#EleNão Contava Com a Astúcia da Mulher Brasileira

Participar é preciso.

Mayara Santos
MUI Content
6 min readSep 28, 2018

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pic by Renee Fisher via Unsplash. art by Mayara Santos

Quanto mais próximos das eleições 2018, mais intensos são os dias, e a expectativa do que nos espera para 2019 só cresce.

O cenário político do país passa por uma instabilidade horrenda, altamente propícia para propostas ousadas, heróis duvidosos e discussões inflamadas na internet. A nós, meros mortais aqui na base da pirâmide, resta o desprazer em ver a história se repetir, rezando para que essas eleições não acabem como o golpe de 1964.

Como não poderia deixar de acontecer em tempos de recuo político e social, vimos vários grupos se manifestarem nos últimos dias, reproduzindo a (já histórica) hashtag #EleNão, em protesto contra o candidato a presidência da república, Jair B.

Jair não contava com a nossa astúcia ;)

O ESTOPIM

Após diversas declarações de cunho homofóbico, racista e misógino vindas do candidato Jair, onde afirmou que as “minorias deveriam se curvar às maiorias ou simplesmente desaparecer” (em meio a diversas outras bizarrices proferidas em discursos e entrevistas), um grande movimento social encabeçado por mulheres de todo o país, se mostrou capaz de atrair a atenção para a insatisfação nacional quanto aquele que aparece a frente nas pesquisas de intenções de voto.

Compilado via Facebook, de artistas que se manifestaram através das redes sociais.

Em pouco tempo, mais de 2 milhões de mulheres pertencentes ao grupo do Facebook, Mulheres Unidas Contra o Bolsonaro, começavam a elevar a hashtag #EleNão nas redes sociais, conquistando o apoio de grande parte dos internautas, chegando ao topo dos trending topics do Twitter, o que chamou a atenção de veículos de informação dentro e fora do país, sendo reproduzida também por artistas.

#ELENÃO NA GRINGA

Nossa reputação nos precede.

Os discursos do candidato Jair ecoaram. Artistas de renome na tv, teatro e música, resolveram se posicionar contrário aos ideais propagados pelo candidato, sua família e seus seguidores.

No exterior diversos artistas também se juntaram a causa publicando #EleNão em suas redes sociais, dentre eles Nicole Scherzinger (ex-PussycatDolls), Shangela (RuPauls Drag Race), Alfonso Herrera (ator), Dua Lipa (cantora), Dan Raynolds, (vocalista da banda Imagine Dragons), Black Eyed Peas, e Ellen Page, que gravou um documentário a poucos anos atrás onde entrevistou Jair, e relembra a fatídica frase que em que ele diz: “Prefiro que meu filho morra em um acidente, do que apareça com um ‘bigodudo’ por aí”.

“Eu entrevistei Jair B… para o Gaycation Brasil. Ele é um homem perigoso, homofóbico, racista e misógino que está atualmente liderando a corrida presidencial no Brasil. Citação homofóbica direta ’Prefiro que meu filho morra em um acidente do que apareça com um cara bigodudo por aí’. Junte-se as vozes de pessoas que se unem no Brasil para dizer #elenao #neverhim. Eu estou enviando amor e apoio para aqueles no Brasil que resistem a esta loucura.” — Ellen Page.

O ESPORTE É INCLUSÃO

No esporte também houveram manifestações contra o candidato, onde as torcidas do Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Santos, Grêmio e Internacional, publicaram manifestos em prol da igualdade e do respeito, lembrando a história dos clubes, e dos preconceitos reproduzidos dentro dos estádios.

No manifesto da torcida do Corinthians, o presidente Digão convida os torcedores que apoiam o candidato a “repensar sua caminhada dentro da torcida”.

(…) é o seguinte rapaziada, vocês que apoiam um cara que vai contra todas as nossas ideias e joga no lixo o nosso passado de muitas lutas, por favor, se forem seguir apoiando esse cara, repense sobre sua caminhada dentro da Torcida. Ou seja, se está no Gaviões por interesses pessoais, status, para ostentar apenas uma camisa ou se beneficiar atrás de ingresso e pagar nas redes sociais que faz parte da maior torcida do Brasil, por favor, se retirem. Pode passar lá no Vip e assinar a carta de saída.

Somos uma torcida que defende os direitos do nosso povo e não podemos deixar que o nosso maior representante seja contra nós e contra tudo aquilo que lutamos.

Digão — Presidente
GAVIÕES DA FIEL TORCIDA

COMO PARTICIPAR

Além de posts com a hashtag #EleNão, é possível também assinar uma petição elaborada e assinada por artistas e intelectuais de todo o Brasil, em favor da democracia. Publicado no dia 24 deste mês, a petição já possui mais de 190mil assinaturas.

Neste sábado, 29, também ocorrerá uma caminhada histórica em protesto contra o candidato. O evento está previsto para acontecer em diversos estados do Brasil, e também pela comunidade brasileira que vive no exterior. Dentre os países que já possuem o evento no Facebook estão: Estados Unidos, Alemanha, Chile, Austrália, Inglaterra, França, Espanha e Bélgica. Para participar dos eventos aqui no Brasil é importante ficar atento ao horário em que será realizado no seu estado.

O QUE ISSO TUDO REPRESENTA?

Acredito muito naquela frase de que

Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar — Nelson Mandela

Arte de capa do evento Mulheres Unidas contra B… — Londres

Lutamos infinitamente para que possamos ser respeitadas igualmente enquanto cidadãs, assim como fizeram muitas que vieram antes de nós, para conquistar os direitos que nos deram o direito ao voto, a independência, e a liberdade de escolha. Ainda há muito pelo que precisamos lutar, e contra o retrocesso é o que, hoje, move milhares de mulheres em manifestações em favor da igualdade.

Há também dentro da arte um posicionamento frente a questões sociais, trabalhando para que evoluamos com amor. É essa essência que participa ativamente das transformações sociais. Exemplos disso são artistas que, mesmo sofrendo represálias (físicas) durante a ditadura, não deixaram de comunicar a necessidade da liberdade de expressão, e dos direitos políticos do cidadão. Hoje, eles se colocam mais uma vez ao lado da população para evitar o retrocesso.

Esta transformação social está também presente no esporte. Os manifestos trazem histórias de luta por sua existência, antes e durante a ditadura militar no Brasil. Estas vozes também nos fazem lembrar do que conquistamos até aqui, enquanto cidadãos livres.

Estamos sim em um momento crucial que nos levará a evolução ou retrocesso do nosso país. A tão citada ditadura, pela qual passamos há pouco mais de 30 anos, e defendida pelo candidato em questão, deixou heranças de dor para diversas famílias brasileiras, além de causar defasagem no ensino e na economia da época.

Se ela foi assim tão dolorosa, e até pouco tempo atrás era demonizada, porque hoje parece solução para tudo?

Porque a memória brasileira é curta, a paciência em conquistar a mudança gradativamente é nula, e a preguiça em saber verdadeiramente de sua história é cultural. Ora negamos nossas origens, ora retornamos a ela assumindo papéis que em nada tem a ver com nossa realidade social.

Sendo assim, querer a ditadura novamente não vai diminuir a violência. Vai diminuir você, sua família, seus amigos, e o nosso futuro.

Ademais, gostaria de compartilhar, caro leitor, que a esperança é o que nos move. Todos queremos um país melhor, e isso há de nos unir ainda mais.

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Mayara Santos
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Amante da música, nascida nos anos 90. Criadora do Portal MUI Content | • Love is fuel. Love is revolution.