Gangrel: desbravadores selvagens em território hostil.

Trazendo os Clãs do V5 para um cenário nacional.

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
6 min readApr 28, 2020

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Por Alex Pina & Porakê Martins

Ancilla Gangrel Sul-americana de ascendência europeia.

A Quinta Edição de Vampiro: A Máscara trouxe grandes mudanças para o Clã dos Forasteiros. Definitivamente fora da sombra da Torre de Marfim, os Gangrel agora, ao lado dos Brujah e do Ministério (antigos Seguidores de Set), são um dos Pilares dos Anarquistas, como um Clã genuinamente independente e com mais liberdade de ação do que nunca, ou quase isso, se considerarmos a nova ameaça que representa a Segunda Inquisição.

A saída dos Grangrel da Camarilla é descrita, nas palavra de Calebros, ex-Príncipe Nosferatu de Nova York, nos seguintes termos:

“Foi no final do século XX que o ancião Xaviar, um dos líderes dos Gangrel, submergiu no solo (como apenas eles são capazes) e alegou ter encontrado mais do que apenas terra.
Xaviar jurou que ele e sua coterie se depararam com uma entidade viva que poupou sua não-vida e consumiu seus companheiros.
Convencido de que encontrou o próprio Antediluviano Gangrel ele procurou os Justicars que, obviamente, não acreditarmos em seu relato.
(…)
Embora a Camarilla tenha se sentido ultrajada pela deserção dos Gangrel, nenhum tipo de retaliação foi feita. Nós achamos melhor, para nossa própria segurança, fingir que eles ainda estavam conosco do que assumir publicamente sua partida.
Sem o conhecimento da Camarilla, um grupo de Gangrel mais orientado política e financeiramente (sim, eles existem!) começou a financiar secretamente o Movimento Anarquista nesse período.
(…)
Quando os Brujah nos abandonaram em prol do Movimento Anarquista, pensamos que eles eram tolos por trocar nossa estrutura e aliança por um sonho de independência. E então os Gangrel se pronunciaram com convicção a favor dos seus. Irmãos Rebeldes, assumindo que durante esse tempo todo estavam apoiando os Anarquistas e lutariam com unhas e dentes pelo direito do Movimento existir sem a intervenção da Camarilla”. (V5-Guia da Camarilla, pg. 174–175).

A saída do Clã das fileiras da Camarilla faz justiça ao Clã da Besta e nos parece mais um acerto do Cenário na Quinta Edição. Os Gangrel sempre pareceram muito mais próximos do que se poderia esperar de um Clã independente, do que com o perfil hipócrita e conspirativo próprio da teia de mentiras que sempre foi a Camarilla. Tal mudança talvez seja capaz de retirar a aura de servidão que pairava sobre o clã em sua antiga posição, como acaba reconhecendo o Guia dos Anarquistas nesta nova edição:

“Os Gangrel já foram um clã em boa posição na Camarilla, no entanto sua partida no fim do século passado os marcou como independentes. O atual posicionamento da Camarilla em considerar todos os vampiros de fora da seita como ‘anarquistas’ parece agradar os Gangrel, uma vez que o Clã da Besta levanta com orgulho a bandeira do movimento ao lado dos Brujah e do Ministério Setita.

O papel dos Gangrel entre os membros sempre foi o de um cão fiel que era enviado para abater os inimigos. Os Gangrel, que por séculos atuaram como caçadores e guarda-costas de outros membros, finalmente cansaram dessa posição servil e agora, livres da ditadura da Torre de Marfim, eles vão aonde desejam e proclamam as estradas como seus domínios.

É relativamente comum encontrar vampiros do clã em Domínios tanto da Camarilla quanto do Movimento Anarquista uma vez que poucos arriscariam insultar um Gangrel exigindo que eles deixem o local. Embora os Príncipes da Camarilha não possam mais comandá-los, eles ainda podem contratar seus serviços pelo preço certo ou até mesmo trabalhar em conjunto com um Gangrel que tenha interesse em proteger determinado local da cidade que lhe seja importante. Esta liberdade garante aos Gangrel uma reputação de mercenários que eles prezam cada vez mais nessas noites.

Apesar de ser um clã que não incorpora muitos ativistas de causas sociais políticas, os Gangrel possuem posicionamentos que normalmente se alinham aos dos Brujah, o que faz ambos os clãs se considerarem camaradas. Os Ventrue, Toreador e Tremere, por sua vez, mantém sua atenção voltada aos Gangrel pois temem uma possível retaliação após anos de tratamento indigno. O Clã da Besta, entretanto, não aparenta estar tramando nenhum tipo de retaliação em larga escala. Os Gangrel são vampiros selvagens e é assim que eles desejam permanecer.” (V5-Guia Anarquista, página 149).

Novo símbolo oficial para o Clã Gangrel no V5.

No que tange a presença do Clã no “Novo Mundo”, desde a primeira edição do jogo, através de suplementos como o Awakening: Diablerie Mexico, de 1992, está bem estabelecido na Lore de Vampiro que a presença Gangrel (e Nosferatu) entre os povos pré-colombianos nativos remonta há séculos (talvez milênios) antes da colonização europeia, pelo menos no que tange a América do Norte.

Já na segunda edição, a presença Gangrel, mais especificamente no que tange a América Latina, é apresentada assim:

“Os Gangrel prosperam nas vastas florestas da América Central e do Sul. De fato, algumas linhagens de Gangrel costumavam habitar aqui desde as noites pré-colombianas. Por aqui, como em alguns outros lugares, eles se sentem verdadeiramente em casa. Voando com os morcegos vampiros nativos do continente, Gangrel vagam livremente através das extensões indomadas. Mas essas regiões idílicas também acolhem outros seres, criaturas entre as quais mesmo os Gangrel devem caminhar cautelosamente. Há coisas estranhas e maravilhosas escondidas nas profundezas das florestas tropicais, verdade — mas muitas dessas maravilhas têm garras suficientes para decapitar um vampiro ingênuo.” (A World of Darkness Second Edition, pg. 27).

Uma presença tão antiga e estabelecida do Clã na região nos oferece oportunidade para explorar uma das partes mais obscuras e desconhecidas da história profunda do Brasil, as noites anteriores à chegada de Colombo e os conflitos e relacionamentos entre os povos nativos e os colonizadores europeus. Além de possibilitar a narradores habilidosos um gancho para introduzir em suas crônicas um dos elementos mais exóticos, misteriosos e inovadores trazidos ao universo de Vampiro pelo advento da quinta edição, os Legados Afogados, uma sociedade oculta de vampiros nativos que foram introduzidos, com grande relevância no cenário e mostrando-se capazes de eliminar muitos dos maios poderosos membros da Camarilla na América do Sul, ainda no derradeiro suplemento da quarta edição, o Beckett’s Jyhad Diary. Quem poderia ser melhor para investigar ou ter dicas sobre essa nova presença ameaçadora no Mundo das Trevas do que os Gangrel nativos da região?

Afinal, em poucos jogos de RPG, mesmo em crônicas narradas em cenários contemporâneos, o background histórico é tão relevante quanto em Vampiro: A Máscara. Histórias esquecidas e segredos ocultos são, quase sempre, um tempero intrigante para qualquer crônica.

No Brasil, não tivemos civilizações urbanas tão notáveis como os Astecas e Maias da América Central, ou mesmo os Incas nos altiplanos andinos, mas seria ingenuidade imaginar que as fronteiras políticas atuais seriam capazes de conter o mais andarilhos e selvagens dos Clãs de Vampiro.

Na verdade registros arqueológicos, em nosso mundo real, como a refinada cerâmica indígena na Ilha do Marajó ou da civilização Tapajônica, no Baixo Amazonas, assim como as reminiscências de estradas indígenas no Sudeste do Brasil, o míticos Peabirus, são apontados por especialistas como indícios de interação entre povos indígenas nativos nos territórios que viriam a ser o Brasil e os Povos Maias e Incas. No universo do jogo, não seria difícil imaginar os Gangrel na vanguarda desse tipo de intercambio cultural.

Além disso, a peculiar afinidade dos Gangrel pela natureza selvagem e os animais, tornam muito interessante imaginar e explorar as relações de um ramo nativo tão antigo do clã com a riquíssima fauna brasileira. Seria bem estranho, por exemplo, imaginar um Gangrel nativo do Brasil assumir a forma de um lobo, um animal completamente exótico em relação a natureza local, opções mais condizentes seriam onças pardas e pintadas, jaguatiricas, lobos guarás (que quase nada tem a ver com os lobos verdadeiros além do nome), guaraxains, gaviões reais, jacarés, sucuris, etc. Ironicamente, as únicas três espécies de morcegos hematófagos conhecidas em todo o mundo são exclusivas da América Latina e ocorrem naturalmente em quase todo o Brasil, estranho é que os morcegos vampiros sejam considerados a forma evasiva padrão até mesmo entre os Gangrel do Velho Mundo.

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Fanpage brasileira do universo clássico de RPG de Mesa, Mundo das Trevas (World of Darkness).