Selvagem, Wesley Vieira

Alex Mendes
Reticências
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2 min readMay 3, 2021

O ponto de vista inocente e puro de uma criança é sempre arrebatador. No conto Selvagem de Wesley Vieira, além de emprestar leveza à narrativa, esta ótica infantil abre margens para que o leitor navegue em suas próprias reflexões, conhecendo a si mesmo e ao mundo que o cerca.

Com uma linha mesclada entre a fábula e o conto, o autor insere o público em uma caçada que, a princípio, é a matriz de um enredo costurado nas incongruências e recomeços dentro de um grupo familiar. Em poucas páginas, Selvagem rebobina a vida de Hugo, um garoto que perdeu a mãe e que agora está aprendendo a conviver com este vazio. Está sob os cuidados do pai, Ricardo, mas não compreende as constantes intrigas entre ele e sua avó, uma senhora aparentemente indiferente aos sentimentos dos dois. O que deveria ser uma família unida pela dor, se desmancha ainda mais com perdas inesperadas. Enfurecido e magoado, Hugo explode enquanto internaliza as lembranças do passado.

Dependendo da interpretação do leitor, Selvagem pode ser visto como uma fábula, seja pela inserção de animais que dialogam ou simplesmente pela mensagem que estes entregam ao longo da narrativa. Por vezes nos questionamos se estamos lendo uma história com bichos falantes ou se o enredo é contado a partir da visão de Hugo. Isto seria compreensível se considerarmos as maneiras distintas que a mente infantil reage aos traumas.

Selvagem, além de ser poético e inocente, entrega mensagens de amor e companheirismo que encantam pela objetividade e clareza. Ainda que curto, o conto de Wesley Vieira é acolhedor quando ressalta a importância de aceitar os fins e inícios dos ciclos em nossas vidas!

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.