Uma diretora de cinema para cada país da Copa 2018 — GRUPO H

Colômbia, Japão, Polônia e Senegal.

Lígia Maciel Ferraz
News From Home
5 min readJun 19, 2018

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Já que a atenção de todos anda voltada para os 32 países participantes da Copa do Mundo de 2018, aproveito o hype para falar de 32 cineastas do cinema mundial.

Serão oito textos no total, um por dia, apresentando quatro diretoras de cinema dos quatro países de cada chave da fase de grupos.

GRUPO H

Colômbia

Ana Maria Hermida

Ana Maria Hermida nasceu em Bogotá, na Colômbia, e estudou na Escola Internacional de Cinema e Televisão, em Cuba, e na Escola de Artes Visuais em Nova York.

Cineasta independente, dirigiu, escreveu e produziu El Elefante Rojo (2009), sobre uma jovem prostituta que se apaixona pelo seu primeiro cliente. O curta foi sua tese de graduação e teve inspiração no livro Memórias de Minhas Putas Tristes, do também colombiano Gabriel García Márquez.

Em entrevista ao Mowies, a diretora diz que a ideia de The Firefly (2013), seu primeiro longa e disponível na Netflix, surgiu de sua obsessão pela possibilidade de contar uma história sobre um luto diferente e cheio de amor, após ela mesma ter vivido um processo obscuro e desolador depois da morte inesperada de seu irmão mais novo.

Ao IndieWire, em 2016, contou quais foram suas principais influências estéticas para criar o filme:

Colômbia, meu país. Estamos acostumados a ver coisas horríveis sobre ele, mas a Colômbia é realmente bonita. Eu queria mostrar isso. Villa De Leyva, por exemplo, é uma das minhas cidades coloniais favoritas, a três horas de Bogotá, a cidade em que nasci e cresci. (…) No que diz respeito aos cineastas que me inspiram, eu amo Jean-Luc Godard, Lucrecia Martel, Claudia Losa, Spike Jonze, Miranda July, para citar alguns.

Japão

Naomi Kawase

Naomi Kawase nasceu em Nara, Japão, e estudou na Escola de Artes Visuais em Osaka.

Seu cinema contemplativo com ares autobiográficos permeia entre a ficção e o documentário, e muitas vezes é inspirado pela paisagem rural da cidade onde cresceu e sua turbulenta história de abandono familiar.

Seu trabalho, geralmente filmado em locações e com atores amadores, reflete o íntimo em temas como a tradição, o luto e o vínculo familiar, como no caso de A Floresta dos Lamentos (2007), vencedor do prêmio do juri no Festival de Cannes, sobre uma a cuidadora de uma casa de repouso que leva um de seus pacientes para uma viagem onde os dois acabam se perdendo na floresta.

A série de curtas, Women's Tales, projeto patrocinado pela marca de roupas Miu Miu, celebra o cinema feito por mulheres desde 2011 e teve seu décimo primeiro curta dirigido por Naomi Kawase. Seed (2016), disponível no site da marca, acompanha uma garota entre a natureza de Nara e o caos de Tóquio e os encontros que ela tem pelo caminho.

Polônia

Malgorzata Szumowska

Malgorzata Szumowska nasceu na Cracóvia, na Polônia. Estudou história da arte na Universidade Jaguelônica antes de estudar na Escola Nacional de Cinema de Łódź.

Trabalha com temas que questionam o comportamento da sociedade atual, especialmente da polaca, como é o caso de W imie… (In the Name of) (2013), premiado no Festival de Berlim, onde aborda a homossexualidade na igreja católica na história de um padre gay na Polônia rural que reconhece que sua entrega ao sacerdócio foi uma fuga de sua própria sexualidade.

Em Twarz (Mug) (2018), um jovem da construção civil, após um terrível acidente, passa por um transplante de rosto o deixando irreconhecível. Para a diretora essa é uma metáfora interessante, um homem que perde sua identidade por ser rejeitado pela sociedade que não o reconhece mais.

Seu próximo filme é a primeira co-produção entre a Polônia e Marrocos. Se chama All Inclusive, é todo sobre mulheres e terá um elenco quase inteiramente feminino e não profissional.

Senegal

Safi Faye

Safi Faye nasceu em Dakar, no Senegal. Estudou na Escola de Cinema Louis Lumière, com doutorado em etnologia pela Universidade de Paris, e se dedicou a fazer filmes com foco na vida rural do Senegal.

Com Kaddu Beykat (1975), se tornou a primeira mulher subsaariana a fazer um filme comercial distribuído no exterior que, embora premiado, foi banido no seu próprio país.

Seu primeiro curta, onde também atua, foi La Passante (1972), feito a partir de suas experiências como mulher estrangeira em Paris, sobre uma mulher que caminha pela rua e observa as reações dos homens à sua volta.

Em Mossane (1996), seu último trabalho lançado, conta a história de uma garota de 14 anos desejada pelos homens de sua tribo, que se vê obrigada por sua mãe a se casar com o homem por quem foi prometida no dia do seu nascimento, mesmo estando apaixonada por outro rapaz.

Em 2010, quando foi homenageada na 32ª edição do Festival Internacional de Cinema Feminino, falou sobre a linha tênue entre documentário e ficção:

(…) Depois de ter completado Mossane , ainda não estou convencida de que fiz um filme de ficção, porque minha imaginação vem do que vivi, os valores que foram incutidos em mim, a educação que me foi dada. E acho que para um africano é muito difícil colocar um limite entre a ficção e o documentário.

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Lígia Maciel Ferraz
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Brasileira morando em Lisboa. Doutoranda em Media Artes