Terra dos Festivais… de Cinema!

Vanessa Hauser
Arquivo 11
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4 min readJun 14, 2018

Por Guilbert Trendt, Fernanda Frühauf, Liliane Franco, Alexandre Briczinski e Camila Santos.

Palácio dos Festivais, onde ocorre a premiação dos vencedores do Festival de Cinema de Gramado. Foto: Cleiton Thiele/Agência PressPhoto

Criado em plena vigência do Ato Institucional 5, o Festival de Cinema de Gramado foi realizado pela primeira vez em janeiro de 1973. Considerado um dos 100 festivais mais notáveis no cenário internacional, o evento acontece de forma ininterrupta desde a criação e teve raízes na Mostra de Cinema de 1969 e 1971 como parte da programação da Festa das Hortênsias.

Das maneiras de se burlar a censura imposta pela Ditadura Militar aos novos modos se produzir filmes o século 21, o festival, ao longo dos 45 anos de existência, se tornou palco para mostrar o que tem sido realizado em termos de produções cinematográficas no estado, no Brasil e em países da América Latina. Além disso, somam-se debates e encontro entre artistas, realizadores, pesquisadores, estudantes, críticos e o grande público.

Curador do Festival de Cinema de Gramado desde 2012, Marcos Santuário conta que o evento sofreu grandes mudanças ao longo dos anos. “Eu já vinha fazendo a cobertura jornalística, acompanhando a evolução há vários anos. Mudou do ponto de vista de crescimento e inovações. Agora, estamos observando todas as questões relacionadas às mudanças do audiovisual em função de novas formas de produção, distribuição e exibição, o que faz com que o cinema tenha que se renovar, se verificar e se observar de outras maneiras”, contextualiza Santuário.

Marcos Santuário, um dos curadores do Festival de Gramado. Foto: Diego Vara/Agência Pressphoto

Entre as principais transformações que o evento sofreu está a internacionalização do festival, que passou a contar com produções do cinema latino-americano a partir de 1992. O fato aconteceu após a edição de um pacote de medidas provisórias extinguindo entidades e leis de incentivos culturais, como a Embrafilme, pelo então presidente da República Fernando Collor de Mello. “Nos anos 90, com a carência de filmes brasileiros para exibição, o festival se abre a passa a apresentar produções latino-americanas”, conta o curador.

Outra mudança perceptível foi sobre as personalidades que passaram a desfilar pelo tapete de gala. De acordo com Santuário, a partir de 2012, a curadoria passou a trazer artistas que tenham relação com o cinema e com as obras cinematográficas. “Eles estão nas obras, fazem-nas ou são homenageados por sua carreira audiovisual. Não tem mais tapete vermelho para quem não é do universo do cinema”, ele explica. Ainda conforme o curador do Festival, “o tapete vermelho tem artistas talentosos, vistos em produções audiovisuais na televisão, em séries, novelas, mas estão lá especificamente por seu trabalho cinematográfico. São essas escolhas que dão credibilidade às nossas, e ao Festival”.

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Mas engana-se quem pensa que o único festival de cinema gaúcho é o de Gramado. Com pouco mais de 23 mil habitantes, a cidade de Três passos, localizada no Noroeste do Rio Grande do Sul, tem o próprio festival destinado às produções de curta-metragem. O evento teve estreia em novembro de 2014 e seu foco é apresentar as obras produzidas no Brasil e nos países que fazem parte do Mercosul, com mostra competitiva nas categorias de ficção, documentário, animação experimental e temática ambiental.

Vencedores do 3º Festival de Cinema de Três Passos. Foto: Arquivo pessoal/Carton Cardoso.

Carton Cardoso, publicitário e um dos organizadores, conta que a sensação é de muita felicidade ao ver o festival sendo reconhecido a nível estadual mesmo quando é realizado em uma cidade pequena, como é o caso de Três Passos: “O nosso sentimento é de muita felicidade por termos criado um evento que a nível da nossa cidade, passou a ser a maior expressão do sucesso público dos últimos tempos, integrando de forma importante o calendário de eventos da cidade”, ele afirma.

O curador Carton Cardoso e sua esposa, ao lado da atriz Júlia Lemmertz (centro).

A programação acontece em três dias. Nesse período são exibidos cerca de 58 filmes, explica Cardoso. Na parte da curadoria, ele e mais quatro pessoas são responsáveis pelas escolhas dos filmes. “Assistimos a mais de mil curtas metragens e catalogamos eles, porque não basta exibir os filmes, é importante discuti-los com os diretores convidados”, enfatiza o curador e organizador.

Cardoso atesta que as coisas funcionam melhor em lugares mais localizados, como no centro do país, onde há maior formação de atores e diretores. No Rio Grande do Sul, ainda as coisas são mais lentas, mas ele acredita que o cinema tenha renascido. Apesar do festival não ter uma grande divulgação, comparado aos grandes festivais de cinema no Brasil, o festival de Três Passos tem amantes da sétima arte que vêm de todos os lugares do Mercosul.

O publicitário conta que para um filme vencer nas categorias do festival, “é preciso que ele seja qualificado e equilibrado no seu roteiro, na direção, no trabalho dos atores e na edição principalmente, mas é claro que vários fatores interferem para as escolhas, que também envolvem o emocional, o que está na história, na trilha sonora e na atuação geral”.

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Vanessa Hauser
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Brazilian journalist living in Barcelona. Rebuilding a life style and trying to come back to writing as a real passion.