Solitária ressaca

Maximilian Rox
Conto que te Conto
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2 min readDec 16, 2018

Aquarela estelar

A fumaça branca do café percorreu o corredor do hospital enquanto eu voltava para o quarto.

Como sempre, o cômodo acomodava mais suspiros que pacientes. Três camas brancas se alinhavam à parede e, bem ao fim, uma cadeira de madeira era o meu conforto enquanto eu esperava quase todos os dias por um sinal que valesse a pena toda a minha espera.

O luar batia na janela e jogava um pouco de brilho sob a cama. Tudo parecia calmo, sem surpresas. O único morador daquele cubículo respirava sutilmente em uma frequência quase melódica — uma valsa solitária que ecoava por um salão frio como a solidão.

Hoje eu jurei que os olhos dele se contorceram dentro da cortina fechada há dois anos. Foi algo súbito e parecia uma alucinação passageira, mas você apaga qualquer apego com o tempo. A esperança, ah, ela é uma caverna traiçoeira com aqueles que só pensam nela. E os sinais só criam trilhas sem volta para o interior em coma.

O que resta para noites assim são bons minutos de silêncio, um livro esquecido na estante e um bom café. Mas o de hoje estava frio; ou eu talvez não prestei atenção no tempo depois de ver mais um movimento tímido por cima das páginas.

Ensaio sobre a obsessão

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Maximilian Rox
Conto que te Conto

Jornalista com ascendente em poesia. Community manager; Call of Duty, games, esports.