A incrível “argentinidad” :D

Como o país hermano se tornou uma segunda casa para mim

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado
8 min readDec 1, 2017

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Caras de Buenos Aires

Um novo lar

Quando você decide namorar um argentino e as coisas vão bem, em algum momento o país dele vai ser tua casa também, de certa maneira. Isso aconteceu comigo, pelo menos. Depois de várias idas e vindas, hoje a Argentina tem um sabor mais de visita à família que turismo.

O engraçado é que o país hermano não estava nos meus planos. Meu irmão já havia ido até lá alguns anos antes e tinha voltado com várias histórias pra contar. Mas nunca foi um país que eu ansiasse por conhecer. Qual não foi minha surpresa quando descobri que esse país estava no meu destino! Tudo, novamente, graças a organização que tinha me levado para o Egito anos antes e que desde então me foi abrindo portas e mostrando novas possibilidades.

De 2012 a 2014 eu fui voluntária na AIESEC em Bauru, cidade onde vivia, estudava e me tornava gente grande. Como é uma organização internacional, tive a oportunidade de aplicar para uma posição em outro país e decidi postular a um cargo no Uruguai.

Fui aceita (YAY :D), vim pro Uru e estou aqui há algunas anos — mas calma, que isso é tema do próximo texto! O importante a destacar aqui é que os primeiros capítulos desse meu (suposto) ano fora do Brasil aconteceriam em Buenos Aires.

O Ateneo (de novoo) e vistas do Obelisco

Pisando em solo argentino

Quando você começa uma nova experiência na AIESEC, idealmente você deveria ter uma transição com a equipe anterior que fazia esse trabalho. No nosso caso, a equipe da AIESEC no Uruguai 2014.15 era a primeira gestão totalmente independente daquele país. Isso porque o time anterior gerenciava ambas nações, Argentina e Uruguai, mas viviam em Buenos Aires.

Resumindo: por 6 semanas, minha vida estaria na capital argentina, fazendo transição e aprendendo de verdade a falar espanhol hehe (ou melhor, jeje).

Influências argentinas na minha alimentação: Starbucks, doce de leite e “facturas” :D

Como tudo é uma caixinha de surpresas, eu não imaginava (de novo) que voltaria para a Argentina com a frequência que voltei. Estive no país por trabalho, para passear (a proximidade com o Uruguai facilita muito) e muitas vezes mais para conhecer a nova família que formaria graças ao namô. Nesse post quero compartilhar um resumo do que vi, vivi e amei nessa terra tão charmosa.

Capital Federal, Buenos Aires

Naquelas 6 semanas iniciais com a minha nova equipe de trabalho, minha casa era um apartamento barulhento em Palermo. Em total, éramos cerca de 12 pessoas (sim, só havia um banheiro) e três nacionalidades: Argentina, Colômbia e Brasil.

Os primeiros dias vivi em choque, pelo que me lembro, tentando entender o que as pessoas falavam e acostumar-me ao frio já intenso em maio. Mas logo comecei a sentir-me em casa, fiz meus primeiros amigos e iniciei meu contato com a famosa argentinidad.

De segunda a sexta, deixava minha cama quentinha e fazia um trajeto dinâmico de caminhada + metrô + caminhada até o escritório onde trabalhávamos e que ficava na enorme avenida de Mayo. Enquanto me dirigia até o edifício onde trabalhávamos, eu gostava de olhar para trás e ver ao fundo a Casa Rosada, sede do governo federal. Nos fins de semana, eu colocava minha armadura para sair a desbravar a metrópole: três casacos (mínimo), cachecol e uma novíssima bota de chuva (mesmo se não chovia, mas porque era linda).

La Casa Rosada

Impressões da grande cidade

Buenos Aires é bem movimentada e me fazia lembrar São Paulo. Mas tem um ar diferente, mais vintage, com suas construções antigas, lojas e cafés com um glamour meio europeu, árvores cheias de folhas amarelas no inverno, o ruído melodioso dos carros e do espanhol por todos os lados. Inclusive, o espanhol rio-platense (ou seja, variação do idioma falado nos países hispanohablantes do Rio de la Plata) é único e, como tal, soa diferente das demais versões do espanhol na América Latina.

Em Buenos Aires aprendi a reconhecer os pronomes espanhóis corretamente, a tomar Fernet e a adorar o chocolate quente do Starbucks. Depois que a transição acabou, tomamos o barco para o país vizinho, mas o gostinho de quero mais ficou. Por isso, em feriados e férias seguintes, eu voltei pra continuar conhecendo e entendendo Buenos Aires. Esses foram alguns dos lugares que conheci na capital argentina e que recomendo:

Passear pelas praças, cafés e restaurantes de Plaza Serrano

A night life dos bares de Palermo

El Ateneo (a glória dos amantes de livros)

Jardim Japonês

Plaza de Mayo

Obelisco

Ponte da Mulher

Ler ou fazer piquenique no gramado do Planetário

Cemitério da Recoleta

Floralis Generica

Hipódromo

Caminito

Paredes de La Bombonera e do Caminito
Mais Caminito :) Gosto das cores
Jardim Japonês
Facultad de Derecho e Floralis Generica
Cemitério da Recoleta e a Ponte da Mulher

Outros destinos

Mesmo tendo uns 20 selos da Argentina no meu passaporte, não conheço muito mais além de Buenos Aires. As viagens seguintes foram mais familiares, geralmente visitas à família do meu companheiro em alguns aniversários, férias e dias festivos.

Nessas ocasiões, estivemos em City Bell (pertinho de La Plata) e Ayacucho (próximo de Tandil, que também tive a oportunidade de conhecer). Tanto City como Ayacucho têm para mim essa cara de cidade de infância. Inclusive em alguns aspectos me fazem lembrar o lugar onde cresci no Brasil. São cidades pequenas, com praças que se enchem de crianças no fim de semana, rostos conhecidos ou não que te dizem “buenos días” e ruas tranquilas para caminhar — carros podem ser dispensados com frequência.

Murais em Ayacucho
Passeando em Tandil
Vistas de La Plata

Quem levei na mala (e no core)

Antes de chegar na Argentina, eu tinha um pouco de receio sobre como seria recebida. Não sei bem ao certo porque esperava que a animosidade entre brasileiros e argentinos que me acostumei a ver no futebol estaria também no dia a dia do país vizinho. Mas a realidade foi totalmente diferente (ainda bem!): mesmo sendo 2014, pleno ano de Copa do Mundo, em todos os momentos me senti super bem recebida e até mesmo querida por todos que conheci. Não há nada como viajar para romper preconceitos, não é?

Hoje admiro muito do jeito argentino de ser graças às pessoas desse país com quem tenho contato. São muito transparentes, diretas e honestas, o que permite uma conexão real e fácil. Também são divertidos e amam estar juntos ao redor de uma mesa, tomando mate ou comendo churrasco, felizes por simplesmente compartilhar.

Aprendi muito deles e inclusive dois das pessoas mais importantes da minha vida atualmente são daquelas bandas — namô e amiga, os dois argentinos que me buscaram no aeroporto e que desde então me acompanharam nesses últimos três anos. A eles e a todos os outros argentinxs que foram sendo parte do meu caminho, por pouco ou muito tempo, sou muito grata.

Eu e esses dois queridos argentinos (menos o gato, que é uruguaio)

Assim como muitas metrópoles por aí, Buenos Aires é uma cidade cosmopolita onde é fácil encontrar estrangeiros em muitos lugares. Eu tive a sorte e o desafio de conviver em uma casa com argentinos e também outras duas nacionalidades: brasileiros e colombianos. Foram seis semanas de muitos sotaques, acordes de violão na madrugada, cozinha sempre concorrida e novos sabores que me fizeram sentir uma cidadã global. Eu já disse antes: estar em outro país parece fazer o tempo ter outro significado.

5 coisas random que nunca vou esquecer…

  • Comer asado
    Não só pela carne delicinha, mas principalmente por todo o ritual de acender o fogo, preparar os pratos, comer e conversar enquanto tomamos uma cerveja ou um vinho. Horas e horas de alimentação pro corpo e pra alma.
  • La argentinidad
    Essa música explica um pouco sobre a argentinidad, mas como mencionei antes, há muito para aprender com esse povo. A maneira de ser, de criticar as coisas, de sair pras ruas pra protestar e de não ter medo ou preguiça de politizar-se desde jovens é admirável.
  • Tomar chocolate quente enquanto trabalho num Starbucks
    A cena é gloriosa e o sabor também :D Tenho uma relação de amor com o Starbucks argentino, especialmente porque a cadeia de cafés ainda não chegou ao Uruguai e porque no Brasil faz muito calor para tomar chocolate quente.
  • Caminhar pelas ruas imensas de Buenos Aires, admirando os edifícios antigos, as árvores centenárias, as pessoas indo e vindo…
  • Passear de bicicleta pelos parques da capital e parar pra ler e descansar na grama geladinha à beira de um lago ou na sombra de uma árvore.

Para trazer uma visão mais completa desse país, eu convidei minha amiga Caro (aquela da foto) pra responder algumas perguntas sobre sua nação. Dá uma olhada nesse link e conheça mais sobre a Argentina pelos olhos de alguém de lá.

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Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros