Cronofobia

Maximilian Rox
Conto que te Conto
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2 min readNov 29, 2018

O que sonham os acordados

Eu acordei com aquela música na cabeça. Era como se ela fosse a trilha sonora de um sonho incrível que eu não me lembro agora. O que eu me lembro é que acordei tarde. Tão tarde minha alma pesou para levantar às 18h10 de algum dia no meio da semana.

O sol já se escondia entre os prédios quando venci a gravidade para tentar aproveitar o resto do dia. O estranho é que o poente se manteve sorrateiro no horizonte alaranjado por muito tempo; o suficiente para perceber que essa não era a única anomalia.

A televisão travou na estática e as redes sociais estagnaram. Ninguém publicava algo, muito embora o celular insistisse em dizer que as últimas atualizações aconteceram alguns minutos atrás. Para piorar, o marcador resistia no mesmo ponteiro do dia — mas eu sabia que os segundos se acumulavam como as gotas cronometradas caíam na pia.

Uma visita rápida nas ruas comprovou que meu instante parecia congelado na régua do tempo. Não era só isso: eu estava realmente sozinho no meio de tudo isso. Os carros foram abandonados enquanto as luzes e faróis travaram sua ordenada sinfonia. As lojas brilhavam seus letreiros para as nuvens que dormiam com graça pelo céu. E eis que meus pensamentos ecoavam pelas esquinas com mais força que o próprio vento.

Não sei por quanto tempo eu vaguei na esperança de encontrar algum som ou alma viva, mas parei para descansar em uma praça em frente à uma igreja. Foi quando percebi que o relógio de pulso, um presente esquecido de um amor passado, estava com a tela de vidro levemente solta. O acaso foi singelo quando eu fiz o click para juntar as peças novamente — o tempo voltou a andar impaciente tal como a noiva que saiu do carro e seguiu ao abraço gracioso da marcha nupcial à sua frente.

O grande dia

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Maximilian Rox
Conto que te Conto

Jornalista com ascendente em poesia. Community manager; Call of Duty, games, esports.