Ícone improvável e descartável, Sissoko se despede depois de cinco anos

Meio campista se junta a Danny Rose no Watford

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
3 min readAug 27, 2021

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Se quiser, você pode ler só esse primeiro parágrafo e voltar a fazer o que estava fazendo. O resumo da ópera é bem simples: Moussa Sissoko é um homem incrível e adorável que me deixa muito feliz por não estar mais jogando no meu time.

Todo mundo sabia que sua contratação, no deadline day da janela de verão de 2016, foi uma panic buy. Apesar da chegada de Wanyama, o Tottenham ainda precisava de uma peça coringa para compor um meio de campo que tinha acabado de desovar Ryan Mason e Nabil Bentaleb, sua ex-dupla titular de volantes (e um ano antes se desfez de Paulinho, Capoue, Stambouli e Holtby numa paulada só).

Sendo educado, dá pra dizer que sua passagem pelo Newcastle foi relativamente discreta e teve um final infeliz dentro das quatro linhas. Em sua última temporada no St. James’ Park, os Magpies foram rebaixados com algumas rodadas de antecedência e se afogaram numa micro-crise política.

Foi nesse contexto, é claro, que o Tottenham apanhou de 5–1 desse mesmo time na última rodada do campeonato, terminou atrás do Arsenal e viu o Leicester levantando o caneco. Sissoko ainda jogou uma bolaça na Eurocopa e fez seu lobby pra chegar poucas semanas depois custando TRINTA MILHÕES DE LIBRAS.

Daniel Levy até tentou fazer sua mágica e fechou uma condição de pagamento com o Newcastle que dependia da permanência do atleta nos Spurs; contratado por cinco anos, o acerto seria em parcelas anuais de £6M. Ou seja, se Moussa ficasse por só dois anos, o valor do negócio seria de £12M e uns bônus.

A ironia é que conforme os boletos foram vindo, ano após ano, Sissoko foi fazendo valer sua cotação. Em 2016 era um bagre de £6M, sem tirar nem por. Em 2017 já valia o dobro, mas ainda mal se firmava no banco. Em 2018, valendo £18M, assumiu mais responsabilidades dentro do grupo e virou peça essencial. Já em 2019, beirando o valor inicial selado com o Newcastle, viveu seu auge ao duplar com Harry Winks para levar o clube a uma final de Champions League.

“Era impossível cogitar que aquele brucutu de 2016 se tornaria qualquer coisa além de um brucutu, mas Pochettino beijou o sapo e Sissoko virou príncipe, carregando a equipe até o palco máximo do futebol europeu.”

- Quem vai substituir Sissoko?

A mística da sua progressão aritmética se quebrou em setembro naquele ano, quando seu contrato foi renovado. Vai saber, se Levy tivesse lhe dado mais um ano para que desabrochasse como o jogador de £30 milhões que nos foi prometido, a história pudesse ser diferente. Mas do jeito que terminou, seu momento mais memorável com a camisa do Tottenham acabou sendo pra sempre esse aí de cima.

A passagem do camisa 17 ficou marcada a ferro e fogo por um golpe indigesto e não intencional, fruto de um tanto de azar e outro tanto de burrice, que dá pra dizer que nos custou o maior título da era moderna do clube. Então, mesmo que Moussa tenha sido pivô de alguns dos maiores momentos da equipe de Pochettino e também tenha sido uma das boas influências no vestiário, sua imagem pra nossa eternidade é a de um ícone desafortunado.

Afinal, por mais que seu profissionalismo, sua disposição e sua entrega tenham nos permitido alguns milagres, o francês sempre nutriu um certo desafeto com a bola. No fim, Sissoko até saiu pela porta da frente, mas com o tapete já estendido.

Agradeço do fundo do coração pelo último bicão pro Llorente em Amsterdam, pela peitada em Mark Noble e por ser o maior campeão de UNO do vestiário, mas Moussa se despede numa hora oportuna depois de dar o que tinha pra dar.

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