Victor Gammaro
Esquina On-line
Published in
3 min readJun 14, 2017

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Dignidade em todas as etapas da vida

Escola de verdade, molho de chaves e abrigo da chuva: um salto na vida dos ex-invasores do Noroeste

A menina Vitória Pereira, uma das 62 crianças que viviam em condições precárias da invasão do Noroeste, teve, aos cinco anos, o primeiro contato com uma escola. “É tudo diferente, no colégio novo tem muitas crianças e ainda ganhamos lanche no recreio”, disse sorridente a garota. Ela foi pré-alfabetizada ainda na ocupação, onde professoras voluntárias da rede pública iam duas vezes por semana para ensinar português e matemática aos mais jovens. “Não sei se aprendi muita coisa, não. Parece que eu comecei a estudar só agora.”, comenta Vitória.

A escola dela e de vários outros colegas de classe era em um galpão improvisado, a melhor estrutura da invasão. Lá também funcionava como igreja, sala de reunião dos líderes comunitários e centro de apoio para os órgãos dispostos a ajudar quem vivia por lá.

Após a mudança para o Paranoá, não foi só a vida das crianças que melhorou. Maria Silvana fez questão de mostrar todo o apartamento para a reportagem do Esquina On-line, enquanto comentava tudo sobre as mudanças desde que deixou a invasão. Ela comemora com orgulho o novo molho de chaves e o simples fato de não se preocupar com a chuva.

Além da conquista da dignidade, a nova moradora do Paranoá explicou como foi o processo de cadastramento para conquistar o benefício. Maria Silvana também contou sobre a “reclamação dos ricos” que lhe ajudou a mudar de casa e de vida.

O Centro de Referência de Assistência Social do Distrito Federal (Cras-DF) é o órgão responsável por auxiliar moradores em condição de invasão em vários aspectos. A organização participa desde o estreitamento entre os laços familiares da população carente até a emissão de documentos importantes para esses cidadãos.

Foi por meio do Cras que chegou-se a um acordo, em outubro de 2016, para que mais de 40 famílias deixassem a ocupação irregular das terras do Noroeste e buscassem uma solução para o fim da ocupação irregular.

Ouça a entrevista com Glauco Gonçalves, gerente do Centro de Referência de Assistência Social do Distrito Federal (Cras-DF).

Saiba como entrar em contato com o Cras-DF

Os 77 núcleos familiares estão em cinco situações diferentes. Quatro famílias desistiram de tentar ganhar a vida no Distrito Federal e estão de volta para as terras natais, principalmente no Nordeste do país.

Ao todo, 24 famílias vivem, novamente, em situação de invasão. Quatro delas estão de volta ao Noroeste e não têm previsão de deixar o local, ainda que o Governo do Distrito Federal desconheça a situação. Outras 20 estão espalhadas por outras ocupações irregulares. A maioria delas está no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN).

Sete famílias receberam o aluguel social até abril deste ano. No fechamento da reportagem, não havia informação de onde estão essas pessoas. Há dois destinos prováveis: ou eles foram ajudados a retornar para a terra de origem (se for o caso), ou retirados de abrigos improvisados e voltaram a uma ocupação irregular.

A grande maioria, no entanto, já mora no Paranoá. O apartamento foi conquistado em uma ação habitacional do Governo do Distrito Federal.

Veja também reportagens sobre lares para ex-moradores sem-teto e reviravoltas sociais no Sol Nascente nesta edição do Esquina On-line.

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