Mulheres que Escrevem — Retrospectiva 2016

Um ano para recordar

Taís Bravo
Mulheres que Escrevem
7 min readDec 30, 2016

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Quando o ano começou eu e Natasha Silva não tínhamos metas muito ambiciosas. Pelo contrário, sentíamos mais necessidade de dar um passinho de cada vez, focar nos gestos e hábitos diários e continuar em movimento da melhor forma possível.

É quase um consenso que 2016 foi um ano difícil, mas, se pararmos para lembrar, 2015 não foi exatamente tranquilo também, talvez seja o caso de algumas coisas terem mesmo se rompido, talvez seja melhor admitir que nunca mais vai ficar tudo bem. Dizendo assim parece um pouco pessimista, mas eu acredito de verdade que se livrar de uma certa inocência pode ser o começo de uma outra percepção de vida. Na última newsletter de 2015, citei Virginia Woolf — através de Rebecca Solnit, já que conheci essa citação neste artigo: O futuro é obscuro, o que é a melhor coisa que o futuro pode ser, eu acho.

Iniciamos 2016 nesse vácuo, sem muitas expectativas ou respaldos, terminamos da mesma forma, mas definitivamente não no mesmo lugar.

Este foi um ano que exigiu pé no chão e isso foi imprescindível para que já não nos perdêssemos mais em sonhos contemplativos. O que queremos tem que ser feito agora do jeito que der para ser. Foi a partir dessa perspectiva que conseguimos construir novas possibilidades para a Mulheres que Escrevem. Sendo muito sincera, bem pouco foi de fato planejado, foi muito mais uma questão de apostar no que podemos fazer em vez de ficar esperando o momento perfeito para fazer o que queríamos.

Em abril, eu e Natasha estávamos um pouco entediadas com nossas rotinas. Enquanto compartilhávamos nossas frustrações pelo whatsapp, descobri o edital da Mulheres de Impacto — um projeto da Benfeitoria, Think Olga e ONU Mulheres — e pareceu um sinal: A gente tinha que se inscrever. Veja bem, isso nunca esteve nos nossos planos, nunquinha na minha vida que eu me imaginei inscrevendo a Mulheres que Escrevem em editais, mas a oportunidade esta ali e a vontade de algo novo também, então fomos.

Nosso projeto não foi aprovado no edital. Mas essa tentativa fez com que eu conhecesse a Luiza Luka — graças a ponte da amiga Carolina Walliter — que nos ajudou a pensar melhor o que de fato queríamos como projeto para a Mulheres que Escrevem. Encontrei a Luiza em um Ximenes (bar/restaurante do meu ❤) e a gente trocou uma ideia muito inspiradora. Saí de lá pensando que almoço de trabalho às vezes é melhor que date, porque me sentia inteira borbulhando de animação. Foi por conta desse projeto que demos todo um gás à Mulheres que Escrevem, deixamos de ser “só” uma newsletter e assumimos uma forma de rede. Às vezes é meio difícil explicar o que a gente é, mas é isso: Somos uma rede que impulsiona conversas entre escritoras.

A partir desse projeto, convidamos a Beatriz Leite para criar uma nova identivade visual para a Mulheres que Escrevem. Criamos nossa publicação no Medium e nossa página no Facebook. Até fizemos um vídeo explicando melhor nosso projeto que foi editado pela Natália Sampaio.

Logo um pouco depois disso, em maio, a Danielle Magalhães, editora da revista Oceânica junto com Maíra Ferreira, me convidou para beber uma cerveja (sim, no Ximenes) e conversar umas coisas aí. O que a Dani queria me contar era a proposta de um evento que aconteceria na galeria da UERJ; tínhamos, teoricamente, um lugar disponível e muitas ideias, faltava planejar. Entre cervejas e dose dupla de pastel, esboçamos uma programação linda composta só por mulheres artistas maravilhosas. Fiquei muito empolgada, porque, finalmente, levaríamos a Mulheres que Escrevem para fora da internet em um encontro com várias escritoras. Mas adivinha? Não deu certo. Tivemos um impasse com a curadoria do local, desistimos de fazer na UERJ, pensamos em outras possibilidades, mas a correria da vida não deu chance para que os planos fossem concretizados. Dessa vez sobrou vontade, mas faltou oportunidade. Acontece.

Essa vontade de produzir um encontro não saiu de mim. Ficou ali me sondando até que finalmente encontrei uma oportunidade. A CAMTRA, a organização na qual trabalho, conseguiu uma sala nova para uso próprio e também para disponibilizar para coletivos de mulheres que precisam de um espaço para suas reuniões ou eventos. A solução estava bem ao meu lado agora só faltava a coragem de assumir essa responsabilidade — imagina, logo eu que odeio dar festas porque tenho pavor a ideia das pessoas não se divertirem.

Nem lembro mais de onde tirei essa coragem, se foi tédio ou desespero, eu simplesmente resolvi fazer e, mesmo de longe, Natasha me deu todo apoio e ajuda que precisava para seguir em frente. Depois me dei conta que não tinha cadeira suficiente para a quantidade de pessoas inscritas — mas por sorte do acaso, deu tudo certo — , me desesperei com coisas pequenas até que resolvi deixar acontecer na-tu-ral-men-te porque, se começasse a pensar no que poderia dar errado, não ia parar mais. E não deu nada errado, foi lindo do começo ao fim.

Primeiro encontro ❤

O Ciclo de Encontros da Mulheres que Escrevem foi a coisa mais linda e importante que aconteceu no meu 2016, de longe. Acho que foi um dos momentos em que tive mais certeza de quem eu quero ser e do que quero fazer nessa vida. Sei lá, foi foda. Escrevi sobre os encontros na primeira edição da minha newsletter.

Só posso agradecer a todas que toparam a puxar essa conversa comigo: Daiane Cardoso, Danielle Magalhães, Laura Pires e Maíra Ferreira. E também a todas que aceitaram participar dessa empreitada cheia de vontade e nenhum objetivo definido: Aline Miranda, Ana Bolena, Anna Luiza Terra, B. A. Triz, Camila Puni, Cristina Parga, Dandara Oliveira de Paula, Fabiana Pinto, Estela Rosa, Lola Ferreira, Tássia Áquila, Thais de Bakker, yasmin.nigri e todas que participaram desse processo.

Depois que fizemos isso não deu mais para parar. Foi meio o empurrão que precisávamos pra continuar seguindo, nesse clima vamo que vamo, aproveitando da melhor forma as oportunidades que surgiam e também fazendo o possível para encontrar novas possibilidades. Principalmente, percebemos que era a hora de crescer nossa rede e por isso expandimos nossa equipe que agora conta com a participação da Estela e da Laura — contamos mais sobre isso aqui.

Em novembro eu fui convocada para uma reunião de trabalho em São Paulo e eu, bem doida, pensei por que não aproveitar isso e fazer um encontro da Mulheres que Escrevem por lá? Afinal, eu já tinha pensando nisso, não é mesmo? Foi assim que organizei em mais ou menos dez dias um evento. Quase enlouqueci com essa correria, tinha certeza que ia dar tudo errado, mas o Mulheres que Escrevem a Resistência foi maravilhoso. Reunir Aline Valek, Bianca Santana, Helena Zelic e Jarid Arraes na Tapera Taperá foi quase inacreditável de tão bonito e importante. Mais uma vez, só posso agradecer a todas que contribuíram e participaram dessa conversa.

Para fechar o ano, realizamos na Bolha Editora, um encontro da Mulheres que Escrevem durante o lançamento da Possível, zine que escrevi junto com a Brena O'Dwyer e que foi produzida pela Alpaca Editora. O encontro aconteceu na Bolha Editora, com mediação da Estela, Eu, Brena, Elisa Freitas, Seane Melo e Thaís Costa conversamos sobre diferentes formatos, mídias e possibilidades de escritas. Foi mais um desses momentos #top de 2016. Dessa vez, tenho que agradecer a todas/os que participaram mais especialmente a rachel gontijo araujo, editora da Bolha, e também ao rapaz que foi buscar meu hambúrguer enquanto eu vendia as zines, porque foi responsável por um memorável momento na vida desta escritora taurina.

Escrevi sobre essa noite nessa edição da minha newsletter, de alguma forma, sinto que o ano terminou ali, com a gente reunida, bem lindas, devidamente alimentadas e felizes. Com Estela dançando sozinha no meio da livraria, eu escrevendo dedicatórias com um hambúrguer na mão, Seane e Laura enfim se conhecendo pessoalmente, a gente falando e sendo ouvida, enfim, uma conversa entre escritoras. Mas a verdade é que ainda estamos no dia 30 de dezembro e hoje ainda encontro a Laura para conversamos sobre a nossa publicação do Medium. A verdade é que a gente continua trabalhando. Seguimos despretensiosas, mas confiantes, dando um passinho atrás do outro e assim fazendo juntas o nosso caminho. Esperamos que no próximo ano essa conversa continue crescendo e a nossa rede se torna ainda maior e mais diversa!

Até breve!

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