O que sonham os acordados

Maximilian Rox
Conto que te Conto
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2 min readNov 16, 2018

Viciadamente

O luar acariciava os cabelos da jovem que dormia com tranquilidade dentro do carro. A noite estava quente a ponto de arrebatar qualquer sono de um olho fechado; e uma calma melodia tocava quando ela percebeu que estava sozinha e parada em alguma rua vazia da cidade.

Foram horas e mais horas de viagem e ela já não sabia há quanto tempo estava dormindo nessa fuga. Deixou para trás a família e um bilhete assinado por lágrimas e desculpas; um testamento de que eles jamais entenderiam essa migração desejada entre e lástimas e culpas.

Seus pensamentos eclodiram com a canção. Um violão amargurava notas lentas e embaladas pelo acaso tal como a lâmpada piscando na esquina. A tensão das cordas era refinada por uma mão que logo se revelaria tão hábil como a voz doce e delicada que dava vida à história de um pássaro que escolheu as montanhas ao invés da vida no ar.

A voz cortou subitamente como se o carro poupasse sua própria bateria e, ao mesmo tempo, algumas lágrimas da passageira. Foi quando a porta do carro abriu e deu passagem para a bela motorista que topou fazer essa jornada rumo ao incerto. Em suas mãos estava um punhado de notas, dois copos com café e a pressa de colocar a chave na ignição.

“Porque não liga o rádio? Estava passando uma música tão boa”.

Foi então que ela lhe contou que o carro não tinha nenhum rádio.

Cronofobia

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Maximilian Rox
Conto que te Conto

Jornalista com ascendente em poesia. Community manager; Call of Duty, games, esports.