Qual o tamanho de um deus?

Após 8 anos, Jan Bert Lieve Vertonghen deixa o Tottenham

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
3 min readJul 27, 2020

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O Tottenham não é um time carente de ídolos. Mesmo em um século longe de ser tão vitorioso pra o clube como o XXI, o time conseguiu ter grandes jogadores à sua disposição. Mais do que isso: jogadores identificados com o clube, com seus valores, pelo menos enquanto estiveram por aqui. Essa identificação somada a um punhado de grandes feitos em campo nos deram nomes como Ledley King, Gareth Bale, Rafael van der Vaart e Luka Modric.

Destes, somente King deixou um troféu no clube, mas a idolatria que um torcedor tem por seus jogadores não necessariamente tem nas taças o seu único pré-requisito. Futebol é doido, simples e complexo. Que sorte a nossa de curti-lo.

O Tottenham tem mil e um defeitos, mas a sua capacidade de ser algo tão acolhedor, pulsante e vivo é um belo pano pra se passar nesses problemas. É curioso como parece que as pessoas são felizes no Tottenham (talvez Ndombele e Eriksen sejam exceções). E, sim, isso é muito contraditório, dadas as nossas dificuldades e pipocadas. Mesmo com esses b.o.’s, não são raros os casos de humanos perceberam essas qualidades do clube antes de tomá-las pra si e se transformarem em verdadeiros deuses. Jan Vertonghen é um dos que fizeram isso. E com a elegância de um Rolls Royce.

Vertonghen deixa o clube após oito anos e não teve sequer a oportunidade de estar em campo nos últimos dois jogos. O primeiro marcaria a sua despedida do estádio. O segundo, a sua despedida do campo. Uma falta de delicadeza imensa de José Mourinho, mas afinal de contas ele foi contratado para fazer isso mesmo: dar choques, fazer o necessário e blá-blá-blá.

Tenho certeza que Vertonghen não sentiu uma parte sequer da amargura e sufocamento que me acometiam a cada ponteirada do relógio. Talvez ele já soubesse, antecipando as coisas como fez tantas vezes nessa quase uma década. Nesses dois últimos jogos, Vertonghen lá do banco teve a oportunidade de ser um torcedor como eu e você ali dentro do estádio. Um privilégio solitário, mas ainda assim um privilégio. E saber como se aproveitar as situações adversas, incômodas e frustrantes é que faz o Super Jan ser tão super. Ser tão nosso. Ser tão deus.

Será estranho saber que ele não está mais por ali, pronto pra nos salvar a pele em qualquer momento com um corte preciso ou com um cabeceio em fim de jogo que foi crucial para que a nossa temporada não fosse completamente pro lixo. Ou você não lembra que quem ganhou os 3 pontos em cima do Wolverhampton foi ele? Mesmo numa temporada em que o corpo e a mente já não respondia da mesma maneira, Jan foi super importante e super decisivo. Nosso karma é depender e amar tanto uns belgas canhotos, afinal de contas. Que bom que seja assim.

Vendo o vídeo publicado pelo clube, os depoimentos deixam nítido o quando nosso camisa 5 foi importante para trazer alegria e segurança para quem viveu o clube. Dentro e fora do campo, Vertonghen foi um paizão do Tottenham. Jan foi super Jan. Que bom que foi nosso. Foi não: sempre será. Deuses são gigantescos. E eternos.

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