Cemitério de Consoles | Atari Lynx (1989): o primeiro videogame portátil colorido

Mesmo com hardware e recursos avançados, o console não tinha títulos o suficiente e foi amplamente prejudicado pelo Game Boy.

Rafael Smeers
Aventurine Brasil
7 min readOct 11, 2018

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Seja bem-vindo ao segundo texto da série Cemitério de Consoles, em que abordamos ao longo de outubro consoles descontinuados antes do planejado e/ou que deixaram cicatrizes e lições em suas desenvolvedoras. Lançado em 1989 na América do Norte e em 1990 na Europa e no Japão, o Atari Lynx é o protagonista do Cemitério de Consoles de hoje.

O segundo portátil da Atari foi também o primeiro do mundo a apresentar tela LCD colorida e apesar de criticas positivas e vendas que segundo a Atari condiziam com o planejado, o console foi considerado um fracasso comercial por ter vendido muito menos do que seu competidor (o Game Boy). Haviam sim aspectos notáveis, mas não deixe-se enganar: o Atari Lynx não era um portátil perfeito.

Toby Maguire não se preocupava em ser discreto no banheiro

Grandioso em proposta, custo, gasto e tamanho

O Atari Lynx foi introduzido ao mercado dois meses depois do Game Boy, e eventualmente competiria também com o Game Gear e o Turbo Express. Como de costume na época, o portátil utilizava cartuchos ROM, mas um dos fatores que o destacavam era seu potencial gráfico (além da tela colorida) muito mais avançado em comparação ao do Game Boy, além de um layout ambidestro (opção de inverter a tela) e funções adiante do seu tempo.

“Sucessor” do Touch Me (uma espécie de Simon Says portátil lançado em 1974), o Atari Lynx era um avanço significativo da corporação no mercado dos portáteis. Outros projetos de portáteis (como o Atari Cosmos) e de criar versões portáteis de jogos de arcade como Space Invaders chegaram a existir, mas foram abandonados e nunca foram comercializados.

Curiosamente, mesmo o Atari Lynx não foi desenvolvido pela própria Atari. O nome original do sistema era Handy Game e era um projeto da Epyx, desenvolvedora que havia contratado dois designers da série de computadores Amiga para a criação de um videogame portátil. Porém, a desenvolvedora passava por dificuldades financeiras, e teve de procurar por uma parceira que adotasse o sistema e arcasse com as despesas de produção e de marketing.

Primeiro protótipo do Epyx Handy (1988)

Várias companhias (incluindo a Nintendo e a Sega) recusaram a proposta, até que a Atari aceitou o negócio, e ironicamente ambas tiveram de comprar computadores da série Amiga (produção da Commodore, arquirrival da Atari) para desenvolver o software. No final do mesmo ano em que o contrato foi feito, a Epyx declarou sua falência, e o projeto passou a ser completamente da Atari.

Apesar do sistema utilizar cartuchos ROM, os jogos são convertidos para a RAM antes de serem executados pelo sistema. Isso faz com que menos RAM fique disponível para atuar em telas de carregamento, fazendo com que elas sejam relativamente mais longas. Manuais antigos do projeto sugeriam que o console também teria suporte a fitas.

Quando o design do console finalmente estava decidido, a caixa de som interna foi modificada e o sistema foi apresentado na Summer Consumer Electronics Show (CES) de 1989 com o nome de “Portable Color Entertainment System”. O nome Atari Lynx só foi utilizado quando o portátil finalmente começou a ser comercializado, por um preço de 179.95 dólares.

Modelo de lançamento do Atari Lynx

O console utilizava como bateria 6 pilhas AA com duração média de 4 a 5 horas, e tinha suporte a multiplayer local através do ComLynx, que conseguia conectar até 18 consoles simultaneamente (apesar da maioria dos jogos suportar somente até 4 jogadores e conexões acima de 8 usuários serem problemáticas). Cada jogador precisava de um cabo ComLynx, e uma cópia (seu próprio cartucho) do jogo para poder jogar. Alguns jogos faziam uso do console em orientação vertical.

Em 1990, as vendas do Lynx estavam moderadas e a Atari introduziu o Lynx II ao mercado, que era menor, mais leve, tinha um hardware melhor que o do primeiro modelo, e gastava menos bateria. O novo modelo também tinha pegadores de borracha, entrada para cartuchos em um lugar mais convencional, cores de tela menos lavadas e um modo de economia de energia (que desligava a luz traseira da tela). O console foi comercializado em pacotes sem acessórios por 99 dólares.

Comparação Atari Lynx e Atari Lynx II (respectivamente)

No ano de 1995 a Atari decidiu focar no Atari Jaguar. Ainda assim, a corporação continuou a desenvolver jogos para o Lynx até o encerramento de sua desenvolvedora interna de games. A partir de então, os jogos passaram a ser desenvolvidos em sua maioria pela Telegames, até que a Hasbro, dona das propriedades da Atari na época, abriu o desenvolvimento de games ao Atari Lynx ao público.

Cartuchos com visual moderno

Os cartuchos eram inseridos do lado esquerdo do portátil e tinham um design bem mais fino que o de sua concorrência. É possível identificar uma evolução na composição dos cartuchos do console desde o seu lançamento. Dificuldades na hora de remover os cartuchos dos primeiros jogos do console levaram à adoção de um novo modelo, que consistia na adição de duas abas na parte traseira do design.

Porém, essa adição dificultava o empilhamento dos cartuchos, e um terceiro modelo foi desenvolvido, onde as abas foram substituídas por uma curva. O armazenamento ainda não era tão efetivo quanto o do primeiro modelo, mas era definitivamente melhor que o segundo e a maior parte dos jogos tiveram uma remessa utilizando o novo design.

Modelos “Flat”, “Ridged” e “Curved Lip” respectivamente. | Photos by AtariAge

Recepção mista, mas insuficiente

O Atari Lynx teve uma boa recepção em seu lançamento. Segundo a Atari, 90% das 50,000 unidades inicialmente fabricadas para os Estados Unidos foram vendidas no mês de lançamento. Em 1990 as vendas nos Estados Unidos fecharam em cerca de 500,000 unidades, e no final de 1991, 800,000 unidades. Como citado na introdução do texto, a Atari disse que os números foram dentro do planejado. Ainda assim, o Game Boy, lançado dois meses antes do Atari Lynx, totalizou 16 milhões de unidades vendidas em 1995. O fato é que o Game Boy era mais robusto, tinha uma bateria muito mais longa, vinha com o jogo Tetris, tinha muito mais jogos e custava praticamente a metade do preço (100 dólares).

Em maio de 1991, a Sega lançou o Game Gear. O console também tinha tela colorida, porém era menos espaçoso e contava com um número maior de jogos, além de ser um pouco mais barato (150 dólares) que o Atari Lynx, apesar de consumir mais bateria (uma hora a menos de duração). O Atari Lynx teve somente 74 jogos licenciados, e enquanto a maioria deles eram bons, é difícil negar que frente à febre do Game Boy adquirir um Atari Lynx era desinteressante. Enquanto a Nintendo e a Sega contavam com franquias carismáticas como Super Mario e Sonic The Hedgehog (que daria as caras em 1991), a Atari caía no esquecimento e era assombrada por uma má fama desenvolvida por fracassos como o Atari 5200 e o jogo E.T. the Extra-Terrestrial (de Atari 2600), quais nem mesmo uma tela colorida podia desfazer.

Pokemon Yellow, ou California Games? O Atari Lynx não tinha títulos que conquistassem o público

Isso sem falar de críticas ao enorme gasto de pilhas e à abordagem descuidada do tema “8-bits ou 16-bits”. O portátil utilizava tecnologias 16-bits, mas era composto por um processador 8-bits. Por isso, propagandas que citavam o sistema como uma máquina 16-bits eram julgadas. Independentemente do quanto isso influenciou nas vendas, a recepção do Atari Lynx foi deteriorada principalmente pelos seguintes pontos:

→ Preço alto devido a hardware avançado lançado antes da hora;
→ Consumo de pilhas acima do comum para a época;
→ Marketing infrequente e inadequadamente agressivo (considerando a má fama da Atari na época);
→ Lojas com receio de não conseguir revender mais um console da Atari;
→ Número pequeno de títulos;
→ Sucesso extremo do Game Boy.

Mas nem mesmo o Game Gear conseguiu desbancar o Game Boy de seu posto de rei. E, inclusive, o portátil da Sega é o próximo console a dar as caras no Cemitério de Consoles. Curtindo a página do Aventurine Brasil no Facebook, você assegura o acompanhamento da série e recebe nossos novos textos em seu feed de notícias.

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Rafael Smeers
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