Review — Planetarian ~the reverie of a little planet~ (Chiisana Hoshi no Yume)

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
Published in
6 min readJan 12, 2016
“Por favor, não divida o paraíso em dois”

Assim que comprei o jogo da Visual Art’s/Key, já sabia o que me esperava no fim do jogo antes mesmo de executá-lo na lista. A torrente de lágrimas após uma acalentadora história que reverbera por anos, é sempre inevitável quando se trata da empresa. Sejam nos animes, sejam em seus jogos ou mesmo em outras produções como Light Novels e Audio Dramas, esse turbilhão de sentimentos proporcionados por suas tramas estão sempre presentes.

Planetarian — Chiisana Hoshi no Yume, traduzindo literalmente como “o sonho da pequena estrela” ou “the reverie of a little planet,” como foi traduzido oficialmente, é uma Kinetic Novel produzida em 2004, inicialmente lançada para PC e, mais tarde, para Playstation 2, PSP, Android e iOS.

Se tratando de uma Kinetic Novel, onde não há múltiplos finais ou decisões a se tomar, Planetarian ~the reverie of a little planet~ é uma leitura simples e de certa forma insólita, com momentos que proporcionam risadas, outras revolta e também algumas lágrimas.

A história

Com o problema da super população no mundo e a falta de recursos, logo uma guerra explodiu com o intuito das grandes potências eliminar o excesso de pessoas no planeta.

Bombas de germes foram jogadas, eliminando muitos humanos, seguida de bombas nucleares e, os sobreviventes de todas essas catástrofes, passaram a utilizar armamentos automatizados — os robôs de guerra — para eliminar uns aos outros. Logo a guerra tornou-se uma questão de vingança e raiva. Sem saber mais por que cada um lutava, o planeta havia acabado e os raros seres humanos tinham que sobreviver aos soldados automatizados cujo objetivos era eliminá-los, a procriar e tentar reconstruir o que restava do mundo.

Pelo menos era o que queriam. Os seres humanos e toda repulsa que causaram com a guerra sem sentido quebrou o planeta terra. Uma chuva incessante passou a cair. Uma chuva ácida que deixou a terra estéril e cobriu para sempre os céus, impedindo o dia e a noite de existir.

É nesse cenário pós apocalíptico em que a história de Planetarian começa. Com o personagem central que atende apenas pelo nome de Junker, sua profissão como scavenger, chegando em um planetário no topo de um prédio de lojas de departamentos, localizado no meio de uma cidade abandonada.

Dentro ele encontra Hoshino Yumemi, uma robô guia tagarela e animada que diz estar com defeito. Aos poucos o ceticismo e frieza do personagem principal amenizam com a inocente personalidade positiva de Yumemi que insistentemente quer mostrar o céu estrelado para seu primeiro cliente em 30 anos. Para que isso aconteça, ele precisa concertar o projetor.

A premissa inocente e o jeito ácido, impaciente e frio do personagem principal, carinhosamente chamado sempre como Mr. Customer por Yumemi, aos poucos se rende às prazerosas conversas sobre as coisas mais mundanas. A inocência e alegria de Yumemi faz com que o mundo destruído pelos seres humanos desapareça naquele pequeno paraíso encontrado pelo personagem central.

Inicialmente pensei que a história fosse escrita por Jun Maeda, um dos roteiristas principais da Visual Art’s/Key. Contudo, Planetarian foi escrito por Yuchi Suzumoto (um dos roteiristas principais de Clannad, ao lado também de Maeda).

A maestria de Suzumoto encontra-se nos diálogos simples, mundanos e bastante levianos, que consegue trazer ao inanimado (o fato de Yumemi ser uma robô), uma vida única. O autor utiliza o fato da personagem principal ser uma robô para criar uma trama personalizada para ela, ocorrendo diversos eventos emocionantes onde somente naquela realidade seria possível.

Mais uma vez, como característico de suas histórias, a Visual Art’s/Key consegue trazer a ficção, o impossível e sobrenatural, para uma realidade de beleza, reflexão e muitos sentimentos.

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por ócio, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.

3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

Tratando-se de uma história com robôs, não poderia faltar as máximas de Isaac Asimov, onde Suzumoto trabalha com a deturpação egoísta e bélica dos seres humanos antes e após as guerras. Yumemi está ligada não apenas às leis da robótica, mas também em relação às memórias prazerosas e alegre que ela guarda consigo em sua longa existência solitária.

Em um mundo quebrado pelos humanos, a esperança reside em uma inocente robô esquecida pelo tempo

Há somente dois personagens em Planetarian ~the reverie of a little planet~, isso é o suficiente para preencher uma história rica em reflexão.

Muito longe de ser uma história de amor, Planetarian possui uma trama crítica em relação às destruições causadas pela arrogância humana, assim como o outro lado extremo de como nós podemos criar coisas belas. Acima de tudo, como nós, os seres humanos, também esquecemos do quão pequenos somos em relação ao universo e que, em cada gesto simples e gentil, existe uma beleza à que somos cegos grande parte de nossa vida.

A ingenuidade, leviandade tratada por vezes nos diálogos e cenas, fazem com que Planetarian seja uma história simples, mas muito especial que faz seus jogadores/leitores, olharem para o céu estrelado de forma diferente e carinhosa.

É importante saber como trabalhar com clichês

Como é comum entre os personagens das histórias da Visutal Art’s/Key, o personagem central masculino é, em sua maioria, frio e cético, enquanto a personagem feminina é exatamente o oposto. Suzumoto trabalha com esses mesmos esteriótipos, mas traz uma trama nova que proporciona um novo brilho para esse estilo de storytelling.

Da mesma forma como Jun Maeda trabalha as gigantes flutuações sentimentais, onde em um momento rimos de cenas engraçadas e da rotina casual, enquanto em outra choramos com uma série de desgraças que atingem direto no coração, o autor consegue fazer isso em um curto espaço de tempo.

Outro elemento tratado bem diferente é a inevitabilidade da história. Logo nos primeiros minutos já somos acometidos de como a história pode terminar. Yumemi, por 30 anos, era ativada somente durante 7 dias para receber novos visitantes ao planetário, enquanto dormia o resto do ano para recarregar. Com essa premissa, já é possível esperar certos resultados da história que, de uma forma ou de outra, é direcionada ao caminho inevitável que, ainda que possamos esperar, nos atinge “em cheio” da mesma forma.

Apesar de tudo…

Planetarian ~the reverie of a little planet~ é uma Kinetic Novel bastante curta. O jogo possui cerca de 5 a 6 horas de leitura caso o jogador queira ouvir as dublagens. Sim, o jogo é dublado, contando com a presença de Keiko Suzuki (que já participou de outras produções da Visual Art’s/Key como Little Busters! e Rewrite) e de Daisuke Ono (Air e Clannad). Com uma leitura rápida, ou seja, ignorando as dublagens, é possível terminar em 1 ou 2 horas.

Ainda assim, a história rica e repleta de sentimentos e críticas, foi forte o bastante para proporcionar uma Light Novel com diversos contos no universo da Kinetic Novel e alguns Áudio Drama.

A arte é bem simples, são poucos cenários e possuem resolução máxima de 800x600, o que pode parecer um tanto estranho para quem está acostumado com VNs mais atuais. Apesar disso, os traços são leves e bonitos, dando um ar minimalista para esta pequena pérola do storytelling de um futuro onde, até a descoberta da pequena Yumemi, não havia esperança.

Planetarian ~the reverie of a little planet~ está disponível no ocidente, com tradução em inglês, para PC através da loja da Steam e para iOS.

É muito bom ver a quantidade de jogos desse estilo na Steam, cada vez mais, títulos importantes estão surgindo na loja e, também, bastante consumidos. No caso de Planetarian, é a empresa norte americana Sekai Project que realizou a tradução que, por sinal, ficou muito boa. Excetuando alguns erros de digitação, senti pouca diferença em relação ao texto traduzido e aos diálogos pronunciados pelos personagens.

Por fim, Planetarian é uma pequena história com ar de gigante, que faz com que sua beleza aparentemente inócua, reverbere para sempre entre as estrelas que brilham no céu.

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.