Stage 2: Matchmaking Interno

Ximena Alejandra Flechas
Bridge Ecosystem
Published in
6 min readOct 18, 2021

Série: Stage-Gate de Engajamento com Startups

Seguindo com nossa série “Stage-Gate de engajamento com startups”, neste texto apresentaremos o segundo stage: “Matchmaking interno” e o segundo gate de “seleção”.

Stage 2: Matchmaking interno

O principal objetivo deste stage é estabelecer o relacionamento entre as startups que foram pré-selecionadas no gate 1, e as áreas, unidades de negócios ou equipes da empresa que executarão os projetos junto com a startup. Nesta etapa também começa a se esboçar o ‘business case’ do projeto, que é um documento que contém o escopo e objetivos, áreas envolvidas e responsáveis, requerimentos, etapas de validação (ou seja, experimentos, POCs (provas de conceito), testes, etc.), resultados esperados e entregáveis, estudos de viabilidade técnica e econômica, prazos, evolução do projeto e informação crítica como riscos, fatores de sucesso e descrição de falhas eventuais. O business case vai ser empregado e atualizado durante todo o desenvolvimento do projeto, portanto, devem-se estabelecer de forma precisa os responsáveis por esta atualização e acompanhamento.

Além dos representantes das startups pré-selecionadas (que na maioria dos casos são os próprios empreendedores-fundadores), existem dois papéis centrais na empresa que viabilizam a conexão com startups: o ‘Bridgemaker’ e o ‘Gerente do projeto’.

Bridgemaker

Bridgemaker

O bridgemaker é aquela figura que conduz os esforços para estabelecer o matchmaking entre os empreendedores e as áreas da empresa. Acompanha a startup para navegar na grande empresa para avançar no desenvolvimento do projeto e facilita o entendimento e a coordenação das atividades entre as duas estruturas. Entre as atribuições desta figura estão: o alinhamento das expectativas entre as partes; o mapeamento e gerenciamento de incertezas e barreiras; a regulação de fluxos de informações e pessoas envolvidas; o auxílio na integração de sistemas, processos e pessoas; e a colaboração para estabelecer indicadores de desempenho e avaliação de resultados.

Esta pessoa tem várias características importantes, por exemplo, é alguém que conhece em profundidade o funcionamento da empresa, mais especificamente ela ou ele conhece a ‘burocracia’, as pessoas chave da organização e tem acesso aos diferentes níveis de gestão da organização o que facilita o avanço do projeto. Também é alguém que conhece a problemática da área ‘dona’ do projeto, os requerimentos e as expectativas a serem atendidas. Ela também conhece o funcionamento da startup e da solução que está sendo oferecida para a empresa, em particular, entende as potencialidades e as limitações tanto da equipe quanto da própria solução.

Mas uma das características de maior destaque é o comprometimento em tornar o projeto de inovação uma realidade, ou seja, de certa forma os bridgemakers são ‘campeões’ da inovação que contribuem no desenvolvimento dos projetos de maneira formal e informal. Nas nossas pesquisas identificamos que durante as primeiras rodadas do stage-gate, o bridgemaker às vezes não fazia parte da área de inovação, ele ou ela fazia parte de uma área ‘habilitadora’ como a de Tecnologia da Informação (TI) ou de áreas ligadas à operação e se dedicavam de forma parcial às atividades como bridgemaker. No entanto, com o tempo estas atividades precisam de um processo de formalização e dedicação exclusiva por dois motivos centrais. Primeiro, o grande volume de parcerias com startups que a empresa começa a desenvolver inviabiliza a gestão apenas em ‘tempo parcial’. Então esta demanda crescente passa a requerer a alocação de recursos e o estabelecimento de tarefas bem definidas.

O segundo motivo é a possível perda da motivação e disposição dos ‘bridgemakers não formais’ (i.e., ad honorem) em continuarem acompanhando os projetos de inovação. Como sabemos, a inserção de novos processos — e principalmente aqueles que envolvem incertezas e ambiguidade como os processos de inovação em parceria com startups — muitas vezes cria resistências dentro da organização e para diminuí-las, o papel do bridgemaker é fundamental. No entanto, lidar com resistências cria uma certa exposição que pode gerar desgaste nas pessoas.

Para ilustrar, vejamos a seguinte situação: para desenvolver um novo método de contagem de etiquetas a ‘Metroquil’, uma indústria de instrumentos de medição, optou por co-desenvolver uma solução digital junto com uma startup. Logo depois do processo de pré-seleção a empresa iniciou uma parceria com a startup ‘DigiLabel’ com a qual tinha que realizar uma série de testes e experimentos para validar a solução de contagem digital. Como era a primeira vez que a Metroquil desenvolvia projetos junto com startups, a maioria do pessoal não estava familiarizado com o funcionamento das startups e nem com as metodologias de desenvolvimento de inovação. Para rodar os testes, o bridgemaker (que no caso era parte da equipe de TI) teve que fazer muitos esforços para que o gerente da área de almoxarifado (a área “dona” do projeto) liberasse espaço e tempo dos seus funcionários, inclusive teve muita resistência por parte dos funcionários para participar nos testes. Contudo, os testes foram bem conduzidos e finalmente a solução foi adquirida. No entanto, o bridgemaker considerou que os grandes esforços trouxeram muita exposição ‘não desejada’ e gerou um desgaste para ele. Então, apesar de ter obtido um bom resultado e ter contribuído para integrar a nova solução, ele não quis participar como bridgemaker em outros projetos.

Gerente do projeto

Gerente do projeto

Já o gerente do projeto é quem representa a empresa no desenvolvimento do projeto e coordena a equipe que desenvolverá o produto junto com a startup. Se o bridgemaker é aquela figura que conecta ‘duas pontas’, sendo uma ponta a startup, a outra ponta estaria personificada no gerente do projeto responsável pelo co-desenvolvimento. Entre as atribuições desta figura estão: a participação nas atividades de alinhamento de expectativas, mapeamento de barreiras, gestão de incertezas e planejamento de projetos, coordenação das atividades a serem executadas pela equipe da empresa, facilitar o acesso a recursos como instalações, equipamentos, informações, etc. para poder executar corretamente o projeto. Conforme o projeto avança por diferentes etapas e áreas da organização, o gerente de projeto pode mudar. É importante que estes gerentes conheçam sobre metodologias de inovação e também tenham um bom engajamento e afinidade para atuar junto com o pessoal das startups.

Gate 2: Seleção

No segundo gate, o objetivo é fazer a seleção das oportunidades de desenvolvimento (projetos concretos) com o maior potencial para atingir os objetivos estratégicos da empresa. Para este processo de seleção, são feitos comitês com representantes das áreas de inovação, as áreas “donas” das necessidades a serem resolvidas através da solução, representantes de áreas estratégicas e habilitadoras como TI, TO (tecnologia operacional), ou planejamento, e em algumas ocasiões, representantes das áreas de contratação. Neste gate é interessante as empresas empregarem instrumentos (ex. gráfico 1) que permitam visualizar as startups/soluções candidatas em relação a aspectos estratégicos como atendimento a objetivos organizacionais, flexibilidade da solução, e incluso potencial para permitir o ingresso da empresa em novos mercados.

Gráfico 1: Exemplo de gráfico de bolha para empregar no Gate 2

Esperamos que este texto tenha sido do seu interesse. No final deste artigo, poderá encontrar algumas referências acadêmicas, caso você queira se aprofundar no tema! Até a próxima.

Referências.

Chesbrough, H. (2020). Open Innovation Results. Oxford University Press.

Kurpjuweit, S., Wagner, S.M., 2020. Startup Supplier Programs: A New Model for Managing Corporate-Startup Partnerships. Calif. Manage. Rev. 62, 64–85. https://doi.org/10.1177/0008125620914995

Möslein, K. M. (2013). Open Innovation: Actors, tools, and Tensions. In A. S. Huff, K. M. Moslein, & R. Reichwald (Eds.), Leading Open Innovation (pp. 69–83). The MIT Press.

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