Carmelo Anthony e o novo Big Three do Oklahoma City Thunder

Felipe Haguehara
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9 min readSep 25, 2017

O que esperar da nova estrela do Leste?

Depois de muita especulação o ala definiu seu destino em ao lado de Westbrook e Paul George (Montagem:Felipe Haguehara/Buzzer Beater)

A off-season da NBA, o que dizer desse período do ano sapeca capaz de pegar muitos desapercebidos, principalmente quando o assunto é esperar o novo destino das várias estrelas que compõem a constelação dos melhores batedores de bola laranja do mundo?

Em um momento você está apenas deitado no sofá passando por memes na sua linha do tempo no Facebook. No instante seguinte, logo abaixo da fonte de suas risadas, você vê a manchete sobre o nascimento de mais um super trio na liga.

Anteontem, de supetão Adrian Wojnarowski da ESPN estado-unidense soltou a bomba nuclear nas redes sociais. Carmelo Anthony, que já procurava uma nova franquia, entrou em acordo com o Oklahoma City Thunder. Da troca, sua ex-equipe, New York Knicks, recebeu Enes Kanter, Doug McDermott e uma escolha de segunda rodada de 2018.

Expressados os fatos imediatos, vamos à discussão!

A troca foi justa?

Um pivô turco que certamente contribui muito do banco, uma ala relativamente atlético com um chute de longa distância bastante razoável e a bendita escolha de segunda rodada vale um craque desvalorizado?

Certamente Melo não tem sido um líder excelente para levar suas franquias à níveis de competição extraordinários. À bem da verdade, ele sequer tem demonstrado a face de um verdadeiro All-Star em suas temporadas mais recentes em Nova Iorque. Mas não se engane em achar que isso carimba as peças que vieram na permuta como algo justo à sua história.

Deixemos claro desde já nesse texto, o ala é sim um dos grandes a terem pisado numa quadra de basquete. A falta de um título ou de um prêmio de MVP não devem apagar a grandeza de: 1. Seus desempenhos individuais na mesma liga em que muitos o subvalorizam, 2. Suas conquistas vestindo o uniforme da seleção dos E.U.A., creio que ninguém tenha se doado tanto, em toda a história do time nacional, quanto a personagem em destaque.

Um dos, se não o que mais “representou” o USA Team! (Foto: Divulgação/USAToday Sports)

Ainda em um idade que deveria significar o final de seu pico de rendimento como atleta, o fato é que ele não estava sendo um grande exemplo de rendimento recentemente no time que chamou de casa aproximadamente nos últimos 7 anos. Um dos fatores, na maior parte do tempo, foi não cercá-lo de talento real que o auxiliasse numa corrida por um anel, o outro foi que ele próprio não conseguiu elevar o próprio potencial nesse mesmo nível.

Ao meu ver o componente ideal desse pacote seria uma escolha de primeira rodada, mesmo que significasse receber jogadores piores. Ou para aumentar um potencial pacote de trocas que o Knicks possa querer possuir, ou para simplesmente ter chance de draftar algum tipo de steal.

Entretanto, o recebido não foi o pior possível, foram recebidos alguns bons agregadores de valor no elenco, seja no comando da segunda unidade, seja como titulares de uma etapa da reconstrução da franquia. Lembremos que havia certa urgência em se livrar de um atleta infeliz, ele aceitaria apenas uma equipe competitiva, que provavelmente não poderia oferecer assets maiores.

O Knicks perde em produção ofensiva imediata, mas oferece mais responsabilidade ofensiva de para seus jovens, com uma mira gigante em Kristaps Porzingis. Se alguém esperava o letão “possivelmente fazendo mais de 20 pontos por jogo”, tente tirar esse “possivelmente” e adicione a seguinte interjeição: “Se Porzingod não fizer 20+ PPG é melhor fazer uma ressonância, pois há algo errado!”

Westbrook e o sorriso do tamanho de um estado

Creio não ser necessário explicar mais uma vez a narrativa estabelecida em torno de Russell Westbrook durante a temporada passada. Aqui no Buzzer Beater, o Heitor Facini trouxe à tona a teoria do “Monomito” expressada no livro O Herói de Mil Faces de Joseph Campbell. Resumindo, é basicamente a prerrogativa vista em tantos mitos religiosos, roteiros hollywoodianos e narrativas criadas pela própria mídia (entenda por “comunicação”) que estabelece heróis e vilões em uma receita de sucesso. No caso, o Mr. Triple Double contra a legião demoníaca do Golden State Warriors.

Os membros do “Júri” — ou as “massas”, defina como quiser — que escolheram seus lados foram premiados da melhor maneira possível. Para quem escolheu a linha do OKC, Naruto superou as desconfianças e seus haters e finalmente alcançou o posto de Hokage. Para quem escolheu a linha dos vilões carismáticos do GSW, o plano final de Ozymandias deu certo — imaginem meu sorriso ao conseguir uma brecha para metaforizar usando Watchmen!

Tentador colocar um chapéu de Hokage depois da figura de linguagem, não?

O nível de talento que cercava Westbrook não era nulo, como era com DeMarcus Cousins em Sacramento, a singela ajuda de caras como Steven Adams, Enes Kanter, Andre Roberson ou Taj Gibson foi crucial para que ele não só alcançasse a média de triplos-duplos, mas também colocar todo seu sucesso individual em posição de playoffs, afinal é da conferência Oeste de que estamos falando.

Porém, não a história feita pelo Brodie o anel estava anos-luz de distância sem a sustância de mais um ou dois pilares. A lógica dos campeões mais recentes nos mostrou uma revelação de certo modo trágica. Não lhe basta um gênio comandando o show, se ao lado dele não estiverem outros monstros.

Bem… esse auxílio chegou. Duas estrelas vieram do Leste. A chegada de Paul George já foi comentada aqui também. E agora apesar de tantas especulações colocando Carmelo Anthony no Houston Rockets a franquia foi lá e adquiriu mais uma peça para colocá-los na disputa contra as aberrações de seu lado do mapa.

O choro solitário após a saída de Kevin Durant, que já havia cessado após as premiações individuais, como disse no intertítulo virou um sorriso do tamanho do estado de Oklahoma.

Quantas bolas serão necessárias em quadras?

Não seria justo encerrar o texto só com comparações e avaliações simbólicas, a numerada também é um diferencial. Mais ainda quando paramos para ver quem são às três estrelas que mais brilham na constelação.

Tradução: Isso parece com um time campeão

Russell Westbrook, Paul George e Carmelo Anthony. O que esses três nomes têm em comum além de serem All-Stars reconhecidos mundialmente e agora fazerem parte do mesmo time? Simples, eles são pessoas que operam com a bola nas mãos.

Dentre eles, apenas PG13 teve Usage menor do que 20% em alguma temporada na carreira — porcentagem do número de jogadas do time que um atleta finaliza enquanto está em quadra, com “finalizar” significando arremessar, cometer um turnover ou sofrer uma falta resultante num lance-livre. Algo que é respondido por George ter adquirido o status de superstar mais à frente, depois de constante evolução.

Detalhe, a média da liga em 2014–15 foi 19.8%, ou seja, mais do que 30% lhe qualificaria como uma presença indispensável no time, ou, simplesmente como um fominha, certo? Bem, Melo tem 10 temporadas acima dessa marca; Russ tem 7 e PG tem 2. Os dois primeiros, por sinal, já lideraram a liga na estatística: O ex-Knicks uma vez em 2012/13 e o MVP duas vezes, uma na mesma 2014/15 e outra na temporada mais recente.

A prova cabal da dominância do franchise player do Thunder sobre as conclusões do time é que ele não só liderou a liga com absurdos 41.7% de USG%, como seu companheiro de equipe Andre Roberson, que cumpria função estritamente defensiva, foi teve a menor marca da liga entre jogadores com 25+ minutos por jogo, exatos 10%. Foi assim que Billy Donovan desenhou o time, para quem devia brilhar, brilhar! E os outros, mesmo dentro das limitações de suas capacidades o auxiliassem na empreitada.

Tudo isso, foi minha maneira de expressar que o trio é formado, teoricamente, por uma organização desbalanceada de caras que adoram um 1 contra 1. Que já há um bom tempo estão acostumados a serem aqueles que tocaram por último na redonda quando o treinador desenha na prancheta. Alguém terá de dar alguns passo para trás e se conformar com menos exposições a situações de pontuação, e em uma coisa eu aposto, esse cara não será Westbrook!

Outra estatística importante para transitar no terreno dessa toca é, a formação titular imaginada para esse time sobrecarregará defensivamente caras como Steve Adams e Andre Roberson?

Não me entenda mal, nenhum deles é conhecido como máquina ofensiva que não se preocupa em defender — a.k.a. James Harden. Digo isso pois dentre eles o único que estabeleceu uma posição como defensor acima da média foi o segundo a chegar, George. Melo e Russ não são necessariamente defensores ruins, mas o centro de suas responsabilidades está na parte da frente da quadra.

O Broodie teve duas temporadas com mais de 2 roubous de bola por jogo, isso não o qualifica como um bom defenso? As estatísticas tradicionais oferecem perspectivas imediatas sobre o impacto de um atleta, mas podem criar ilusões sobre seu impacto em diversos setores do jogo ao decorrer da temporada e às vezes não fazem jus a excelentes defensores que podem não conseguir números fora do comum nesses parâmetros, mas são indispensáveis para o bom funcionamento de um playbook. Exemplo: Marc Gasol!

George sempre foi o responsável por marcar as estrelas adversárias (Foto: Divulgação/USAToday Sports)

Por que o ex-Pacers é considerado tão melhor defensor que os outros? Utilizarei apenas uma base de comparação, mas saibam que hão outras. Do trio, apenas ele tem pelo menos uma temporada com menos de 100 pontos permitidos à cada 100 posses, o famoso Defensive Rating. O único, na verdade, que ofereceu algum balanço significante entre o número de pontos feitos e permitidos à cada 100 posses, em 2013/14 foram 107 de Offensive Rating contra 97 de Defensive Rating.

Coloquei esses números na mesa para colocar uma ideia lógica em como eles podem casar seus jogos de uma maneira que os levem além de serem três grandes basquetebolistas atuando com o mesmo uniforme.

Westbrook não fará as médias absurdas do ano passado, não se quiser ser campeão e ter boa relação com os novos companheiros, mas ainda será o foco da equipe. George, dos três, será de quem mais se exigirá presença na parte defensiva tanto quanto contribuir no ataque, um autêntico two-way. E Melo, bem, pela lógica será a segunda opção de ball-handle e precisará aprender a ser o segundo na lista, algo com o qual não está acostumado

Isso tudo idealmente para que tudo resulte em algo bom. Mesmo que demore um pouco para encaixar, é difícil não esperar uma disputa pelas primeiras posições. Eles se colocaram no quadro dos supertimes repentinamente, uma franquia que pertence ao rol de pesos pesados de sua conferência. E não são só os três, como disse Adams e Roberson serão fundamentais para que os outros fluam com liberdade, adotando postos bastante secundários, mas ainda formando um time titular assustador.

Enfim, sobre a chegada de Carmelo Anthony, podem haver muitas pontuações a se fazer e o quanto esse trabalho em equipe realmente funcionará. É necessário anotar também que tanto ele quanto PG podem não voltar temporada que vem. O primeiro tem uma cláusula que o permite encerrar o contrato antes e o outro tem uma player option.

Mas de uma coisa tenho certeza desde antes da troca, vai ter muita gente zica do Oeste fora do All-Star Game!

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