos cursos de cinema e produção audiovisual no estado.

Da esquerda para a direita: Ela tornou-se freira (1972). Foto: Reprodução/Internet. | Netto perde sua alma (2001). Foto: Divulgação. | Os senhores da Guerra (2016). Foto: Divulgação.
Da esquerda para a direita: A filha de Iemanjá (1981). Foto: Reprodução/Teixeirinha. | Anahy de Las Misiones (1997). Foto: Divulgação/Arte 1.

Com esses cursos, o espaço para a inserção de novos profissionais no mercado e a qualificação dos que já estavam em atuação se expandiu. Até a implantação dessa modalidade de ensino no Rio Grande do Sul, a principal fonte de capacitação era o aprendizado por experiência e a absorção de mão de obra proveniente de formações acadêmicas na área da Comunicação Social.

Apesar disso, atualmente o estado dispõe de oito cursos de cinema entre bacharelados e tecnólogos (Feevale, FSG, PUCRS, UCS, UFPel, Uniritter, Unisc e Unisinos), responsáveis pela formação de novos roteiristas, produtores, diretores, e outras modalidades que a profissão exige. As faculdades dispõem de alta tecnologia e permitem experiência na área ainda dentro do ambiente acadêmico.

Da esquerda para a direita: Concerto Campestre (2005) Foto: Divulgação/Internet | Coração de luto (1967) Foto: Divulgação/Internet
Da esquerda para a direita: Me beija (1984) Foto: Alberto Salvá/Casa de Cinema POA | Anchietanos (1997) Foto: Alex Sernambi/Casa de Cinema de POA
Meu tio matou um cara (2004) Foto: Alex Sernambi/Casa de Cinema de POA

Essa qualificação tem grande interferência no perfil dos trabalhadores da área, já que os principais pré-requisitos para a contratação são criatividade, proatividade e, principalmente, comprometimento. Mesmo com esses requisitos completos, ainda é comum encontrar trabalhadores que não têm formação técnica ou diploma.

Quando o assunto é competitividade no mercado, é perceptível a concorrência, já que as empresas responsáveis pelas produções se sobressaem as outras na qualidade da mão de obra e também na entrega artística das produções. O acesso aos melhores recursos está diretamente relacionado aos investimentos públicos, mas as dificuldades na captação desses fundos estão ligadas à burocracia envolvida.

Infográfico: Guilbert Trendt

A falta de recursos dessas pequenas produtoras influencia na capacidade de divulgação das produções, ou seja, as que têm mais dinheiro acabam por se sobressair em relação às menores. A saída encontrada pelas pequenas empresas foi unirem-se umas às outras. A junção de recursos, equipamentos e funcionários diminui custos e auxilia na busca dos recursos.

A inexistência de novos editais para a produção dos longa-metragens produzidos no estado já completa 10 anos. Essa dificuldade na captação de recursos influencia na competitividade das empresas envolvidas. Essa perda reflete diretamente na concorrência com empresas do eixo Rio-São Paulo, já que as produtoras do Sudeste são mais consolidadas e dispõem de mais recursos. Assim, a disputa de exibição nos principais parques exibidores de filmes acaba por beneficiar produções do Rio e São Paulo, de acordo com informações do Plano de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local do Audiovisual em 2014.

Infográfico: Guilbert Trendt

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Vanessa Hauser
Arquivo 11

Brazilian journalist living in Barcelona. Rebuilding a life style and trying to come back to writing as a real passion.