Menos que o necessário, mais que o esperado: a janela de verão do Tottenham

Teve surpresa, reviravolta, despedida, manutenção e um lateral bonito que promete ser bem útil. Talvez esteja rolando uma reconstrução

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
5 min readAug 31, 2021

--

Fabio Paratici cozinhou bastante

Os gols arrebatadores de Gareth Bale após o cronômetro do King Power Stadium estourarem os 40 minutos do segundo tempo não tornaram o final de temporada do Tottenham menos melancólico. De um ano que começou feliz graças ao próprio retorno do galês e momentos deliciosos como vencer Manchester City, Arsenal e United (esse último com direito a 6x1 em Old Trafford), tudo acabou bem Tottenham após a eliminação vergonhosa para o Dinamo Zagreb, que tinha o treinador preso, na Europa League e a queda abissal de rendimento que deixou o time morrendo na 8ª posição da Premier League, perdendo a final da Copa da Liga sem chutar uma bola no gol e, ainda mais humilhante, cair na Copa da Rainha para o Everton.

Ou seja, deu tudo errado. E as expectativas só baixaram mais após toda a novela do treinador que começou com o sonho de Antonio Conte até terminar em Nuno Espírito Santo. Não que Nuno seja ruim, mas esse downgrade do italiano para o português somado ao início de temporada comandado por ele serviu para preparar o espírito e, mais do que isso, ilustrar perfeitamente o que foi a janela de transferências do Tottenham: melhor do que o imaginado, mas ainda aquém do que se precisa. Pelo menos até que se prove o contrário. Ora, numa determinada altura de julho, se imaginava que a renovação de contrato de Heung-Min Son por mais três temporadas seria o único bom motivo para sorrir no mercado e, no final das contas, não foi bem assim.

Não dá para dizer que faltou criatividade e a chegada de Fabio Paratici para a direção de futebol, somada Às 400 especulações de jogadores do Calcio, nos deram a impressão de que o Tottenham viraria para a Serie A o que o Wolves é para a Liga NOS: uma filial. Nuno também tem experiência em trabalhar assim, afinal de contas. Talvez por isso tenha sido tão surpreendente a negociação que trouxe Bryan Gil do Sevilla ao Tottenham, em acerto que levou Lamela à Espanha e finalmente deixou em preto e branco aquela foto dos caras que chegaram com o dinheiro da venda de Bale em 2013.

Assim como Bryan Gil, 20 anos, o Tottenham também desembolsou pouco mais de 10 milhões de euros para buscar o jovem Pape Matar Sarr no Metz. O garoto de 18 anos fica na França por empréstimo até o final da temporada.

Aproveitando que falei de Lamela, não acho que dê para aprofundar uma discussão sobre a janela falando somente das entradas. As saídas foram muito importantes e deram alguns sinais: foram 12 ao total. Por um lado, nomes como Foyth, Gazzaniga e Carter-Vickers já estavam fora do clube. Por outro, não tem como não enxergar como simbólico que Lamela, Alderweireld, Danny Rose, Sissoko e Aurier saiam em definitivo. O rebuild acontece, ainda que a passos vagarosos. E nem é injusto dizer que o processo acelerou nesta janela, mesmo que ver o nome de Harry Winks nos cards de escalação ainda cause depressão.

Ah, os nomes que completam a lista de saída: Gareth Bale, Carlos Vinicius e Joe Hart.

Lista desatualizada com as saídas de Aurier e Carter-Vickers

Falando das chegadas, a grande novela da vez foi a chegada de Cristian Romero. Se os primeiros reports vindos da Itália apontavam que o zagueiro campeão da Copa América ao lado de Lionel Messi (que teve proposta do Tottenham!!) e Giovani Lo Celso Celso não queria abrir mão de disputar Champions League pela Atalanta para uma Conference e moradia em Londres, a postura do próprio Romero indicou o contrário. Os dias iam passando e surgiam notícias de que, sim, ele queria o Tottenham. Tanto que o negócio se desenrolou e ele se junto ao velho conhecido Pierluigi Gollini, o goleiro trapstar que também foi uma das caras novas da janela.

Romero foi a grande contratação da janela

Por fim, um negócio de oportunidade que veio muito a calhar. O Tottenham não conseguiu aproveitar o saldão da Inter, que recusou proposta de quase 90 milhões de euros por Lautaro Martínez em um momento que parecia ser do clube se preparando para a então iminente saída de Harry Kane, que ficou e é sem dúvidas o maior reforço para Nuno Espírito Santo nesta temporada.

Sem o saldão na Itália, Fabio Paratici foi cozinhar na Espanha, onde um time blaugrana está desesperado para desonerar sua folha de pagamentos e saiu negociando gente a rodo. Em um Barcelona que perdeu Messi e Griezmann na mesma janela, o Tottenham foi lá e tentou buscar Ilaix Moriba, que preferiu rumar ao RB Leipizig. Paratici parece já ter aprendido algo com Daniel Levy e aproveitou o dinheiro da passagem à Catalunha para beliscar o bom lateral Emerson Royal no deadline day, fechando seus trabalhos pelo menos até janeiro.

No geral, a impressão que a janela deixa já é aquela coisa conhecida: do 1 ao 11, o time não é ruim. Dele Alli fez boas aparições e Oliver Skipp começou a temporada confirmando que a boa passagem pelo Norwich não foi mera casualidade. E, bem, já são três jogos seguidos sem tomar gol mesmo com Dier e Davinson Sánchez no miolo de zaga. No entanto, a profundidade de elenco ainda deixa a desejar: e o reserva de Kane? E quando Son não estiver bem? Não há nenhum meia que saiba fazer gol? Realmente vamos confiar em Dao e Dier, mesmo que ao lado de Romero? Que diabos Ben Davies ainda faz no clube? São perguntas que seguem sem respostas e por isso a janela fica com uma nota 7, combinando com as expectativas reais da temporada, que, convenhamos, já não era nada de muito alto.

O The Last Dance de Harry Kane no Tottenham não deve ser nada que renda documentário na Netflix

Chegaram: Pierluigi Gollini, Emerson Royal Cristian Romero, Pape Sarr e Bryan Gil. Kane ficou. Son Renovou.

Saíram: Joe Hart, Paulo Gazzaniga, Serge Aurier, Juan Foyth, Cameron Carter-Vickers, Toby Alderweireld, Danny Rose, Moussa Sissoko, Erik Lamela, , Gareth Bale e Carlos Vinicius

--

--