O grande dia

Maximilian Rox
Conto que te Conto
Published in
1 min readDec 2, 2018

Cronofobia

A igreja transpirava sussurros e suspiros enquanto os segundos pareciam os mais insolúveis possíveis à espera da noiva. Ele a amava, mas aguardar a sua passagem pela porta era algo que martelava a mente em uma frequência atordoante. Cada transpiração remexia a corrente elétrica que o incomodava sem fim — um convite mudo e ansioso para a catarse pelo amor. Um filme que se congelou por horas no instante da resposta.

Como se ouvissem as súplicas ao silêncio, as trombetas iniciaram a marcha; e a tensão, outrora onipresente, se esvaziou como a brisa ao furacão. O passo lento, acompanhado pelo glorioso vestido, tomou as notas musicais para si e construiu a própria valsa. A dama sorriu; sorriu com graça pelo momento que tanto havia sonhado, inundando aqueles que acompanhavam a dança com o brilho da sua chegada. Mas o mais belo sorriso não mirou em seus olhos e passou reto pelo canto mais escuro em que estava.

Foi-se o tempo das lamentações; o infeliz desceu as escadas da igreja enquanto acendia um cigarro. Lançou um último olhar para trás — bem a tempo das portas se fecharem com um baque tão surdo como seu passado.

Aquarela estelar

--

--

Maximilian Rox
Conto que te Conto

Jornalista com ascendente em poesia. Community manager; Call of Duty, games, esports.