crónicas sem vista para o mar

Malditos sejamos!

Devemos reverência, gratidão, uns tragos no bar, ou quem sabe até umas rendas da casa, aos artistas malditos; estes nobres…

Frater Germanum

A vida me deu um irmão verdadeiro, que morreu uma morte falsa.
Dói uma dor morna.
Doída pela distância geográfica e temporal…

O caso da pistola, do cão preto e da peruca loira.

As pessoas dos cafés

As pessoas dos cafés
não são pessoas.
São qualquer coisa parecida;
parte da mobília,
parte do Estado,
das grandes corporações,
do jogo das ruas que se inicia após uma escovação de dentes,
seguida por corredores, elevadores, recepções,
grades, cercas, portões, demarcações.
E o jogo continua…

A dose certa

Todos já tivemos um grande amor, para a vida toda. Que afinal, nem era amor, nem duraria…

Esse texto passa rápido.

O pior nisso dos anos é que eles passam.
Os melhores cães morrem antes das piores pessoas.
Os filhos começam a andar, perdem os dentes, ganham pentelhos e começam a pagar contas — as deles.
Tudo está sempre mais caro; até o jornal, que tem ficado mais fino.
Gente é sempre mais grossa…

Distraídos perderemos.

O cursor do editor de texto debocha da minha procrastinação, exibindo dedicação ao seu ofício com uma pontualidade…

Ponta Verde, Maceió.

Pareço estar metido numa roupa, dois números a menos.
Os botões quase saltam e fica evidente que a minha permanência aqui é absurda. Com sorte vou ser expelido. Vejo os vizinhos e as suas expressões de conforto: tudo parece menos incômodo. Vestem vidas que lhes assentam perfeitamente. Ótimo…

Inútil

Olhou a parede branca do apartamento novo, no décimo quarto andar.

Viu a vida em frente; as paredes aguardavam mais uma demão de tinta e o tempo esperava pelos ponteiros.

Sentiu preguiça de seguir.