Olist: o começo

Cléber Zavadniak
clebertech
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6 min readJan 20, 2017

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A parte legal de mudar-se de emprego no começo do ano é que fica fácil de se associar uma empresa a um ou mais anos. 2013 foi “o ano da BRQ”. 2014 e 2015 foram “os anos do Grupo Inlog”.

2016, para mim, foi “o ano da Olist”.

Eu estava desempregado fazia 20 dias quando entrei na Olist. Sobre minha saída do emprego anterior, você pode ler aqui e aqui. Foi algo muito providencial, não somente ter conseguido um lugar para trabalhar, mas também ter sido um bom lugar para trabalhar.

Explico.

A verdade é que “o mercado de programação” tem muitas vagas abertas, mas é complicado traçar um panorama pessoal baseado em um conceito tão vago quanto meramente “programação”.

Os programadores dividem-se em pelo menos dois grandes ramos, que eu consciente, propositada e simplesmente divido em “programadores big corp” e “programadores open source”. Talvez não seja a melhor forma de se traçar uma linha, eu sei, mas a meu ver é suficientemente adequada para o momento.

O “programador big corp” (doravamente denominado “PBC”) geralmente domina uma pilha criada por uma “grande empresa” (uma “big corp”). Pode ser Java e seu complexo ambiente ou C# e .Net e seu complexo ambiente. É o tipo de habilidade e conhecimento que garantem emprego.

Te dá emprego nessa maravilha de ambiente, aí…

Não digo que todo programador Java ou C# seja um PBC. Mas ter uma dessas linguagens como “linguagem principal” é uma evidência forte a esse respeito.

Quando uma empresa quer contratar “commodity programmers”, é dessa safra de gente que ela colhe. Nesse meio, certas coisas que são vistas com estranheza por nós, “programadores open source”, são absolutamente normais e aceitáveis, como programadores que

  • não conseguem ler em inglês
  • não tem conta no Github
  • nem sabem o que é o SourceForge
  • não conhecem sistemas POSIX e não conseguem se virar bem num shell “Unix”
  • não sentem-se seguros usando bibliotecas feitas por meros “fellow-programadores

Do outro lado da moeda, há os “programadores open source” (doravante denominados “POS”). E o mundo POS é uma pletora de linguagens, frameworks, ambientes e ferramentais distintos. Pensa na fauna amazônica. POS estão para PBC assim como protestantes estão para católicos romanos. Enquanto de um lado há um tipo de padrão, do outro há algumas poucas característica comuns que são meramente suficientes para agrupar sob um mesmo guarda-chuva vertentes que parecem, muitas vezes, absolutamente distintas.

Logo, quando se diz que “o mercado de programação está cheio de vagas abertas”, vemos que isso se aplica muito mais aos PBC do que aos POS. Repare nas vagas anunciadas: a maioria é C# ou .Net, depois Java, depois gerente de redes Windows ou qualquer coisa nesse estilo. Quantas vagas de programador Haskell você vê abertas por aí? Até linguagens que estão há muitos anos crescendo em uso, como Python, tem poucas posições aguardando para serem ocupadas. (Estou considerando o mercado brasileiro. Se contarmos o exterior, a coisa muda de figura.)

O motivo porque há poucas vagas abertas para profissionais com habilidades em determinadas tecnologias não pode ser confundido com mera “falta de boa-vontade” das empresas (e sabe-se lá qual seria a definição disso, afinal). O fato é que é difícil contratar bons profissionais. E, não, não resume-se apenas a “há poucos profissionais no mercado”, mas soma-se a isso a complexidade do próprio processo seletivo. Não é qualquer profissional de RH que consegue medir a capacidade de um programador de Erlang ou LISP ou Python (e lembre-se de que praticamente não existem certificações para a maioria das tecnologias open source). Primeiro é preciso ser um bom programador Erlang ou LISP ou Python para depois conseguir avaliar candidatos. Geralmente, acaba-se fazendo uma “operação conjunta” entre RH e o membro mais proeminente da “equipe técnica”, e a metodologia utilizada varia bastante de empresa para empresa.

Logo, sendo eu um programador Python, a quantidade de vagas abertas na minha cidade (Curitiba) não é assim muito grande. Por isso eu digo que foi providencial o Osvaldo ter me chamado para trabalhar na Olist. (Pode ser interessante ler este artigo que ele escreveu, inclusive).

Na época em que entrei não havia um “processo seletivo” muito bem estabelecido (e a empresa mal tinha um “RH”, também), então, da minha parte, resumiu-se a conversar com o CTO (o Osvaldo) e o CEO (o Tiago), levar a carteira de trabalho e simplesmente botar a mão na massa o mais breve possível.

Meu primeiro dia de trabalho acabou caindo justamente no dia do “Planejamento Estratégico de 2016” — dia 13 de janeiro. Isso foi bem interessante, porque tive a oportunidade de já ganhar um overview da empresa como um todo, conhecer algo sobre cada área, ouvir várias outras pessoas falando algo sobre seu setor e já saber quais eram os objetivos para o ano.

Ao contrário do Grupo Inlog, em que alguém levava você para conhecer a empresa toda e ser apresentado para cada setor, na Olist havia o costume de a pessoa mesma apresentar-se ao restante do time. Minha apresentação demorou um tanto a ser feita e acabei fazendo-a via Slack, mesmo. (Vide-a aqui).

Nos primeiros dias o que eu estranhei mais foi o escritório, que era daqueles “open space”. Eu não me manifestei a respeito disso, pois a Olist havia vindo de um escritório bem pequenino e ido para aquele espaço bem grande (“grande” especialmente quando não havia sequer 20 funcionários contratados), então o novo escritório era motivo de orgulho para quem já estava na empresa havia mais tempo. Então eu não quis derramar um balde de desagradáveis crítica e ceticismo no entusiasmo de ninguém.

Mas é fato: eu perdi uns 15% ou mais de produtividade simplesmente por causa dessa configuração de escritório — há muita poluição sonora e distração visual quase o tempo todo. Por outro lado, eu admito que isso aumenta, sim, a interação entre as equipes. Eu só acho que isso, per si, não paga os 15 a 20 porcento de baixa de produtividade justamente da equipe com a folha de pagamento mais cara da empresa. Por isso defendo ambientes mistos, em que pelo menos os desenvolvedores possam isolar-se do ruído e distração visual do “open space”.

Mas, como eu disse, no começo de 2016 o escritório era visto e sentido muito fortemente como uma grande conquista da empresa, então eu simplesmente guardei minhas opiniões para mim mesmo e busquei ver o lado positivo das coisas.

Já de começo eu ganhei um bom laptop para trabalhar. E isso é excelente. Passou a época dos PCs desktop! Com o laptop eu ganhei mobilidade dentro do escritório e ainda pude trabalhar remotamente sempre que necessário (e, depois de algum tempo, sempre que eu quisesse). Mas, por falta de experiência trabalhando com laptops, eu negligenciei um outro equipamento importantíssimo, que é o apoio de laptop, junto com teclado e mouse “normais”. Porque, sério, as costas começam a doer depois de uns dias “encorcundado” na frente da telinha. Ela deve estar na altura dos olhos, então você precisa do apoio para trabalhar confortavelmente.

Engraçado que esse de plástico foi o que mais me agradou.

Eu era usuário do Funtoo, então demorei muito tempo para configurar minha máquina. Ainda bem que o Osvaldo e o restante da equipe foram pacientes comigo. Posteriormente deixei de lado algumas “chatices” minhas e acabei indo para o Linux Mint, que agora é minha distro de escolha para eventuais novas máquinas.

No próximo artigo escreverei sobre as coisas legais que aprendi na Olist. Provavelmente farei um artigo sobre o “aprendizado técnico” e outro sobre o não-técnico. Até lá!

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