5 livros de futebol que deveriam ser traduzidos para o português

Infelizmente, muitas obras estão apenas em inglês e espanhol

Bruno Rodrigues
Futebol Café
6 min readMay 15, 2018

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Na foto, quatro dos cinco livros da lista, completada por uma obra em alemão que já tem versões em inglês e espanhol. E o português? (Crédito: Futebol Café)

Procurar por bons livros de futebol no Brasil já foi tarefa mais árdua do que é hoje em dia, acreditem. Ter contato com as grandes obras sobre o tema no mundo, então, era missão quase impossível. Algumas iniciativas, como a da Editora Grande Área, diminuíram nossa distância para o que se produz de melhor em termos de literatura futebolística no planeta. Mas ainda estamos vários passos atrás no consumo da elite literária que fala do mundo da bola.

Podem chamar de complexo de vira-lata, vira-latismo ou qualquer coisa parecida. Mas prefiro chamar de mera constatação. Recentemente fui a Buenos Aires e encontrei em mais de uma livraria da cidade alguns dos livros mais importantes a respeito de futebol. E não precisei ir até a Europa para encontrá-los. Bastou um pulo ali no vizinho.

Claro, a barreira da língua nos complica nesse aspecto. O principal clássico do mundo atualmente, Barcelona x Real Madrid, fonte natural de inspiração literária, é espanhol. Os grandes jogadores do futebol mundial estão jogando na Europa. Isto é, por mais que a biografia, digamos, de Philipp Lahm seja publicada originalmente em alemão, é praticamente certo que ganhará edições em inglês e espanhol. E alguma livraria da Ciudad Vieja em Montevidéu vai ter mais chances de ter o livro em seu catálogo do que uma grande livraria brasileira na Avenida Paulista.

Considerando essa dificuldade, podemos nos dar por satisfeitos com o movimento recente — e contínuo — de importação de algumas obras bastante relevantes sobre o tema. Contudo, não custa sonhar com uma aproximação ainda maior da nata futebolístico-literária mundial. Pois ainda há muito futebol a ser lido. Como alguns dos livros que listaremos abaixo e com os quais sonharemos em vê-los publicados por aqui, em língua portuguesa e, quem sabe, num futuro não tão distante.

Futebol Contra o Inimigo — Simon Kuper

(Crédito: Futebol Café)

Em termos de futebol, um livro que deveria ganhar traduções para todas as línguas possíveis. Futebol Contra o Inimigo, do jornalista Simon Kuper, é provavelmente o melhor livro-reportagem com a temática futebolística que existe na literatura da bola, inspirando outras boas obras, caso de “Como o Futebol Explica o Mundo”, por exemplo — este, ainda bem, tem em português.

Com apenas 5 mil libras no bolso, Kuper foi a 22 países em 9 meses para entrevistar, apurar e procurar entender de que forma o futebol é reflexo da sociedade em que está inserido e também o caminho inverso, de que maneira a sociedade reflete a cara do futebol jogado pelos quatro cantos do mundo.

O livro é de 1994, mas não parece que veremos ele tão cedo por aqui, em bom português para que tenhamos um acesso mais fácil a essa obra-prima da literatura futebolística.

Doctor Socrates: Footballer, Philosopher, Legend — Andrew Downie

(Crédito: Futebol Café)

Parece brincadeira, mas a melhor biografia que existe sobre Sócrates foi escrita por um escocês e não tem previsão de ganhar uma versão na língua portuguesa. Vejam, não há demérito no fato de ter sido o jornalista Andrew Downie, correspondente da Reuters no Brasil, o responsável por escrever a última e mais ampla biografia do Doutor.

A questão é que nossas editoras ainda não tomaram a iniciativa de publicar a obra deste que é um dos personagens mais marcantes da história do futebol brasileiro, goste das visões políticas que tinha ou não, seja você corintiano ou palmeirense. Ou torcedor do Comercial de Ribeirão Preto.

Mais surpreendente ainda é saber que o livro já ganhou, além da original em inglês, edições em italiano e em turco. E pensar que Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira era brasileiro até no nome.

My Turn — Johan Cruyff

(Crédito: Futebol Café)

Fosse um holandês qualquer, cuja importância fosse restrita ao cenário local ou europeu, até vai. Mas Johan Cruyff transcendeu as barreiras continentais para se tornar uma referência de futebol no mundo da bola. Dentro ou fora de campo, participou de mudanças significativas na forma de jogar e, consequentemente, na nossa forma de enxergar o jogo.

Por isso é que Johan Cruyff deveria ter sua autobiografia traduzida para qualquer língua que esteja minimamente identificada com alguma nação de coração futeboleiro. Como a nossa, apesar dos pesares.

Triste é constatar que nossos vizinhos argentinos e, imagino, uruguaios, chilenos e outros americanos como nós tenham acesso à Bíblia do Futebol Total. De novo, a questão da língua é determinante para isso. Cruyff foi uma estrela do Barcelona no campo e à beira dele, editoras espanholas possuem braços aqui no continente e não há dificuldade nenhuma em traduzir o texto. Aliás, não há necessidade. Do holandês para o espanhol. Do espanhol para o argentino, para o uruguaio, para o boliviano.

E nós, brasileiros do português, ainda vemos de longe esse tipo de livro, essencial para os amantes do futebol.

Hooligans — Philipp Winkler

(Crédito: Panenka/Divulgação)

Se as editoras europeias soubessem como gostamos de livros com a temática de torcidas, pensariam elas mesmas em investir no gênero por aqui. E das obras mais recentes que já despontam como referência no assunto está Hooligans, do alemão Philipp Winckler, um romance que narra a história de um hooligan do Hannover 96 com seus colegas de torcida.

Segundo a Revista Panenka, o livro tem uma conexão com uma das obras-primas do tema: Entre os Vândalos, de Bill Buford, sobre a qual já falamos no blog. “Uma novela onde aquele hooliganismo que impressionou Buford evoluiu: os personagens de Winkler já não vão destruindo e atemorizando publicamente, mas se beneficiam das novas tecnologias para organizar brigas clandestinas com outros grupos. Brigam entre eles, em lugares afastados. Brigas brutais mas, de alguma maneira, muito mais limpas”, diz a revista na resenha que fez da edição espanhola da obra.

Ao que consta, é um “Entre Os Vândalos 2.0". Quem não iria gostar de ler?

Senda de Campeones — Martí Perarnau

(Crédito: Futebol Café)

O leitor brasileiro já conhece Martí Perarnau pelos livros que ele escreveu sobre Pep Guardiola: Guardiola Confidencial e Pep Guardiola: A Evolução, leituras essenciais para tentarmos compreender melhor o trabalho, a mente e o futebol das equipes comandadas pelo técnico catalão.

Porém, creio eu, para entendermos a formação futebolística de Guardiola é fundamental procurarmos a gênese daquele Barcelona que encantou o mundo entre 2008 e 2012. E a gênese está no próprio Barça, fonte da qual Guardiola se nutriu desde cedo para conceber suas ideias de jogo.

Por isso é que a leitura de Senda de Campeones seria tão importante. Obra menos conhecida de Perarnau, o primeiro livro do autor é um mergulho profundo no “idioma Barça”, nos conceitos que foram sendo implementados e moldados ao longo das últimas décadas para culminar no Barcelona de Pep Guardiola.

Seria ótimo ter Senda de Campeones em português. Até para que tudo apresentado na obra mais recente de Martí Perarnau e também a obra sobre o Barcelona fiquem ainda mais claros.

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