Por que ter cuidado na hora de escolher o narrador da sua história?

Maria Anna Leal Martins
Maria Anna Martins
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3 min readDec 14, 2020
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Como escolher o melhor narrador? E como ele envolve o leitor?🤔

Muitas vezes, quem está começando a sua carreira como escritor, costuma escolher o narrador de forma intuitiva para as suas histórias. Com o tempo, e um pouco de estudo, essa escolha passa a ser bem mais estratégica: afinal, quem irá contar a sua história é quem guiará o leitor e terá de o envolver. Uma escolha muito importante.

Por exemplo: em Dom Casmurro o narrador é em primeira pessoa e sabemos que Bentinho é uma personagem bastante não confiável. Só temos as perspectiva dele dos fatos e é em sua narrativa nem um pouco convincente, que surgem as dúvidas (traiu ou não? E isso de fato importa?) da narrativa.

Já em livros em terceira pessoa, podemos confiar ou não no narrador que pode ter diversas faces: saber de tudo de todas as formas, acompanhar somente um ou dois personagens, se colocar como parte do mundo, mas sendo um observador…

O narrador pode até fingir imparcialidade, coisa que engana alguns leitores desavisados, mas preste atenção: eles sempre estão vendo algo a mais ou comentando de alguma forma. Na hora que escolhem seguir um personagem específico, na terceira pessoa, já é um exemplo disso.

O leitor só saberá o que o narrador contar, aquilo que ele tem a mostrar. E isso é uma ferramenta poderosa na narrativa. A visão do mundo de um gato, como em “Relatos de um Gato Viajante” não será a mesma da de Katniss de “Jogos Vorazes” e muito diferente de um narrador de um romance de época da Júlia Quinn em terceira pessoa que só acompanha a mocinha e o mocinho: só expressa a visão deles ou a visão do narrador em cima deles.

Acho legal quando os narradores tem uma presença forte, como nos livros da Jane Austen. Se você ler com atenção é possível ver que algumas atribuições a personagens vem da voz da narradora e não necessariamente de um personagem.

Quando a voz do autor se confunde com a do narrador

É preciso ter cuidado para que a voz do autor não se misture com a do narrador, exceto em casos pensados e propositais. Muitas vezes um autor pode escrever vários contos e em todos o narrador parecer exatamente o mesmo, ter a mesma voz. E às vezes, essa voz é a do próprio escritor.

Eu passei por isso e hoje trabalho bem mais as vozes dos meus narradores e personagens no geral, o que tiver de parecido com a minha voz como pessoa, normalmente (com algumas exceções, pois ainda deslizo vez ou outra) foram colocadas propositalmente, como no caso da Cassandra, de “Olhos de Gato”.

O escritor precisa ter cuidado com isso, para que suas personagens e narradores não pareçam todos os mesmos. Cada autor tem sua maneira de criar, mas, uma dica de como fazer para mudar essa voz, é montar uma ficha de personagem, na qual você escolhe e detalha formas de falar diferente, de pensar, gostos, classe social e até mesmo o signo do personagem ou narrador. Detalhes que não necessariamente precisam entrar na história, mas que ajudarão na criação do personagem e na distinção de sua personalidade e voz na hora da escrita.

O narrador segura o leitor

O narrador, em grande parte das leituras, é o que me faz ficar presa a um livro ou descartá-lo. Perdi a conta de quantos contos poderiam ter uma narrativa mais empolgante, menos clichê, se o escritor tivesse escolhido outro ângulo.

A escolha do narrador é uma das chaves mais importantes para a história. Então, escritor, pense bem sobre o seu narrador, quem ele é, o que ele sabe, o que gosta ou não. Crie uma voz singular, só dele. Explore as possibilidades e envolva o seu leitor.

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