Porque devemos arrumar nossas camas

Os monges beneditinos do século IV tratavam o pecado da preguiça, ou a acídia, como o demônio do meio-dia. Nesse post, falo sobre como essa definição é mais fiel do que o que usualmente definimos preguiça e como ela afeta a sociedade contemporânea.

Gabriel Goulart
Diários de Kairos
15 min readJun 25, 2018

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“Acedia”, por Pieter Bruegel (1558).

O dia começa como qualquer outro, mas algo dentro de você hesita em iniciar as labutas que lhe são requisitadas. No trabalho, a hora não passa e o relógio na parede torna-se o ponto onde o seu olhar cai constantemente. O dia é eterno. A hora do almoço está tão distante quanto o Sol. O ambiente ao seu redor passa a te irritar. Você começa a notar pequenas falhas no comportamento das pessoas ao seu lado. Ah, como a vida seria maravilhosa em um local onde tudo é perfeito, onde você poderia se engajar com seu trabalho, onde você poderia aproveitar seu tempo livre para fazer as coisas que mais gosta. Lá, nessa terra de fantasia você poderia realmente fazer o que ama. E assim, mais um dia passa, onde, por estar preso à esta mentalidade, pouco trabalho de fato foi feito.

Você muito provavelmente já se pegou num fluxo de pensamentos como esse, onde a mente passa a questionar a validade da realidade ao seu redor e prefere sonhar com um mundo idealizado onde ela pudesse florescer. Em um mundo cada vez mais absurdo, onde cada vez mais recebemos notícias que nos fazem duvidar sobre a estabilidade do futuro, é normal que sonhemos com uma grande terra da fantasia. Acontece que nada disso é novo. Essa recusa da mente em se empenhar com o ambiente ao seu redor tem um nome: acídia.

A Origem da Preguiça

Acídia vem do grego acedia que significa “falta de zelo/atenção”. Esse incômodo mental era bem conhecido pelos monges beneditinos do primeiro milênio e assim, fez parte do conjunto dos Oito pensamentos malignos (Logismoi) definidos por Evagrius Ponticus, um monge cristão e ascético que viveu no século IV. Cerca de duzentos anos depois, esses Oito pensamentos malignos tornaram-se os Sete Pecados Capitais pelo Papa Gregório I e a acídia foi substituída pela preguiça. Contudo, é importante notar que a nossa definição de preguiça não é o mesmo que a acídia, mas sim uma consequência.

A origem da preguiça, da incapacidade do nosso corpo de realizar um certo trabalho provém da falta de importância que a nossa mente dá para este próprio trabalho. Um exemplo bem prático dessa diferença é uma tarefa que nossos pais sempre nos pediram para realizar mas que muitos de nós sempre questionaram: arranjo da cama. Quantos de nós, em algum momento da nossa infância já responderam à essa tarefa com “qual o motivo de arrumar a cama se amanhã ela vai estar bagunçada novamente?”. Por um lado podemos ser vistos como preguiçosos ao não arrumar a cama, mas esta preguiça vem da incapacidade da mente de realmente se importar com uma cama arrumada.

Evagrius define a acídia, assim como os outros Oito pensamentos malignos, como um demônio que assola a mente em Praktikos, o seu guia para uma vida ascética:

O demônio da acídia — também chamado de demônio meridiano — é o mais oneroso de todos. Ele ataca o monge por volta da quarta hora e cerca a alma até a oitava hora. Antes de tudo, ele faz o monge achar que o sol mal se move, e que o dia tem cinquenta horas. Então ele impele o monge a olhar constantemente pela janela, a andar por sua cela, a olhar fixamente o sol para determinar o quão distante está da nona hora; a olhar para todos os lados, para ver se algum dos irmãos surge de sua cela. Então ele também incita no monge um ódio pelo lugar, um ódio pela própria vida, um ódio pelo trabalho manual. Ele o induz a refletir que a caridade se apartou do meio dos irmãos, que não há ninguém para encorajar. Se ocorrer de alguém, durante esse período, ofendê-lo de algum modo, então o demônio também usa isso para aumentar o ódio que há no monge. Esse demônio o induz a desejar outros lugares onde ele poder melhor atender as necessidade da vida, achar um trabalho mais fácil e ter sucesso real. Ele sugere que, afinal das contas, não é o lugar que agrada o Senhor. Deus pode ser adorado em qualquer lugar. Ele acrescenta à essa reflexão a memória de seus entes queridos e de sua antiga forma de vida. Ele apresenta a vida lá de fora por muito tempo, e traz aos olhos da mente a labuta do combate ascético e, como diz o ditado, não deixa folha sobre pedra para induzir o monge a abandonar sua cela e se retirar da luta. Nenhum outro demônio se aproxima após a derrota deste, mas após esta luta tudo o que fica é um estado de paz profunda e alegria inexprimível.

A acídia, a incapacidade da mente de se importar com o mundo ao redor dela, faz com que a pessoa sonhe com mundos perfeitos, onde estas tarefas incômodas já são resolvidas, onde não há nada para fazer além das coisas que a própria mente gostaria de fazer. Perceba como este desejo de fuga dos problemas é uma solução efetivamente preguiçosa. A pessoa com acídia não quer se empenhar em construir esse mundo ideal em seu próprio ambiente, afinal ela já o detesta, mas sim deseja que esse mundo ideal já tenha sido construído por outra pessoa. A questão é que a fuga dos problemas de nada adianta, apenas fortalece o incômodo mental. É um enorme paradoxo que retroalimenta a acídia: o desejo de fuga pela insatisfação com o contexto atual, a frustração do novo cenário não ter correspondido com as expectativas, a maior idealização com um mundo perfeito. A dificuldade e o desejo da prática dos exercícios físicos é um exemplo comum disso. Muitas pessoas sonham em ter um corpo definido, mas acabam cedendo à esta preguiça mental e, justamente por não manter a rotina de exercícios, acabam deixando de se importar com o próprio corpo, que alimenta ainda mais a idealização de um corpo definido e assim, a frustração aumenta.

“Barco parado não faz viagem.” — Provérbio português

Em Praktikos, Evagrius fala sobre como a acídia nunca incomoda a mente sozinha. Geralmente, este demônio acaba sendo acompanhado por outros pensamentos malignos, como a ira — exemplificado pelo repentino ódio ao ambiente ao seu redor — e o orgulho. Muitos de nós acabam não realizando tarefas mundanas como o já citado arranjo da cama por achar que tais tarefas são aquém de nossa capacidade ou de nossos interesses, por achar que há coisas mais importantes para se preocupar. De fato, existem problemas colossais se comparados com louças não lavadas, mas isso não elimina a questão de que uma pia suja deve ser limpada, de que um trabalho a ser feito é um trabalho a ser feito. Evagrius aponta que ao negligenciarmos estas tarefas pequenas, acostumamos nossa mente a não se empenhar ou a não se importar com absolutamente nada. Se logo após limpar a sua casa, uma pessoa chega com um copo de cerveja na mão derramando a bebida por toda a sua residência, você com certeza ficará indignado, afinal você passou por um árduo trabalho apenas para tornar-se inútil após a chegada desta pessoa. É portanto a partir da nossa preocupação com certas coisas que efetivamente trabalhamos pela manutenção das mesmas.

O orgulho que acompanha a acídia traz um outro problema que acabou se tornando comum nos últimos anos. Em um mundo onde o politicamente incorreto é atacado a qualquer custo, é muito mais fácil atacar o próximo por seus erros do que reconhecer os seus próprios. É visível e de certa forma revoltante a incapacidade de nossos políticos de arcar com a responsabilidade dos seus erros, mas isso não se limita à esfera política. Esse comportamento está por todos os lados. De brigas em relacionamentos à confrontos no trabalho, estamos sempre apontando os erros daqueles que não gostamos e por outro lado, não tomamos responsabilidade por nossas ações. Mas se a acídia é um pecado, então o perdão é o seu principal remédio. O problema é que o perdão é trabalhoso. Ele requer uma atenção constante, flexibilidade e auto-resiliência que permite que alguém reconheça os seus próprios erros e trabalhe para os consertar, ao mesmo tempo que os pontos positivos dos outros sejam reconhecidos como tais. O perdão exige um forte trabalho mental pois a acídia é tentadora e requer pouco esforço.

Evagrius também cita o outro lado da acídia, que faz com que o monge se ocupe por completo de caridades fora do monastério afim de evitar o confronto com o tédio mental. Isso parece justamente o contrário da preguiça, mas lembre que Evagrius define a acídia como um pecado da mente e não do corpo. Este monge faz caridade não por um desejo de fazer o bem, ele não se importa com as pessoas que está ajudando, mas sim por ser uma tentativa de fuga da própria acídia. É ela que nos mantém ocupados em infinitas coisas todos os dias e que nos evita de fazer algo que realmente mude o status quo para melhor, afinal não temos tempo. A academia que você diz que não consegue encaixar num horário livre, o livro que você está demorando para terminar, o curso de música que você tanto evita de começar são ações que você reconhece que seriam benéficas, mas devido à aparente falta de tempo livre, prefere ocupar os espaços com descanso. É claro que descanso é sempre bem vindo, mas acredito que é útil reconhecer que muitas vezes usamos o pequeno tempo livre que temos para justificar a nossa inação. No fim, agendas hiper-ocupadas também acabam sendo uma desculpa para nossa falta de zelo com nossos familiares e amigos. E assim, a acídia evolui para uma total e completa indiferença para com as pessoas.

A acídia constantemente procura por motivos para justificar a sua presença e portanto para justificar a inação do indivíduo. A cama bagunçada amanhã é uma desculpa para não arrumá-la hoje. Lixos jogados nas ruas são uma desculpa para o papel de bala discretamente deixado na calçada. Um dia sem exercícios físicos é motivo para o abandono da prática. A corrupção generalizada de nosso país é justificativa para nossas pequenas malandragens diárias. E, de forma mais preocupante, nossa inevitável morte é desculpa para nossas irresponsabilidades ou para nossa inação. Levada ao extremo, ela inibe a vontade do ser humano em qualquer tentativa de ação e assim, faz com que o indivíduo se contente com o mínimo necessário para sobreviver e o afasta de seus sonhos.

O indivíduo assolado pela acídia é incapaz de iniciar qualquer projeto, por achar que seu esforço não será recompensado ou que o resultado não será útil. Assim, ele chega à conclusão de que nada do que ele possa fazer irá adiantar para mudar o mundo ao seu redor: o que o leva ao desespero — uma noção absoluta de que nada no mundo faz sentido e por fim, uma total falta de esperança de que algo irá mudar. Perceba como a acídia é um tipo de profecia auto-realizável: a pessoa assolada por ela é incapaz de qualquer ação porque acredita que nada no mundo irá mudar, mas é justamente pela falta de ação que o mundo não muda.

A Evolução da Acídia

Essa definição de acídia como pecado por parte de Evagrius acabou se perdendo ao longo do tempo. No século XIX, os escritores românticos a usavam como fonte de inspiração, chamando-a de mal du siècle (mal do século). Em seu ensaio Accidie (1923), Aldous Huxley fala sobre como a acídia evoluiu de pecado para algo a ser desejado, idealizado e sensualizado. Lá, ele escreve:

A sensação de futilidade universal, os sentimentos de tédio e desespero, com o complementar desejo de “estar em qualquer lugar, qualquer lugar fora desse mundo”, ou pelo menos fora de onde a pessoa está no momento atual, têm servido de inspiração para poemas e livros por mais de um século. (…)

Huxley também nota que, mesmo que os tempos modernos não tenham inventado o conceito da acídia, algo aconteceu que fez com que ela fosse sentida de forma mais constante e uniforme. Noções como o tédio e desesperança foram acentuadas com a mudança da sociedade para centros urbanos, que emanavam informações à todo instante, e com a magnitude da I Guerra Mundial. É importante ressaltar o efeito que uma mudança tão brusca no cotidiano das pessoas da época acarretou para o psicológico coletivo. No mesmo ensaio ele diz:

Não é que o século XIX inventou a acídia. Tédio, desesperança e desespero sempre existiram e foram sentidos pungentemente no passado como nós sentimos hoje. (…) A mais sutil causa da prevalência do tédio foi o desproporcional crescimento das grandes cidades. Habituados com a febril existência desses centros de atividade, as pessoas descobriram que a vida fora delas era intoleravelmente sem sabor. Ao mesmo tempo elas se tornaram tão exaustas pela inquietação da vida urbana que passaram a almejar pelo tédio monótono das províncias, das ilhas exóticas e até mesmo de outros mundos. Finalmente, coroando esta vasta estrutura de fracassos e desilusões, veio a apavorante catástrofe da Guerra de 1914. Outras épocas testemunharam desastres, sofreram com desilusões, mas em nenhum século estas desilusões seguiram de forma sucessória com uma rapidez avassaladora como no século XX, pela própria razão de que nenhum século as mudanças foram tão rápidas e tão profundas. O mal du siècle foi um mal inevitável; de fato podemos afirmar com um certo orgulho que temos direito para nossa acídia. Conosco, ela não é um pecado ou uma doença de hipocondríacos; é um estado mental forçado sobre nós pelo destino.

Essa crescente quantidade de informações que inunda nossa mente a todo instante nos deixou mal-acostumados. Momentos que não há conteúdo novo para consumir nos deixam com tédio. Isso é facilmente visualizado com o avanço das tecnologias das comunicações e com o aparecimento das mensagens instantâneas. Uma troca de cartas não envolvia qualquer tipo de ansiedade repentina. Os surgimento dos emails não acarretou em uma cobrança absurda por uma resposta imediata. Mas se, por algum motivo, deixarmos de responder as mensagens no celular no mesmo dia, uma onda de preocupação, ansiedade e impaciência é criada por parte dos remetentes. Da mesma forma, quantos de nós não ficamos ansiosos se ficarmos sem internet por alguns instantes do dia? Essa impaciência é visível também nos momentos que algum programa de computador trava ou demora para processar uma nova informação. Nesses instantes, o tempo parece estático. Não há mais nada com que possamos nos distrair. Progresso tecnológico nos tornou alérgicos à tempo passado esperando.

A Cultura do Desapego

É de fato difícil ter que se preocupar de verdade em um mundo onde notícias de atrocidades contra seres humanos são recorrentes nos noticiários. Notícias de atentados e guerras são acompanhadas dos placares de futebol e propagandas de remédios. As mídias nos demandam uma atenção e uma preocupação constante, mas é impossível cumprir essa tarefa por completo e acabamos nos limitando à coisas que nos afetam diretamente. É curioso que duas guerras mundiais e a ampla divulgação dos confrontos recentes não tenham nos deixado mais conscientes e responsáveis com a vida, mas sim mais indiferentes. O existencialismo francês no pós-guerra é uma clara manifestação disso. Percebemos a fragilidade da vida humana e a fé, que usualmente era uma resposta para as crises existenciais, está em declínio desde o século XIX. Acredito que neste caso a acídia funcione como um tipo de resposta do sistema imune da mente. Uma dose de indiferença é necessária em um mundo completamente indiferente com a vida humana. Mas isso não é uma resposta valorosa. Se nossa resposta perante ao Mal seja mais Mal, não há qualquer esperança de vitória.

Essa recente indiferença com a vida, aliada com o tédio urbano provou ser terra fértil para que o consumo ocupasse nossas mentes e isso provou ser fatal. Navegamos em um mundo de inúmeras opções de produtos que nos aparentam ser cada vez mais iguais, mas ansiamos pela novidade do mercado ano a ano. Os anúncios nos acompanham em nossos bolsos e é difícil não se deixar seduzir por essa hipnose constante que nos convence que se nos permitirmos ser seduzidos, seremos felizes. Como a acídia, isso é um processo que se auto-justifica. Como poderemos saber de fato se o produto que queremos comprar não vai nos deixar felizes se não o adquirirmos? Mas essa pergunta é lançada a todo instante e o ciclo não tem um fim. Esse cenário alterou inclusive a nossa definição de liberdade. Podemos dizer que somos livres para consumir o que quisermos, mas não somos livres para não consumir. Nos espantamos com aquele que não segue o senso comum em possuir um smartphone ou que não está presente em redes sociais.

Pela indiferença com a realidade, buscamos auto-justificação fora dela. Trocamos relacionamentos verdadeiros por virtuais. Deixamos de lado o mundo real para viver em ilusões nas redes sociais. Nos preocupamos em demasiado com o tipo de tecido de nossas roupas, mas ignoramos por completo aqueles que lutam por um simples cobertor. O monge beneditino contemporâneo Hugh Feiss nota que “o coração confuso, ao perder alegria em si mesmo, procura por consolação fora de si mesmo. Quanto mais ele procura por bens exteriores, mais ele perde alegria interior.”

A cultura do desapego generalizada é uma filha da acídia. Aquele que demonstra o maior desapego com a vida é idealizado. Vivemos em um ambiente onde se importar com o outro virou sinônimo de fraqueza, onde devemos esperar uma certa quantidade de dias antes de ligar ou mandar uma mensagem para alguém que estejamos interessados. As relações de um fim de semana são tratadas como troféus adquiridos sem esforços. Deslizamos nossos dedos para a esquerda e para a direita de acordo com o que vemos e nada mais. Um match é apenas um momento em potencial, embrionário, a ser construído sem preciosismo como uma refeição às pressas, a ser preparada, consumida e logo descartada na manhã seguinte. Muitos dirão que é a única maneira compatível com sua vida profissional. Outros dirão que a cultura do desapego os inibem da dor e do sofrimento da perda de uma relação. De qualquer forma, todo esse processo é a acídia trabalhando discretamente, se auto-justificando à todo instante.

“O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol.” — Eclesiastes 1:9

Não há nada novo debaixo do Sol

Sempre me alegro ao ver que os problemas do mundo moderno não são inéditos na história da civilização e sendo assim, os antigos possuem muitas respostas que devemos ouvir com mais atenção. Evagrius vivia em um monastério no deserto, ambiente altamente atraente para a acídia. Ele sugere para o monge que sofre com acídia e com os outros Oito pensamentos malignos que ocupe sua mente de forma constante com os Salmos até que esse mal fosse embora pois sua mensagem é muito eficaz no combate à esses demônios. Mesmo que os Salmos tenham seu próprio valor filosófico e moral, talvez isso não seja tão adequado para pessoas fora de um monastério com suas rotinas bem distintas das de um monge. Uma outra receita mental recomendada por Evagrius é perceber os momentos que a acídia aparece. Perceber os motivos que trouxeram ela à tona é muito eficaz no seu combate, da mesma maneira que perceber que um tipo de comida pode te trazer um mal-estar ajuda a evitá-lo. É reconhecendo que, ao iniciarmos qualquer atividade, a acídia pode aparecer na forma de uma dor de cabeça bem conveniente, uma distração com a pessoa ao lado ou com uma potente auto-insegurança que podemos forçar nossa mente à combatê-la.

Evagrius aponta também uma solução talvez mais concreta. Se a acídia provém da falta de zelo para com o ambiente ao seu redor, trate de se empenhar com ele, mesmo que não haja uma aparente recompensa em agir dessa maneira. Repetindo o exemplo citado anteriormente, você com certeza irá se importar com a higiene da sua casa se você limpá-la de forma constante. Ele recomenda evitar o questionamento sobre a utilidade ou sobre os motivos de algumas dessas tarefas que, mesmo que deverão ser retomadas tempos depois, possuem um claro valor imediato. Esse tipo de disciplina ajuda também a treinar a mente a não ter medo de iniciar novos projetos, mesmo sabendo que estamos sempre sujeitos à falhas e fracassos. Ressalto também, a importância da autossuficiência como uma maneira de superar nossas próprias inseguranças internas a fim de alcançar nossos objetivos.

É portanto se preocupando com as pequenas coisas que podemos de fato nos engajar com as grandes empreitadas que tanto sonhamos para nossas vidas. A sensação de gratidão com as pequenas tarefas é a semente para uma gratidão com a vida em si.

Para mais detalhes sobre a acídia e principalmente sobre como os monges beneditinos a interpretavam, recomendo o livro Acedia & Me, de Kathleen Norris.

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