Arte é uma palavra feminina

Mulheres artistas de Porto Alegre protagonizam ações que servem de exemplo para outros estados

Renata Simmi
Redação Beta
3 min readOct 22, 2019

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por Renata Simmi e Tina Borba

Desde o século XIX, as mulheres tinham dificuldades para fazer arte. Salvo algumas exceções que acessavam escolas particulares, elas não eram aceitas na academia, devido ao retrógrado pensamento que as via como propriedade do homem. Dos pais, passavam aos maridos, e não precisavam saber mais nada além de cuidar da casa e dos filhos.

Além disso, encontravam pouco ou nenhum espaço no cotidiano para exercitar as habilidades artísticas. Mulheres não tinham permissão de fazer pintura de nus, por exemplo, entre tantas outras restrições. E assim como a academia demorou para aceitá-las como alunas, demorou ainda mais para aceitar mulheres em cargos de comando. Aquelas que conseguiam chegar a um curso superior, treinavam e produziam arte efetivamente, deparavam com a gritante dificuldade de institucionalizar as suas obras, sem a presença de mulheres dentre aqueles que “julgam” o que é arte e o que não é, em galerias e museus.

Cerca de 30% das obras que compõem os acervos públicos de Porto Alegre são feitas por mulheres, conforme aponta a professora do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS Daniela Kern, citando dados do grupo de estudos Mulheres nos Acervos, do Instituto de Artes da mesma universidade.

Felizmente, apesar dos números ainda engatinharem lentamente rumo à equidade de gêneros nos acervos, as mulheres têm encontrado eco umas nas outras e se percebido como forças viscerais no meio artístico. Elas têm reivindicado o seu espaço, são maior número nos cursos de arte e estão produzindo trabalhos acadêmicos que refletem sobre temáticas que fazem parte de suas próprias vidas. Fazem poesia, fotografia, música, iluminação de palco, sonorização, arte de rua, vídeo-arte e o que mais elas quiserem.

Alice, do Projeto Concha, atua em conjunto com Silvia, Elisabeth, Sofia, Daniele, Liege, Bruna e Lis. Juntas, promovem mulheres como Letrux, Xênia França, Luedji Luna e Larissa Luz, entre tantas outras. No Sarau Nosotras, Lau, Tatiana e Marlete formam um espaço seguro para que muitas outras mulheres consigam abrir voz. Mari, da Lua em Mari, escreve para o mundo, em muros, banheiros de bares e fachadas, aquilo tudo que a mulher sempre aprendeu que deveria calar. No coletivo Nítida, Leli e Desirée, ao lado de outras quatro mulheres fortes, trazem luz para incontáveis mulheres que tiveram seus nomes invisibilizados na história da fotografia. No coletivo Benedictas, Carol e as demais integrantes têm um espaço para refletir e lutar diariamente. Já Kamily faz do vídeo e das performances seus modos de retratar sua visão de mundo e tudo que lhe vai no peito. (Para saber mais sobre os projetos citados, acesse as matérias: Projeto Concha, Poetisas de Porto Alegre e As imagens que elas criam.)

São mulheres diversas, que têm estilos e pretensões diferentes. Em comum, o gênero, que perante os olhos de alguns ainda as diminui, mas que ao olhar umas das outras as faz grandes, potentes e capazes. São mulheres de luta que não se calam, que não se curvam ao sistema vigente e que arrombam as portas, se for preciso, para lutar pelo que acreditam.

O documentário a seguir encerra a série de matérias Arte é uma palavra feminina, que mostrou inúmeras iniciativas feitas por e para mulheres em Porto Alegre. No vídeo, a professora Daniela Kern comenta as mudanças dentro do cenário artístico feminino, a importância da união entre as mulheres e como a capital gaúcha serve de exemplo em produções acadêmicas sobre o assunto e também em manifestações culturais. Dá o play e confere:

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