O nepotismo técnico

Só há uma saída: privatização

Ariel Paiva
A Dissidência
3 min readJan 9, 2019

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O governo de Jair Bolsonaro se orgulha de ter colocado líderes, presidentes e diretores do mais alto gabarito nas pastas do executivo, seja nos bancos (BB, BNDES e CAIXA), dentro dos ministérios ou mesmo encabeçando essas pastas. Contudo, à medida que o tempo passa, o Brasil assiste com pesar o fim precoce da lua de mel com o petismo de sinal trocado, afinal, de Queiroz à “Mourinho”, a cúpula do capitão parece entender, além de rede social, de favorecimento.

A posse do segundo governo de direita pós-redemocratização — o primeiro assumido — foi cercada de memes, mitagens e expectativa. A primeira dama deu show quebrando o protocolo e fazendo discurso (em libras!) e o aparato de segurança não deixou a desejar a nenhuma outra apresentação de chefe do executivo já vista no país. De ponto negativo, o tratamento à imprensa, relatado por muitos como hostil, desde os horários, passando pela revista e os locais disponibilizados para a cobertura.

Os pacotes de medidas anunciados por Paulo Guedes e Sérgio Moro, além das declarações dadas pelos executivos indicados, a maioria delas colocando a empresa privada e o indivíduo como criador de riqueza e responsável pela própria vida e destino, dão esperança no meio do caos que se tornou o mandato de Jair Bolsonaro.

Caos? Sim, caos. Ou quando um dos coordenadores de campanha, filho do atual presidente, discute tamanho de pênis com digital influencer através do Twitter, quando o presidente afirma e reafirma algo só para ser desmentido pelos chefes de outras pastas, quando o chefe do executivo cria a notícia que, mais tarde, chama de fake news, quando o motorista do filho não aparece para dar explicações à justiça, mas para fazer teatro (não dá pra chamar aquilo de entrevista) na televisão, é provável que não tenha outra palavra para designar o governo se não caos.

A cereja dessa torta jogada na cara do povo brasileiro diariamente veio hoje. Antônio, filho do vice-presidente Hamilton Mourão, concursado no Banco do Brasil há 18 anos, terá seu salário triplicado, trabalhando agora como assessor do presidente do banco, nomeado por Jair Bolsonaro. Justo agora, Antônio? Logo quando o governo precisa se firmar no poder, baseado naquilo que o colocou lá, como “fim da corrupção”, “fim da mamata” e do “toma lá, dá cá”. Sequer entra no mérito se a promoção é merecida ou não, mas a impressão que passa é muito negativa e, em tempos onde a narrativa importa muito mais que o fato, parecer ser honesto é mais importante do que realmente ser, mesmo que ambos sejam cruciais para o indivíduo.

A saída para as inúmeras crises que, aparentemente, são inerentes ao Estado, é a privatização do serviço. Não essa privatização tosca, onde o monopólio passa do presidente para o amigo dele, mas uma verdadeira abertura à concorrência, onde o banco seja penalizado pelos seus clientes caso o atendimento seja ruim — e recompensado na mesma medida. Alguns dirão que o mercado financeiro no Brasil já é concorrencial. Lamentavelmente não é. O Banco Central faz de tudo para proteger seus amigos e o tal “sistema bancário” não só das crises, mas, como efeito colateral, também dos riscos e da concorrência. E o serviço, como sempre acontece quando a oferta é limitada artificalmente, é de péssima qualidade.

Não quer ver mais cenas como a dessa terça-feira, dia 8 de janeiro, onde o nepotismo técnico foi oficialmente criado no país? Então exiga a privatização de todas as estatais.

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Ariel Paiva
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Senior administrative on VC-X Solutions. Addicted to podcasts and strategy games.