O que, afinal, aprendemos sobre a felicidade

Bruna Talarico
Gente Extraordinária
4 min readMay 7, 2016

5 meses, 6 países, 16 entrevistas, uma só pergunta

Fraser Island, Austrália

Esta semana o Gente Extraordinária começou a arrumar o mochilão para voltar para o Brasil. Foram cinco meses de peregrinação por seis países do Pacífico Sul para perguntar a pessoas comuns o que era felicidade para elas e como elas a perseguiam, em uma tentativa de explicar como esta busca individual pode moldar culturas e países. Fomos a lugares que nunca teríamos conhecido como turistas — a Samoa foi uma surpresa exuberante ao mesmo tempo em que foi um tapa na cara — e conhecemos pessoas que nos fascinaram e causaram repúdio. Felizmente, não na mesma medida.

Noumea, Nova Caledônia

Neste período, trabalhamos em condições áridas: ora não tinha internet, ora não tinha comida, e teve até uma hora em que não tinha nenhuma das duas. A gente aprendeu um bocado sobre nossos limites e nossas aspirações pessoais e profissionais. Nos descobrimos jornalistas de um jeito novo, mas descobrimos também que alguns colegas jornalistas não consideram o que fazemos como jornalismo. E, bem, essa parte doeu. Mas é bem aí que entra o maior aprendizado de todos desde que começamos o Gente Extraordinária: todo mundo só quer ser aceito.

Quando pegamos aquele avião em dezembro no Rio de Janeiro, imaginamos que íamos encontrar pessoas muito diferentes todos os dias, com visões de mundo e de felicidade talvez díspares e antagônicas. Se não isso, pelo menos plurais. O que encontramos, na verdade, é muito mais simples do que isso. Todo mundo queria era se sentir parte de alguma coisa, e a definição dessa coisa era a variável mais importante em seus discursos.

Tanna, Vanuatu (GoPro)

Michael Colonna, na Nova Zelândia, queria ser aceito por ele mesmo depois de ter largado a família para ser palhaço. Foketi Saamoe, na Samoa, vivia pela bênção dos chefes de seu vilarejo ao mesmo tempo em que lutava para pertencer a uma sociedade ocidentalizada — Justin Bieber é seu maior ídolo em uma ilha isolada como é Savaii. Em Fiji, Ratu Biautubukoso encontrava a felicidade ao sentir-se em casa junto a tubarões-touro e tinha até um preferido: a fêmea Blunt, temida por seus companheiros de trabalho. Foi assim também em Vanuatu, na Nova Caledônia (aqui com a ironia da xenofobia da entrevistada imigrante) e na Austrália.

Beqa, Fiji

Foi um desafio muito estressante produzir e publicar tanto conteúdo da estrada. Por trás de cada um dos 16 textos+fotos+vídeos+podcasts+live streamings que ganharam as páginas do projeto, haviam discussões intermináveis sobre a melhor maneira de apresentá-los aos nossos leitores e entusiastas ao mesmo tempo em que queríamos chegar ao jovem brasileiro e fazê-lo engajar com o hábito da leitura. Não acertamos sempre mas hoje, olhando para trás, conseguimos avaliar melhor que caminho queremos seguir. Com o aprendizado adquirido na estrada, esperamos traçar novos caminhos no jornalismo — sempre preservando nosso moto inicial, o de conquistar novos leitores pela empatia e atrair a juventude para o hábito da leitura.

Savaii, Samoa

Mas palpável, mesmo, é que desembarcaremos na próxima sexta-feira no Rio de Janeiro desempregados mais uma vez. Com o cenário político e econômico que vive o Brasil, não nos sentimos confortáveis em trabalhar, neste momento, em uma nova campanha de financiamento coletivo mesmo com todos os nossos apoiadores dizendo que querem uma nova etapa do Gente Extraordinária; soma-se a isso o fato de todas as empresas com quem conversamos inicialmente sobre patrocínio, ainda em 2015, terem simplesmente fechado as torneiras por onde escoa o dinheiro. Nas próximas semanas, falando e pensando em português, comendo arroz com feijão, dormindo todos os dias no mesmo lugar, vamos poder avaliar com calma o que será de nosso futuro, e também o futuro do Gente Extraordinária.

Kati Kati, Nova Zelândia (GoPro)

Ainda assim, reforçamos que o maior aprendizados que tiramos dos nossos entrevistados reflete nossas próprias convicções: queremos fazer parte. Parte de que? Parte da vida de vocês. Por onde quer que o Gente Extraordinária vá, ele só continuará fazendo sentido com o retorno e o envolvimento que sempre recebemos de quem acredita no projeto. O futuro pode ser incrível, e acreditamos nisso.

Daremos notícias de nossos próximos passos, podem ter certeza. Mas, por enquanto, queremos deixar o nosso Muito Obrigado a todos vocês por terem nos acompanhado nessa jornada.

Nunca vamos esquecer.

Nós dois, nos bastidores do Gente Extraordinária

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Bruna Talarico
Gente Extraordinária

Jornalista brasileira, estudo Media Management em Nova York para encontrar novas maneiras de comunicar o mundo. Co-fundadora do projeto Gente Extraordinária.