Brasileiras Inspiradoras | Música Parte 1

Energia para seguir.

Mayara Santos
MUI Content

--

Vamos falar de música para corações aflitos? Recentemente falamos aqui sobre brasileiras que nos ajudam a resolver tabus, mas quando alguma coisa nos agonia as vezes faltam palavras para expressar o que realmente estamos sentindo. Muitas vezes, estas palavras estão dentro de uma música.

Neste episódio da série Brasileiras Inspiradoras — Música Parte 1, vamos falar do empoderamento, e da energia feminina na música brasileira, através de quatro representantes que estão em plena atividade. O post será dividido em duas partes para dar o devido destaque a cada uma delas. Pront@s para a primeira parte?

Então vamos lá!

Ops! Nov@ por aqui? Saiba mais sobre a série clicando no link abaixo, e seja bem-vind@

ELZA SOARES

A cantora brasileira do milênio — Rádio BBC Londres

Sabe aqueles problemas frequentes em nossa sociedade, ligadas ao preconceito, a humilhação pública exposta pela diferença de classes, a violência machista, a fome e o desamparo? Elza passou por tudo isso.

Nascida nos anos 1930, em uma das primeiras favelas do Rio de Janeiro (o antigo núcleo residencial Moça Bonita, hoje Vila Vintém), Elza foi obrigada a se casar entre seus 11 e 13 anos com um conhecido da família, com quem teve seus primeiros filhos.

Desde cedo, Elza se deparou com relacionamentos abusivos tanto em seu primeiro, como em seu segundo casamento. Além de sofrer violência doméstica, seu primeiro marido a impedia de trabalhar fora, e anos mais tarde acabou passando novamente pela dor da violência doméstica em seu segundo casamento, com o ex-jogador de futebol Garrincha, viciado em álcool.

Além dos relacionamentos abusivos, Elza testemunhou a morte de um de seus filhos ainda bebê, o qual precisava de remédios que foram adquiridos com o dinheiro de uma apresentação na Rádio Tupi. Antes da apresentação Elza foi subestimada por sua simplicidade, e lhe foi questionado “de que planeta você veio?”, ao que respondeu “do planeta fome”, silenciando as risadas da plateia. Saiu com a nota máxima do programa de calouros, e com o dinheiro para o remédio de seu filho. O bebê, porém, não resistiu.

Aos 21 anos ficou viúva com 5 filhos para criar. Trabalhou como lavadeira e doméstica para manter a casa. Na mesma época, Elza teve uma de suas filhas sequestradas por pessoas em quem confiava, e só pôde reencontrá-la depois de adulta. O crime prescreveu e os sequestradores não foram penalizados.

Em 1986, perdeu seu terceiro filho, o único com Garrincha, em um acidente de carro. O menino tinha nove anos de idade e Elza entrou em depressão, tentou suicídio, tomava antidepressivos e afastou-se do Brasil focando em sua carreira no exterior durante quatro anos, quando decidiu retornar, fazendo terapias para superar a perda.

Em 2014 passou por uma operação na coluna vertebral em decorrência de uma queda no ano anterior, o que faz com que Elza possa se apresentar somente sentada.

A MULHER DO FIM DO MUNDO

O sonho de cantar era antigo, e seu caminho começou a ser trilhado por apresentações em rádios. Em 1960 lançou seu primeiro sucesso Se Acaso Você Chegasse que marcava a mistura do samba com o jazz da época. Na sequência vieram A Bossa Negra e diversos lançamentos quase anuais até 1988, e de lá para cá, lançamentos com pequenos hiatos.

Durante a ditadura, Elza e sua família fugiram para a Itália após um ataque a sua casa, na época militares buscavam prender artistas devido a censura.

Os maiores sucessos atuais de Elza são seus álbuns “A Mulher do Fim do Mundo” e “Deus É Mulher”, onde as melodias flertam com o rock, samba e elementos eletrônicos. Suas letras falam sobre a crueza da vida de forma poética e visceral, trazendo também concepções bem atuais como na música O Que Se Cala, quando cita a teoria do lugar de fala, criado pela filósofa Djamila Ribeiro e tão reproduzido nos movimentos feministas.

Com “A Mulher do Fim do Mundo”, Elza conquistou o Prêmio da Música Brasileira, Prêmio Multishow de Música Brasileira e o Grammy Latino como melhor álbum, disco do ano e melhor álbum de música popular brasileira. É também considerada a cantora brasileira do milênio pela BBC Londres, a 16ª maior voz na lista das 100 maiores vozes brasileiras pela Rolling Stone Brasil, e possui um documentário biográfico exibido em diversos festivais, intitulado My Name Is Now, Elza Soares.

XENIA FRANÇA

Xenia França é uma força da natureza — Risca Faca

Nascida na Bahia e residente em São Paulo desde 2004, Xenia França é a personificação da mistura de ritmos e crenças construidas entre a América e a África.

Uma das maiores vozes contemporâneas da música independente brasileira, seu encontro com a música aconteceu na adolescência quando comandou a fanfarra da escola. Este momento a marcou de tal forma, que decidiu usar a jaqueta que utilizava enquanto líder da fanfarra, na capa de seu primeiro álbum solo.

Em sua infância e adolescência houveram momentos difíceis de discriminação, e suas referências passavam longe da mídia brasileira, uma vez que negros geralmente aparecem em papéis inferiores. Sua única inspiração fora Glória Maria, que pertence ao jornalismo, o que lhe despertou interesse pela área, mas não o suficiente para segui-la. As referências mais presentes estavam no protagonismo negro do cinema americano com Eddie Murphy, e na música com Michael Jackson.

Seu objetivo inicial era se tornar modelo, e foi este o motivo de mudar-se para São Paulo aos 18 anos de idade. No entanto, o processo de autoconhecimento, a vivência na grande capital e suas referências musicais acabaram levando Xenia ao encontro de seus iguais, com os quais passou a se desenvolver musical e pessoalmente.

MÚSICA PRETA, SOU TEU INSTRUMENTO

“A voz para a pessoa negra é uma ferramenta muito poderosa. E ‘Xenia’ é um ensaio sobre ter voz.” — Xenia França sobre seu álbum de estreia, para Vice

Referência de empoderamento feminino negro na música contemporânea nacional, Xenia tem uma grande conexão com suas raízes africanas, além de uma forte inclinação espiritual que transparece em entrevistas e algumas de suas músicas.

Seu álbum de estreia, lançado através do projeto Natura Musical em setembro de 2017, traz uma mistura de ritmos africanos, mesclados com a música black americana, jazz, soul e R&B, além de elementos eletrônicos. Suas composições trazem histórias de vivências pessoais, e um grande trabalho coletivo falando de fé, racismo e empoderamento feminino.

Além de fã do Michael Jackson, Xenia tem como principais influências para seu primeiro álbum nomes como: Whitney Houston, Ella Fitzgerald, Esperanza Spalding, Stevie Wonder, James Brown, e Miles Davis. No Brasil: Olodum, Ilê Aiyê, Gilberto Gil e Margareth Menezes, citando também Elza Soares como grande inspiração profissional e pessoal durante sua participação no programa Cultura Livre em dezembro de 2017.

Antes de sair em carreira solo, Xenia cantou em barzinhos de SP com a banda de samba-rock Sorriso Vertical, e sua experiência profissional se consolidou na banda Aláfia, onde era a única mulher em um grupo de 12 integrantes. Já cantou com Emicida, Rincon Sapiência, Letrux dentre outros.

Xenia foi indicada ao Grammy Latino: Melhor Canção Brasileira 2018 com a música Pra Que Me Chamas?, e participará da cerimônia no próximo dia 15 de novembro.

E aí? Gostou da série? Participe enviando nomes de mulheres inspiradoras da atualidade, para escrevermos sobre elas! Comente no post ou em nossas redes sociais!

❤ UM CONVITE PRA VOCÊ: Gosta de desenhar ou realizar colagens? Ilustradoras são muito bem vindas nessa jornada! Basta entrar em contato no email contato.myusefulideas@gmail.com , adicione suas redes sociais e trabalhos mais recentes para que possamos te encaixar!

❤ Não esqueça de clicar nos aplausos! Eles vão de 1 à 50 e você ainda ajuda o texto a ficar em evidência para quem também gosta deste assunto! (Basta logar com google ou facebook).

Comente comigo o que você achou, e não esqueça de nos seguir aqui, e nas redes sociais, para não perder postagens legais como esta! ;)

✪ Acho que você também vai gostar de ler Brasileiras Inspiradoras | YouTubers e Brasileiras Inspiradoras | Política Parte 1.

--

--

Mayara Santos
MUI Content

Amante da música, nascida nos anos 90. Criadora do Portal MUI Content, escritora em A Oficina e NEW ORDER | • Love is fuel. Love is revolution.