Educação a distância

As ideias desse artigo são baseadas no conteúdo do livro Educação sem Distância do prof° Romero Tori

Bruno Oliveira
Educação, Finanças & Tecnologia
5 min readApr 3, 2020

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Logo no começo faz-se a explicação do título “educação sem distância”: a distância precisa ser eliminada nos tradicionais cursos EaD (ensino à distância), e não destacada. Se fizermos paralelo, chamar a educação de EaD é chamar a educação presencial de educação limitada espacialmente — você esta destacando a pior característica dela e não falando exatamente o que ela é: educação e ponto! O distanciamento do aluno pode ocorrer mesmo em outras modalidades, inclusive na educação presencial. Isto porque, não existe só um tipo de distância, e nem uma única relação aluno-professor pré-assumido em cursos remoto. Real e virtual não são opostos, e estão cada vez mais misturados, e ditam os novos modelos educacionais do futuro.

Na educação, destacam-se três principais tipos de distâncias (e suas dialéticas): (i) espacial: atividade local ou contígua x atividade remota ou “a distância”; (ii) temporal: atividade síncrona x atividade assíncrona; (iii) transacional: espaço psicológico e comunicacional que precisa ser transposto (Michael Moore).

Para entender o que Michael Moore quer dizer com distância transacional, precisamos entender o que Dewey quer dizer com transação: “interação entre o ambiente, os indivíduos e os padrões de comportamento numa dada situação”. Em qualquer programa educacional, mesmo na educação presencial, existe alguma distância transacional. Há diversos fatores intrínsecos que podem influir na percepção de distância transacional, mas há fatores diretamente relacionados ao design instrucional: (i) diálogo: interação útil, quanto mais diálogo, menor a percepção de distância transacional; (ii) estrutura: quanto maior flexibilidade e liberdade=> menor distanciamento; (iii) autonomia: quanto maior Autonomia do Aluno => menor distanciamento. (obs: os textos destacados nos links destacam um pouco de cada um dos três fatores)

Um elemento essencial para diminuir a distância transacional é a interatividade. O autor faz uma pequena distinção teórica: interação é a ação recíproca entre pessoas e/ou sistemas, com influência mútua; e interatividade é o potencial de propiciar interação de um sistema. Pensando nisso, para se imaginar os tipos possíveis de interação que ocorre em um processo de aprendizado vamos pensar no seguinte:

  • Podemos identificar ao menos três tipos de interações no ensino: (p) aluno-professor, (a) aluno-aluno e (c ) aluno-conteúdo;
  • Logo, para cada interação teríamos 8 combinações possíveis de distâncias (espacial e/ou temporal e/ou transacional);
  • No processo educacional temos todas essas interações e todas essas combinações de distâncias em forma de arranjo, logo temos 512 (8 x 8 x 8) modalidades de educação baseada em distância!

Isso mostra que nem todo EaD é igual. Então o objetivo da interatividade é migrar dos tipos de ensinos “mais distantes” para os “menos distantes”.

O prof.° Romero Tori (USP) apresentando um pouco do seu trabalho

Métrica do Potencial de Proximidade na Educação

O livro propõe uma métrica para avaliar a proximidade nas diferentes modalidades e atividades educacionais, com diferentes doses de distância e virtualidade. A ideia é a criação de um parâmetro de classificação de cursos quanto ao quesito distância com espectro de 0 a 100 — um “termômetro” para o educador avaliar a eliminação de distâncias durante o planejamento de um curso, como também um parâmetro para avaliação da relação custo-benefício na elaboração de projetos pedagógicos. Mas principalmente, o principal objetivo é valorizar e destacar a interatividade nas atividades educacionais.

Estabelecer um método que classifique as 512 combinações numa escala que vai de totalmente distante (zero) a totalmente sem distância (cem). Trabalha-se com pesos e arbitraria-se que: interatividade impacta mais que sincronia, que impacta mais que estar no mesmo espaço (desconsiderando a sincronia e a interatividade, que em geral são facilitadas por se estar no mesmo lugar), e a proximidade do professor impacta mais que dos demais alunos que do conteúdo.

Para numerar todas as combinações de 0 a 511, sem repetições nem lacunas, sendo 0 a atividade com menor potencial de proximidade e 511 aquela com máximo potencial de proximidade, usou-se uma base octal:

Onde P, A e C seriam calculados da seguinte forma (lembrando que todos os pesos ponderados foram definidos pelo autor Romero Tori e considerandos as arbitrariedades mencionadas anteriormente), sendo I (distância transacional), T (distância temporal) e E (distância espacial).

Reduzindo Distâncias

A proposta do autor é reduzir distâncias com tecnologias, principalmente as tecnologias interativas (games, redes sociais, hipermídia, etc)) para reduzir distância transacional, e tecnologias imersivas (realidade virtual, realidade aumentada, etc) para reduzir distância espacial.

Para ilustrar as distâncias que existem na educação, uma técnica bastante utilizada é o diagrama RDA (relações de distância na aprendizagem)— onde é possível ilustrar o ambiente, os indivíduos, as interações entre eles, e os componentes temporais e interativos. Vide figuras a seguir:

Exemplo dos componentes de um diagrama RDA. Veja alguns exemplos de modalidades educacionais a seguir:

Referências:

TORI, Romero. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. Artesanato Educacional LTDA, 2017.

MOORE, Michael G. Teoria da distância transacional. Revista brasileira de aprendizagem aberta e a distância, v. 1, 2002.

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Bruno Oliveira
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Auditor, escritor, leitor e flanador. Mestrando em TI, tropecei na bolsa de valores. Acredito nas estrelas, não nos astros. Resenho pessoas e o tempo presente.