O melhor de 2019 da cena cervejeira e etílica do DF & algumas frustrações
Apenas uma retrospectiva pessoal um tanto quanto mal-criada, repleta de opiniões e de possíveis posicionamentos impopulares.
Quero dizer algumas coisas sobre o que foi o meu 2019 cervejeiro e etílico no Distrito Federal e, por insistência e dívidas com o idealizador deste portal, decidi escrever isso aqui.
Para falar da cena como um todo, elaborei algumas categorias, sem pensar em grandes e complexos critérios. Tudo foi pensando meio de supetão e como forma de respaldar coisas que eu queria dizer.
É bom reforçar: este é um texto de opinião. Sou jornalista, mas não estou escrevendo uma matéria ou um guia imparcial.
Ando meio desbocado e sem paciência com a cena ultimamente, daí a ideia de fazer uma apanhado de elogios & reclamações.
Como ávido consumidor de bebidas alcoólicas (não sei se isso é exatamente algo que devo me orgulhar), diria que foi um ano muito interessante e, simultaneamente, muito chato na cena cervejeira da cena do DF.
Outra observação importante: sempre (sempre) vou falar a partir do ponto de vista de alguém que mora no Guará.
Por mais que seja uma das cidades-satélite mais próximas do Plano Piloto, existem certos programas e trajetos que são bastante complicados, às vezes impossíveis, de serem feitos por meio de transporte público durante a semana (quem dirá aos fins de semana).
Para mim, ser acessível por transporte público e a facilidade de deslocamento são sim critérios de elogio e/ou crítica a um estabelecimento. Discorda e acha que isso não pode ser um dos aspectos de avaliação?
Pague meu Uber.
Sem mais delongas e grosserias, vamos ao que aconteceu de melhor e pior na cena cervejeira & etílica no DF em 2019!
MELHOR BAR DE CERVEJA ARTESANAL 2019
Publican, fácil.
Muitos bares surgiram, outros andam cambaleantes e alguns outros fecharam as portas. Ao meu ver, o Publican segue como o melhor bar para beber cervejas artesanais no DF. A tríade serviço-curadoria-ambiente segue funcionando muito bem, é um local agradável, que tem preços justos, rótulos que contemplam lançamentos e clássicos, enxuto e agradável cardápio de comidas. Ainda é o bar de cerveja artesanal que opto por dedicar parte da minha renda mensal e que consigo chegar de metrô. Já escrevi sobre o bar em outro momento, basta ler aqui.
Como diriam os jovens: eles (os outros) que lutem.
MELHOR BAR DE DRINQUES 2019
Objeto Bar. Dá para chegar de transporte público, o ambiente é ótimo, o atendimento é ótimo, os drinques são ótimos (clássicos e autorais com alto nível de execução e bom custo benefício), as comidas são ótimas (é no mesmo lugar do próprio Objeto Encontrado). Deu para entender, né? Apenas vá.
Ou não, o problema é seu.
Menção honrosa ao Empório Iracema e sua também bela carta de drinques. Ansioso pela casa nova, ainda que a distância não seja exatamente um facilitador para ir com mais frequência.
MELHOR RESTAURANTE/EMPÓRIO COM CERVEJA ARTESANAL 2019
TETA Cheese Bar. O TETA é diferenciado. É daqueles lugares que você come e sente que a comida é feita com carinho. Já escrevi sobre esse espaço em outra oportunidade (você pode ver clicando aqui) e, apesar de ter uma e outra ressalva (assim como com quase todo lugar, inclusive os mencionados neste texto), é um estabelecimento que vale a visita.
Culinária com um pé e meio na gastronomia brasileira, combinações tradicionais e outras não-óbvias, ótimo trabalho na curadoria dos queijos, drinques bem feitos (destaque para o Sour Moscow Mule, não lembro se é esse o nome), sempre tem boas cervejas nas torneiras (um dos únicos do DF que traz Bamberg, alô, concorrência!), tem vinho para escolher à vontade. Vou sempre que posso.
Novamente, menção honrosa ao Empório Iracema.
MELHOR CERVEJARIA LOCAL 2019
Cruls Cervejaria Artesanal. São 9 premiações nacionais e internacionais no ano, receitas que passam por constante refinamento, alto padrão de qualidade… tudo isso em meio a uma gigantesca expansão da fábrica. Não tinha como ser outra cervejaria. Para mim, é dona também da melhor cerveja do DF: Gose com Alecrim e Tomate.
Acho justo dizer que comecei a trabalhar lá na Cruls há uns meses. Se acha que outra cervejaria foi melhor em 2019, sou todo ouvidos. No entanto, sendo bastante franco, acho improvável de que vá me convencer o contrário.
CERVEJARIA LOCAL REVELAÇÃO 2019
Satori. Chegou com cervejas com bom nível de execução, estilos diversos no portfólio, incluindo a melhor NE IPA do quadrado na minha opinião (bônus de um ótimo custo-benefício). Não à toa, já foi premiada. Grata surpresa. Curioso pelo ano de 2020 da Satori. Dedique algumas dezenas de reais a esta cervejaria.
MELHOR CERVEJARIA NACIONAL 2019
ZalaZ, sem dúvidas. Obviamente estou falando de coisas que chegaram a Brasília (obrigado por isso, Thyago!), mas em termos de padrão de qualidade, variedade de estilos e criações/interpretações e execução, fico com a ZalaZ como cervejaria nacional destaque de 2020.
Neste cansativo 2019 repleto de NE IPAs e Pastry Stouts, foi bom demais ver uma cervejaria caminhando por vertentes mais “tradicionais”, mas sem perder o fio da inovação.
Acho bom esclarecer: gosto de NE IPAs e Pastry Stouts, mas a maioria desses rótulos é extremamente caro, entrega perfis sensoriais muito similares e ocupa espaço demais nos taps da cidade. Tenho minhas restrições e definitivamente não morro de amores por esse segmento.
Além disso, acho que esses dois estilos criaram um segmento de beergeek muito, muito chato, mas isso é assunto para outro texto.
E fora do Plano Piloto?
É verdade que as opções fora do Plano Piloto para beber drinques e cervejas artesanais ainda andam escassas (afinal, são produtos bastante elitizados), mas temos algumas opções. Pela minha experiência em 2019, destacaria três lugares:
Goodfellas Cine Bar, em Taguatinga, sempre com cervejas artesanais nas geladeiras e torneiras, além de contar com um cardápio com boas opções para comer e drinques. O bar fica perto da estação de metrô da Praça do Relógio, então é bem tranquilo de chegar. Foi um dos lugares que mais fui em 2019.
O Carcará Burguer, com uma unidade em Taguatinga e outra recém aberta em Samambaia. Existem mais opções cervejeiras na unidade de Taguatinga, mas há chope artesanal a excelentes preços na unidade de Samambaia (foto ao lado). Nunca vou esquecer um chope de Perigosa que bebi no Carcará de Taguatinga. Super bem tirado, fresco. Gostaria de beber um pint agora, inclusive. Talvez uns três.
Acervo Café, no Guará. Acho que foi o melhor Negroni que bebi em 2019, mas precisa de mais constância na execução: em uma segunda oportunidade, peguei outro Negroni com dosagens/proporções equivocadas, aquém da experiência que tive anteriormente.
Tanto o Acervo como o Carcará não são bares, é bom ressaltar. Sendo um café e uma hamburgueria, respectivamente, é normal que respondam a outras dinâmicas de funcionamento, público e coisa e tal.
Como descentralizar e acabar com o monopólio das atrações etílicas plano-pilotenses?
É, isso é muito complexo. Caberia um outro texto tentando debater essa questão.
Em partes, acho que o sucesso da cena fora do Plano Piloto passa também por nós, consumidores. Com o perdão do meu francês, a gente tem que parar de se fuder pra colar no Plano e começar a beber mais perto de casa.
Consultem e cobrem cervejarias locais para abrir novos pontos de venda, cobrem também os próprios PDVs, procurem consumir mais produtos locais.
Cervejas artesanais e drinques são caros. Não faz sentido que a gente precise morrer uma grana para se deslocar de casa com Uber e afins toda vez que quiser beber coisa boa.
Pitacos gerais sobre a cena e o chato mercado de eventos cervejeiros em Brasília
Assim como os anos anteriores, 2019 foi um ano de eventos muito parecidos, que repetiram uma fórmula esgotada: a cansativa associação de cerveja artesanal + rock n’ roll + comida “ogra”.
De brinde, algumas cervejarias e bares insistem em táticas e ações ultrapassadas de marketing.
Exemplo: colocar o estereótipo “mulher gostosa” para oferecer novos produtos.
Puta merda, né?
Com exceção do Viva La IPA (melhor evento cervejeiro do ano no DF, na minha opinião), que deu espaço a uma banda de fanfarra, por exemplo, e teve um trabalho interessante de curadoria dos rótulos oferecidos, todos os demais eventos e a maioria dos bares que fui parecem repetir essa mesma lógica rock+cerveja+bacon, como se fosse a única possível dentro da cena.
É pouco. Melhorem.
Como outro ponto negativo, destaco também a dificuldade de encontrar rótulos locais em pontos de venda a despeito do enorme crescimento do número de marcas de cervejarias no DF.
São mais de 30 cervejarias no DF. Onde estão? Por que é tão difícil encontrá-las? Por que não ocupam mais espaço nas torneiras da cidade?
Agora, sobre as cervejarias do DF: ainda é um mercado que está crescendo e tudo mais, mas é urgente a consolidação de processos de padrão de qualidade e inovação (!), principalmente. Existe todo um universo de possibilidades de receitas para além de fazer mais uma IPA com rapadura.
Pedidos encarecidos aos pontos de venda e às cervejarias
Queridos PDVs,
Limpem. Suas. Torneiras. Com. Frequência.
O que eu tomei de chope com linha suja em 2019 não está no gibi, como diria meu velho pai. Vocês estão proporcionando experiências meia-boca ou ruins a potenciais adeptos da cena cervejeira e frustrando velhos clientes.
Parem de chuchar e limpem suas linhas de chope, pelo amor da entidade-que-você-acredita.
Precifiquem cervejas locais direito. Para além das linhas sujas, ficar bebendo cerveja local cara é um tiro no pé. Vocês sabem o preço da cerveja que sai da fábrica. Parem de querer lucrar absurdamente no valor que pagaram nos barris das cervejarias locais.
Queridas cervejarias,
Parem de vender lotes ruins. Parem de vender cervejas velhas. Repensem o fluxo de produção e escoamento. Beber cerveja local e in loco e não ter uma experiência fresca é frustrante. Repetindo o que foi dito acima: vocês estão proporcionando experiências meia-boca ou ruins a potenciais adeptos da cena cervejeira e frustrando velhos clientes.
Bom, eu acho que era isso. Talvez eu tenha falado demais. Melhor ficar por aqui.
Feliz Ano Novo e que 2020 seja melhor! Saúde!
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