Jerusalém (Arquivo pessoal)

Qual o nome do seu avô?

Munike Ávila
Exploradores
Published in
4 min readSep 17, 2018

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A primeira vez que cheguei em Israel eu não tinha passagem de volta, o que poderia ser o grande motivo para me fazerem mil perguntas na imigração e explicava minha ansiedade. Para minha surpresa o policial nem um “oi” sequer me deu. Pegou meu passaporte, imprimiu o visto de entrada e finalmente coloquei meus pézinhos em Tel Aviv.

Ao entrar e sair de Israel, o passaporte não é carimbado devido ao fato de alguns países não o reconhecerem. Por isso é impresso um visto como esse na entrada e na saída do país.

Então resolvi fazer uma viagem com meu companheiro para Eilat, uma praia no sul do país. O que demais poderia acontecer, viajando dentro do país? Um festival de segurança!

Resumidamente os passos foram:

1 — Responder perguntas de um policial, que depois chama outro para confirmar todas as respostas novamente.

2 — Passar bagagens no raio X.

3 — Pegar um papel que confirma que você não está viajando com nada suspeito/perigoso na bagagem.

4 — Fazer o check-in.

Isso mesmo. Pra chegar ao balcão do Check-in, deve-se passar por todo esse processo antes. E, ao entrar no portão de embarque, se passa por outra revista.

Na nossa primeira série de Perguntas x Resposta israelenses, aprendemos que falar que não morávamos na mesma cidade no Brasil já era algo para desconfiarem:

– Qual a distância entre Porto Alegre e Criciúma?

– Umas 3 horas de carro.

– O QUE?? Como vocês conseguem? Aqui se faz o país todo em 5 horas!

Seguido do furo do meu companheiro, ao responder “desde quando vocês se conhecem?”

A resposta é março. Ele disse fevereiro. Eu respirei fundo e concordei para não ter problemas. Depois comecei a rir imaginando uma “D.R” na frente da policial.

Mar Vermelho em Eilat (Arquivo pessoal)

De Eilat, atravessamos a fronteira a pé para Jordânia. E, no meio daquele deserto, a diferença entre as imigrações eram latentes: do lado Israelense tudo automatizado, limpo, organizado. Do lado Jordão, um policial sentado numa cadeira vendo as pessoas passarem enquanto o raio X apitava. Devia estar quebrado ou eles não se importavam mesmo. Tinha muita areia e moscas também.

Depois da nossa aventura na Jordânia, com direito a dormir em camping beduíno no meio do deserto e subir mil degraus de pedra no sol escaldante de 40 graus (essa história fica para o próximo texto), era hora de retornar à fronteira e…

– Quanto tempo vocês ficarão em Israel?

– Um mês (na verdade a gente não tinha nada planejado)

– Um mês em Israel?? O que vocês vão fazer com todo esse tempo aqui??

Digamos que não foi uma ótima propaganda turística da parte da policial, mas entramos. Demos de cara com outro policial que perguntou qual a origem do meu sobrenome e como se pronunciava. Mais estranho que isso, só o policial que perguntou qual o significado do meu nome quando eu decidi sair do país.

“Sei não, moço. Até hoje tem gente que não acredita que meu nome se escreve realmente desse jeito, melhor você perguntar pra minha mãe.”

Camping beduíno no meio do deserto na Jordânia (Arquivo pessoal)

Pois é, para sair de Israel também se passa por todas as fases e revistas antes e depois do check-in. Se você tem um carimbo Jordão, a segurança dobra. Perguntas como “quem arrumou sua bagagem?”, “você está levando algo da Jordânia na bagagem?” são comuns. Se você está viajando por aí sem uma data de retorno para sua terra natal, a segurança triplica. Afinal, quem não quer voltar para casa eventualmente? Estariam esses jovens fugindo de alguma coisa? (eu já nem sabia onde era casa a essa altura do campeonato, imagina então ter que explicar todo o rolê que tá acontecendo na terra do samba…)

A última vez que fomos para Israel, pegaram nossos passaportes e nos mandaram esperar em uma sala. Eram 7 da manhã e eu mal tinha dormido. Com o tempo mais pessoas foram se juntando a nós. Depois de duas horas de espera, fomos chamados por um agente de segurança que pegou nossos dados e fez perguntas bem simples: nome dos pais, nome do avô paterno (a pergunta que mais ouvi indo/saindo de lá), onde mora, que trabalho faz, quantos dias/onde ficará/qual o motivo da viagem. Foi tudo muito tranquilo e foram muito educados, como em todas as outras vezes que tivemos que passar pelas fronteiras do país.

Entramos mais uma vez em Tel Aviv, passamos o ano novo na casa de amigos queridos e até hoje lembro com carinho dos meses vividos em Israel e de tudo o que essa terra tem a ensinar.

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