O que aprendi escrevendo diariamente por 108 dias

Resumão: o tempo dedicado e o medo da falha ainda são meus maiores inimigos.

Tales Gubes
Ninho de Escritores
5 min readDec 21, 2017

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Foto por Lum3n.com do Pexels.

Há 46 dias, escrevi uma reflexão de alguns aprendizados que estou desenvolvendo a partir da escrita diária. Esses aprendizados seguem comigo sem tirar nem por:

  • é necessário abrir tempo na agenda para poder criar;
  • nem sempre o resultado é o desejado;
  • nem sempre estou a fim de produzir;
  • estou mais confortável me chamando de escritor;
  • minha cabeça está mais limpa.

Hoje completei 108 dias escrevendo diariamente e achei pertinente parar e olhar para o processo mais uma vez.

A vontade de desistir não desaparece

Já passei a barreira dos 21 dias — o tempo que dizem ser o necessário para a formação de um novo hábito — pelo menos cinco vezes e ainda assim me peguei hoje pensando que nas férias estará tudo bem se eu não escrever e publicar diariamente. De fato estará, porque a única pessoa que verdadeiramente se importa se escrevo todos os dias ou não sou eu mesmo.

Escrever este texto me ajuda a burlar essa vontade porque me relembra os motivos pelos quais eu escrevo: para continuar praticando, para vencer meu hábito de desistir (que está comigo há mais de 30 anos, então que são meros 108 dias?), para provar que é possível na minha vida. Isso não quer dizer que eu vou conseguir escrever diariamente para sempre, mas lembrar dos princípios é bem importante.

É preciso dar tempo para a ideia surgir

Uma das preocupações mais comuns de quem me procura no Ninho de Escritores diz respeito às ideias. Há gente que tem ideia de menos, há gente que tem ideia demais. O meu trabalho é mostrar que, para um lado ou para o outro, trata-se de uma questão de afinar as coisas. Nem toda ideia está pronta para virar um produto incrível (e tudo bem) e qualquer ideia pode crescer e virar algo maravilhoso.

O segredo está no cultivo e no tempo. O cultivo é a vivência. Quanto mais estou em movimento pela vida, mais fácil para mim é gestar novas ideias e fazê-las crescer. Quanto mais me isolo nos lugares, nas conversas e nas influências com os quais estou acostumado, mais difícil fica trabalhar com novas ideias.

Cada ideia possui um tempo de maturação diferente. Às vezes sento para escrever sobre um tema e percebo que ele ainda não está desenvolvido o suficiente para virar um texto. Tudo bem. Muitas vezes, sento em frente à tela em branco e investigo minha mente em busca de algo que eu possa escrever. Esse pode ser um processo angustiante, em especial conforme os minutos passam e nenhuma palavra é digitada, mas ficar nessa zona de incerteza também é um treinamento valioso. Saber disso me ajuda a tolerar a angústia.

Preciso dedicar mais tempo para alcançar a qualidade máxima possível

A qualidade da minha produção é fruto direto do investimento que faço. Cultivo, escolha das palavras, edição, tudo isso leva tempo. Quando decido escrever todos os dias e encaixo essa rotina no meu dia a dia, às vezes produzo textos em duas horas, mas às vezes esse tempo de produção cai para trinta minutos.

Meu objetivo não é criar textos maravilhosos diariamente — se fosse, eu deveria separar muito mais horas todos os dias. Perceber isso é valioso porque me ajuda a fazer escolhas conscientes. Neste momento da vida, opto por não dedicar mais horas do que tenho dedicado e não desejo escrever menos do que tenho escrito. Eu colho os frutos do que planto.

Escrever bem está ficando mais fácil

Mesmo sem produzir maravilhas, a qualidade média do que escrevo está maior do que 108 dias atrás. Isso acontece porque preciso resolver problemas de escrita de novo e de novo. Embora seja um trabalho parecido, há uma infinidade de variações de horário, disposição, lugar, ideia etc.

O que me ajuda a escrever melhor é o fato de que estou autoanalisando minha produção o tempo inteiro. Sempre digo que sem fechamento, uma experiência é apenas uma experiência. Quando olho para meus textos e penso sobre como foi produzi-los e quão contente estou com o resultado, procuro o que deu certo, o que deu errado e como posso melhorar.

Títulos sedutores fazem muita diferença no alcance

Escrever e publicar é mais do que apenas escrever e publicar. A diferença de alcance entre um texto com título sedutor (Encontrei um jeito fácil de burlar a procrastinação) e um título autocentrado (Ichi-go ichi-e) é brutal. Isso tem a ver com cuidar do leitor em um mundo lotado de informações. Aqui no Medium, a quantidade de ofertas de textos todos os dias é surreal. Quem já me conhece e acompanha meu trabalho talvez até clique nos meus títulos mais herméticos, mas facilitar a sedução é um favor que faço à possibilidade de conexão entre texto e leitor.

Eu tenho algo incrível para oferecer ao mundo, então é meu dever garantir que isso chegue às pessoas.

Meu medo é o limite

Diariamente eu consulto quantas vezes meus textos foram lidos no dia anterior. É um vício, porque eu não tenho escrito para bombar. Aqui, essa frase, que eu apaguei e recuperei com um ctrl+z. Tudo o que eu tenho descoberto sobre qualidade média, qualidade máxima e divulgação cai nesse lugar do medo e do resultado.

Tenho repetido pra mim que meu objetivo é apenas escrever todos os dias sem me preocupar com o resultado disso. Isso é uma mentira, o resultado me interessa e me preocupa sobremaneira. Contudo, de alguma forma esse mantra da mediocridade me protege da frustração de tentar e falhar. Se um texto não for muito lido, “tudo bem, era só um exercício”. A pergunta que nunca fica respondida nessa brincadeira é: será que sou capaz de produzir textos que sejam bem lidos?

Neste instante tenho a oportunidade de firmar um compromisso (comigo mesmo e também com você, que me lê) de trabalhar este aspecto e estou já tremendo de medo. Literalmente. Inclusive, havia parado no literalmente e seguido adiante com o texto para não precisar pensar mais nisso. O nível da minha capacidade de autossabotagem é estratosférico.

O sucesso na escrita não tem a ver apenas com a escrita

Voltei a escrever em 2013 quando comparei o meu trabalho com um texto mal escrito que havia sido publicado por uma editora. Se ele conseguia, eu também poderia conseguir. De lá pra cá, algo ficou muito claro nesse processo de escrever e publicar: o sucesso na escrita não é apenas qualidade literária. Se não for lido, o texto mais profundo do mundo é apenas um grito na floresta vazia.

Apenas escrever e apertar o botão publicar não é o bastante.

Nestes 108 dias, meus textos que mais movimentaram as pessoas tiveram títulos sedutores, boas imagens, foram publicados em redes sociais e, quando possível, em publicações aqui no Medium. Quando eles recebem links de outros textos (meus e de outrem), melhor ainda. Do contrário, rapidamente eles se apagam no mar da produção diária mundial.

Se eu quero alcançar as pessoas com meus textos, preciso fazer mais do que só escrever.

Um compromisso para os próximos 108 dias

Vou me esforçar para que meus textos alcancem cada vez mais pessoas e esse esforço irá além de apenas escrever bons textos. Num futuro próximo estarei aqui contando meus novos aprendizados.

E a vida segue! ❤

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.